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Três bebês por hora: histórias do Santa Joana, que abre nova maternidade

Com a inauguração da marca Santa Maria, o grupo planeja alcançar 31 000 partos por ano

Por Ana Carolina Soares, Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 11 Maio 2018, 06h00

As 19h20 do último dia 26 marcarão para sempre a história do casal Vanessa, cirurgiã-dentista, e Luiz Fernando Feliciano, analista de sistemas, ambos de 29 anos. Exatamente nesse horário veio ao mundo Yanne, uma menina de 2,7 quilos e 49 centímetros. “Fique calma, você é linda e muito amada”, disse a mãe de primeira viagem ao bebê, enquanto recebia beijos do marido. Um grupo aguardava ansioso, de celular em punho, a abertura da cortina da sala de cirurgia número 6 no Hospital e Maternidade Santa Joana, no Paraíso. Yanne apareceu no colo de Luiz, e a turma reagiu com gritos dignos de final de Copa do Mundo.

Aquele compromisso aparecia na agenda de todos havia meses: o casal marcou a operação para o dia do aniversário de quatro anos de casamento. Neste domingo (13), em sua casa, em Carapicuíba, na região metropolitana, Vanessa celebrará seu primeiro Dia das Mães. “Tenho o melhor presente da minha vida nos meus braços”, derrete-se.

O quarto para parto normal do Santa Maria (Antonio Milena/Veja SP)

A cada hora, em média três histórias como a de Yanne têm início nas unidades do grupo Santa Joana, em São Paulo. Na capital, o conglomerado é dono da maternidade homônima, que realiza cerca de 1 300 partos por mês, e da Pro Matre, na Bela Vista, que registra 1 000 nascimentos no mesmo período. Faz parte ainda do negócio a Perinatal, no Rio, também com 1 000 procedimentos do tipo mensalmente.

O grupo merece o título de maior “aeroporto de cegonhas” do país. Os números superam o patamar do Sofia Feldman, organização pública em Belo Horizonte, com média de 11 000 partos por ano. Aqui na cidade, o ranking segue com o Hospital São Luiz, no Itaim (com 8 554 nascimentos em 2017), e o público Vila Nova Cachoeirinha (com 7 273 no mesmo ano).

Na quinta (10), estava programada para nascer a Santa Maria, a “caçula” da instituição. A nova bandeira, instalada na Rua Leôncio de Carvalho, 233, no Paraíso, surge quase na véspera do Dia das Mães. O prédio, de dez andares e 10 000 metros quadrados, contará com aproximadamente 1 000 funcionários e abrigará 136 leitos (94 em apartamentos, 32 na UTI neonatal, seis destinados à recuperação pós-anestésica e quatro para atender casos graves em adultos).

No endereço, devem vir ao mundo cerca de 300 paulistanos por mês. O projeto, iniciado há dois anos, consumiu 150 milhões de reais. Com a novidade, o grupo — que tem crescido em média 8% ao ano e arrecadou 700 milhões em 2017 — pretende alcançar um faturamento de 1 bilhão de reais em 2018. “Vamos oferecer uma estrutura voltada para as classes C e D”, explica Marco Antônio Zaccarelli, diretor comercial da instituição.

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Zaccarelli: projeção de 1 bilhão de reais de faturamento neste ano (Antonio Milena/Veja SP)

A nova maternidade aceitará diversos planos de saúde e o parto ali custará 8 900 reais, 14% menos em relação ao valor cobrado pelo Santa Joana e 29% menos em relação ao que é pedido pela Pro Matre, esta dirigida à classe A (aliás, ponto queridinho de celebridades, como a apresentadora Eliana, a atriz Gabriela Duarte e a família do rei Roberto Carlos).

Segundo a direção, a tecnologia e a qualidade do atendimento serão mantidas; o que vai baratear as contas é a hotelaria. Apenas quatro quartos permanecerão individuais. Na maioria dos casos, cada cômodo será dividido por duas mães.

No local, chamam atenção as quatro salas dedicadas ao parto normal, equipadas com banheira de hidromassagem e iluminação que simula um céu estrelado. “Pelos benefícios para a mãe e o bebê, estimulamos os nascimentos naturais”, diz Zaccarelli. Atualmente, entretanto, apenas 32% dos procedimentos ocorridos ali são normais, estatística comum às maternidades privadas no país (no caso das públicas, esse número salta para cerca de 70%).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil exibe a reprovável segunda maior taxa de cesarianas do mundo, ficando atrás apenas da República Dominicana. Na Europa, o índice gira em torno de 25%. Em 2014, o Santa Joana criou um projeto que oferece treinamentos relacionados ao tema a profissionais da saúde e consultas a pais. Desde então, houve um aumento de 60% nos partos normais por lá.

Pela especialização nos nascimentos, o conglomerado virou referência nacional na área e atrai casos de risco. Os 140 leitos da UTI neonatal do Santa Joana costumam ficar lotados, a maioria ocupada por prematuros ou por crianças com problemas cardíacos, respiratórios e icterícia.

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O dia a dia da maternidade apresenta histórias impressionantes de sobreviventes. Em 2011, a dentista Karen Wiering, 40, recebeu de um médico de outro local a recomendação de abortar. Seu bebê, Miguel, sofria de mielomeningocele, doença congênita que afeta a espinha dorsal e que possivelmente causaria problemas motores e neurológicos na criança. Ela não aceitou a condenação e procurou o ginecologista e obstetra Antônio Fernandes Moron, coordenador do departamento de cirurgia fetal do Santa Joana.

O ginecologista e obstetra Antônio Moron (Antonio Milena/Veja SP)

Em maio daquele ano, tornou-se a segunda grávida no país a submeter-se a um procedimento chamado de “cirurgia a céu aberto”. Em duas horas e meia, a equipe retira o útero da gestante (normalmente no sétimo mês de gravidez), abre nele uma fenda, opera o feto, costura a abertura e recoloca o órgão no ventre materno para o término da gestação.

Trata-se de um método de alto risco que chegou ao Brasil por iniciativa do próprio Moron. Até agora, houve 240 cirurgias do tipo, com três mortes. Miguel não apenas sobreviveu, como leva uma infância normal (veja mais sobre a história abaixo).

Enquanto a taxa de mortalidade no Brasil é de 13,8 para cada 1 000 nascidos vivos, no empreendimento o número despenca para 3,68. O que não significa que o lugar seja à prova de erros. Na plataforma Reclame Aqui, a Pro Matre recebe a avaliação “ótima” e o Santa Joana, “regular”, com base em fatores como número de reclamações (83, no último ano) e índice de solução dos problemas.

Há casos como o de Mariana, hoje com 10 meses, filha de Fabio Pedro, 44, e Mônica Huang, 39. Duas horas antes da alta, os pais receberam a notícia de que a pequena havia quebrado a clavícula. “Disseram que era um acidente normal”, critica Pedro. “Não houve nenhuma sensibilidade e faltaram explicações.” Felizmente, a menina não teve sequelas. A direção afirma que busca minimizar o número de ocorrências como essa ao submeter os mais de 4 000 funcionários a capacitações.

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Há quatro anos, o grupo abriu um centro de treinamento no Paraíso e, desde então, 3 000 profissionais passaram por lá. O lugar parece cenário de ficção científica: quatro robôs, importados da Noruega por valores entre 50 000 e 200 000 reais, simulam uma mãe, um feto, um bebê e um prematuro. Além de aulas ligadas a técnicas médicas, a empresa promove práticas comportamentais. O próximo curso, realizado até o fim do ano, pretende exercitar a empatia dos funcionários.

“Ao contrário de outros lugares, que lidam com os mais variados públicos e doenças, sempre focamos a maternidade”, explica Zaccarelli.

O Santa Joana, que completa sete décadas de atividade em agosto, foi criado pelo médico Eduardo Amaro, morto em 1997, aos 84 anos, em decorrência de um AVC. Sua mãe, Joana Amaro, vendeu uma fazenda da família para financiar o projeto do filho e inspirou o nome da instituição. Hoje, netos de Joana gerenciam o negócio: o anestesista Antonio Amaro, 67, e o neonatologista Eduardo Amaro, 65. Em 2000, a dupla comprou a Pro Matre, fundada em 1936. A denominação da nova bandeira, Santa Maria, é uma homenagem à avó materna dos irmãos.

O surgimento de uma maternidade segue na contramão do mercado. Na última década, vinte estabelecimentos particulares especializados baixaram as portas. Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, houve uma redução de 16% no número de leitos obstétricos entre 2007 e 2017. No SUS, essa queda foi ainda maior, 19%. Hoje, a cidade conta com 2 382 leitos para partos (1 333 instalações públicas e 1 049 privadas). A crise econômica se mostra um dos motivos das baixas.

“O custo de um parto é bem inferior se comparado ao de um tratamento oncológico ou de uma cirurgia complexa, que podem ultrapassar os 100 000 reais”, afirma Bruno Sobral, consultor da Federação Brasileira de Hospitais (FBH). Além disso, tivemos um “tombo” na taxa de natalidade. A média de filhos por casal na cidade caiu de 3,8, na década de 70, para 1,8, atualmente. “Trata-se da lei da oferta e da demanda”, analisa Luiz Fernando Ferrari, diretor da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp).

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Sonho planejado

Parto de Yanne no Hospital Santa Joana (Leo Martins)

Como 70% das paulistanas que procuram uma clínica particular, a dentista Vanessa Feliciano optou pela cesariana, agendada para o último dia 26, às 15 horas. Assim, programou aspectos práticos, como a licença-maternidade. No momento de executar o plano, porém, apareceram imprevistos: ela e o marido, Luiz Fernando, levaram uma hora e meia no trânsito de sua casa, em Carapicuíba, na região metropolitana, até o Santa Joana, no Paraíso, e a obstetra atrasou-se quase duas horas. Houve ainda tensão na primeira mamada. Vanessa não sabia que precisaria estimular a filha a sugar. “Ela só queria dormir, fiquei ansiosa”, lembra. No fim, tudo deu certo. “O parto foi algo além da felicidade.”

Pequena guerreira

Daniella e sua família: superação (Antonio Milena/Veja SP)

A biomédica Daniella Bucci (que aparece na foto com o marido, o engenheiro Fernando) era resistente a ter um segundo filho. Augusto, 7, nasceu prematuro, e a mãe queria evitar um novo trauma. Ela, porém, resolveu encarar o desafio, e a segunda gestação, em 2014, correu tranquila até o sexto mês, quando Daniella descobriu, em um ultrassom de rotina, que a filha estaria sem circulação sanguínea no cordão umbilical. Foi levada na hora à Pro Matre, para o nascimento da pequena, que veio à luz com apenas 345 gramas — o menor bebê que o centro médico já recebeu e que sobreviveu. A menina ainda não tinha desenvolvido totalmente órgãos como as orelhas e a pele. Passou dez meses na UTI, aos cuidados do pediatra Allan Chiaratti, enfrentando diversos desafios, entre eles quatro cirurgias delicadas. Agora com 4 anos, a pequena tem vida normal e adora brincar com o irmão mais velho.

Coma de três meses

Amanda: coma por três meses (Marcelo Justo/Veja SP)

Quando estava com 32 semanas de gestação de Bruna, hoje com 9 anos, a secretária Amanda Viola, 42, sentiu uma dor forte e foi informada de que havia um líquido desconhecido em seu útero. “Os médicos tinham menos de um minuto e meio para tirar a Bruna da minha barriga”, lembra. O procedimento foi realizado a tempo, mas diagnosticou-se uma ruptura no fígado da mãe. Com complicações posteriores, Amanda ficou três meses em coma no Santa Joana. “Quando acordei, não tinha noção de que minha filha estava com 3 meses”, conta. “Aos poucos e em recuperação, aprendi a ser mãe.”

Batalha vencida

Karen Wiering e o filho, Miguel (Marcelo Justo/Veja SP)

Era Dia das Mães quando a dentista Karen Wiering se deitou na mesa de operação. Em 2011, estava a três meses do fim da gestação quando soube que seu bebê tinha uma má-formação na coluna vertebral chamada de mielomeningocele, que poderia trazer problemas como hidrocefalia e perda de movimentos. Enfrentou uma então nova e delicada cirurgia no Santa Joana. Miguel nasceu em julho daquele ano e logo iniciou fisioterapia. O pequeno começou a andar um pouco mais tarde que as outras crianças e tinha dificuldade de equilíbrio. Hoje, aos 6 anos, o corintiano faz aulas de futebol na quadra do prédio, mesmo sabendo que não consegue correr tanto quanto os outros. “Ele não se importa e se mete mesmo com a garotada, é perseverante demais”, comemora a mãe.

O susto de uma internação

Priscilla Lee: susto com o filho recém-nascido (Leo Martins/Veja SP)

A analista de comunicação Priscilla Lee, 33, adiou por oito anos o sonho de ser mãe para cuidar da saúde. Enfrentou cirurgias de rim, joelho e útero até engravidar de Miguel. O primogênito da união com o marido, Thiago Lee, nasceu no último dia 17, mas foi internado na UTI por causa de uma icterícia aguda. “Levei um susto”, diz Priscilla. Ela ficou quase quinze horas diárias ao lado do menino durante uma semana. Não gostava de voltar para casa e ver o berço vazio. Felizmente, o pequeno teve alta e passa bem.

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O transe do normal

Bianca: parto normal (Leo Martins/Veja SP)

O engenheiro Fabio Assumpção, 33, ouviu do corredor os gritos da mulher, a advogada Bianca, 32, durante o trabalho de parto normal (minoria entre os nascimentos), que durou cinco horas. “Foi um transe, mas passaria por aquele momento mil vezes”, lembra ela. Após o nascimento, no último dia 22, no Santa Joana, Leonardo, que pesava 3,2 quilos, apresentou leve icterícia, devido a uma alteração sanguínea, e passou 24 horas em banho de luz.

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