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Os últimos da espécie: tocador de realejo

João Patrício participa de eventos como casamentos e festas coorporativas com o seu realejo

Por Felipe Zylbersztajn
Atualizado em 5 dez 2016, 16h39 - Publicado em 8 nov 2012, 20h38

Quando João Patrício percebe uma criança de olho no periquito dentro da gaiola amarela, começa logo a girar a manivela do instrumento para chamar a atenção dos pais. O som do realejo é inconfundível. Há os que pedem para tirar foto, os que dizem aos filhos que o moço está maltratando o animal e aqueles que sacam uma moeda do bolso. “Alguns pensam que estamos pedindo esmola”, diz ele, ajeitando a boina que protege seus olhos do sol forte. Para tirar a sorte de alguém, João cobra R$ 2,00. O tocador de realejo tem 48 anos e está há trinta no ramo. Sabe como conquistar a clientela. Após descobrir o nome do interessado, pede à pessoa que tente adivinhar a idade da caixa musical que carrega. E é aí que João começa a ganhar os clientes. “É um instrumento italiano, muito antigo mesmo. Tem 120 anos”, garante. Os olhos das crianças brilham. “Quer que a Xuxa tire a sorte para você?”, pergunta. Em seguida, abre a portinhola e puxa uma gaveta cheia de papéis dobrados. A ave bota o corpo para fora e escolhe um deles. Nas mensagens estão frases como “A tua situação será elevada pelo teu mérito a um estado honorífico”, “O teu talento far-te-á conseguir tudo” e “Aprende a ser feliz em um honesto viver”.

O bisavô de João trabalhava com essas máquinas no Viaduto do Chá no começo do século passado. A coisa foi passando de geração a geração. Uma tia, Sílvia Bloise, comanda os parentes envolvidos atualmente no negócio. Além de João, outros cinco familiares saem às ruas com os realejos. Aos sábados, eles fazem o roteiro dos restaurantes. Aos domingos, o das feiras: Masp, Liberdade, República e Bixiga. “Também vamos a eventos como aniversário, casamento, festa junina e até gravação de novela”, relata ele. São necessários cinco anos para preparar um periquito, segundo o tocador. “O primeiro passo é treiná-lo para que ele vá conhecendo sua voz”, diz João. “Na fase final, é preciso ir a uma avenida movimentada ou a uma feira para o bicho se acostumar com o barulho do pessoal. Quando você perceber que ele não voa mais dentro da gaiola, está pronto.” E os tais bilhetes tirados pelas aves, realmente funcionam? “Certa vez, um cliente do bairro de Santana ganhou R$ 86.000,00 com o número que o periquito tirou”, garante ele. ”Acerta porque o bichinho é a natureza, né?”, teoriza.

Realejo Eventos. Tel.: 2726-6457 (com Sílvia Bloise)

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