Continua após publicidade

Tribunal de Justiça terá sede em terreno reservado para moradia popular

Projeto bilionário será construído no centro da capital

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 14 fev 2020, 15h57 - Publicado em 1 out 2019, 14h39
Tribunal de Justiça de São Paulo.
Palácio da Justiça, na Praça da Sé, atual sede do TJ (Ciete Silvério/Folhapress/Reprodução)
Continua após publicidade

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) pretende construir uma nova sede no centro da capital paulista em um terreno que estava reservado para a criação de moradias populares. A obra, estimada em 1,2 bilhão de reais, obteve licença da Prefeitura para ser instalada na área. A empresa que intermediou a autorização municipal foi contratada pelo TJ SP no ano passado, sem licitação, para atualizar um projeto feito há 14 anos.

O projeto da nova sede prevê duas torres, heliponto e 584 gabinetes de 70 m², com 1 282 vagas para carros, em um terreno de 118 000 metros quadrados na Rua Conde de Sardezas, ao lado do Fórum João Mendes. Trata-se um projeto antigo do tribunal. O terreno foi desapropriado entre 1975 e 1983. Desde então, segundo o TJ, já se gastaram 141 milhões de reais, em valores atualizados, com estudos, licenças e pagamento de outorga onerosa à cidade.

A proposta está na fase de licitação do projeto executivo – planejamento que contém todos os detalhes necessários para a execução da obra -, que deveria ter sido concluído em 3 de setembro. Mas o processo foi suspenso pelo presidente do TJ, desembargador Manoel Pereira Calças, após questionamentos feitos pela desembargadora Maria Lúcia Pezzotti ao Órgão Especial do tribunal. A previsão é de que ele seja retomado nos próximos dias. Apenas essa licitação tem estimativa de custo de mais 25,3 milhões de reais.

Terreno

O terreno, hoje, é usado como estacionamento. Ele foi definido em 2014 pelo Plano Diretor de São Paulo como Zona Especial de Interesse Social (Zeis), o que o reservava para a construção de casas populares. Mas a Prefeitura concordou com a obra e informou, em nota, ter considerado que ela seria para a construção de um equipamento de “infraestrutura urbana”, o que seria permitido.

A licença foi obtida pelo escritório Botti Rubin Arquitetos. O contrato com o escritório foi assinado por Calças e previa a atualização de um anteprojeto (que antecede o projeto executivo) feito em 2005 e a obtenção das licenças. Ele foi assinado em agosto do ano passado, por 1,3 milhão de reais.

Continua após a publicidade

A escolha do escritório pela Prefeitura, sem licitação, se deu sob argumento de “inexigibilidade” (quando outro concorrente não pode fazer o serviço). Em fevereiro, o contrato recebeu um aditivo de 212 milhões de reais para que o escritório emitisse as licenças ambientais.

A desembargadora Maria Lúcia afirmou que, desde a suspensão, reuniu mais informações sobre a obra, incluindo destinação do terreno a moradias populares e o contrato sem licitação. As informações e os argumentos que justificam essas escolhas devem ser incluídos em nova impugnação que ela deve apresentar ainda nesta semana ao Órgão Especial. “Pretendo questionar o mérito da obra em nova impugnação”, disse a desembargadora. Segundo ela, não caberia ao TJ-SP construir uma sede desse tamanho, por esse preço, ainda mais considerando que, com a digitalização de processos, não seria preciso tanto espaço físico a mais.

Desde 2016, todas as novas ações só são aceitas por meio do Sistema de Automação da Justiça (SAJ). Em março de 2018, mais de 40% dos processos em andamento já eram digitais. Além disso, o tribunal instituiu o julgamento virtual, inclusive nos processos que não são digitais, e julgamentos só são presenciais caso as partes peçam.

Continua após a publicidade

Tribunal

O TJ-SP não comentou o fato de o terreno pretendido ser uma área de interesse social. Por nota, informou que “não pode se manifestar sobre o projeto de construção das torres porque a questão será analisada pelo Órgão Especial”. Entretanto, disse que o escritório de advocacia foi contratado “por conta da necessidade de atualizar (o projeto original) as alterações legislativas ocorridas após sua elaboração”. Segundo o TJ SP, o escritório não havia cedido os direitos do autor quando entregou o projeto, em 2005, o que impediria que outra empresa o atualizasse.

A reportagem tentou contato com o arquiteto Alberto Botti, mas não o localizou. Segundo o advogado Jacintho Câmara, professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da PUC SP e da FGV, questões de direito autoral podem impedir que um novo escritório seja contratado para alterar projetos existentes.

Já a Prefeitura informou, também por nota, que liberou a obra com base em decreto de 2016 que autoriza prédios públicos nas áreas de Zeis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.