Número de imóveis construídos supera em quatro vezes o de novos habitantes
Censo indica que nos últimos 12 anos indica que capital recebeu 197 742 novos moradores; quantidade de habitações erguidas foi de 1 060 850
Os primeiros resultados do Censo de 2022 escancararam ainda mais a incoerência habitacional na cidade de São Paulo. Apesar da população ter crescido 1,76% nos últimos doze anos (197 742 pessoas a mais), foram construídas 1 060 850 de casas e apartamentos, num incremento de 26,95% (passou de 3 935 645 para 4 996 495). Ao mesmo tempo, a quantidade de imóveis vazios mais que dobrou, passando de 293 621 para 588 978 no período. “É um paradoxo”, afirma o sociólogo Jefferson Mariano, 57, analista socioeconômico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão responsável pelo Censo. “É uma contradição e o elemento central nessa contradição é que se trabalha pouco a questão do acesso aos imóveis e à moradia”, afirma o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, do Instituto das Cidades das Unifesp.
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No caso da pequena evolução demográfica, fatores como a queda da taxa de fecundidade já observada em outros estudos, a disseminação de métodos anticoncepcionais e até a epidemia de zika vírus entre 2015 e 2016, além da pandemia de Covid-19, podem ser a resposta. “Temos ainda uma tendência de desconcentração (de moradores) da capital e o crescimento de polos regionais”, diz Mariano.
Além dos fatores já conhecidos, como formação de novas famílias e crescimento da quantidade de pessoas morando sozinhas no chamado domicílio unipessoal, a forte evolução imobiliária pode ter um elemento que ainda carece de estudos mas que já é perceptível no mercado, o de aquisição de imóveis para investimento ou mesmo para constituir patrimônio.
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O dado que mais chama a atenção dos especialistas é em relação aos imóveis vazios, sobretudo numa cidade com quase 32 000 pessoas vivendo nas ruas, segundo os dados oficiais (não oficiais falam em 60 000), e com déficit de 400 000 moradias. Segundo o Censo, não somente a quantidade absoluta de imóveis vazios aumentou, mas também houve evolução em relação ao total existente (saltou de 7,46% do total para 11,78%). “É preciso lembrar que muitas pessoas se mudaram durante a pandemia para o interior e litoral e mantiveram seus patrimônios na capital como segunda residência”, diz Nakano.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de julho de 2023, edição nº 2850