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Sala São Paulo faz comemoração com espetáculo de gala

Depois de uma década de atividades, Yan Pascal substituirá John Neschling

Por Pedro Ivo Dubra
Atualizado em 5 dez 2016, 19h32 - Publicado em 18 set 2009, 20h26

Em 9 de julho de 1999, a Orquestra Sinfônica do Estado e o maestro John Neschling faziam soar no antigo hall social da estação de trens Júlio Prestes a potente Segunda Sinfonia – Ressurreição, de Mahler. Era a largada da Sala São Paulo, cuja primeira década de bons serviços prestados à música de concerto ganha comemoração na quinta (9), com uma apresentação de gala. Subirá ao púlpito o francês Yan Pascal Tortelier, eleito para o posto de regente principal da Osesp após a demissão de Neschling, em janeiro. A pianista portuguesa Maria João Pires e a soprano americana Laura Claycomb são as convidadas. No repertório, Poulenc (Gloria), Mozart (Concerto Nº 20 para Piano K. 466), Villa-Lobos (Bachianas Brasileiras Nº 5) e Stravinsky (suíte O Pássaro de Fogo), além do Hino Nacional Brasileiro.

Muitos dos que se acostumaram a frequentar a sala situada no bairro da Luz já têm dificuldade em recordar como era a cena musical erudita paulistana antes de sua inauguração. Até então, as apresentações eram feitas nos teatros Municipal, São Pedro e Cultura Artística, destruído por um incêndio em agosto, e no inadequado auditório do Memorial da América Latina. “O Brasil só contava com teatros de ópera, com fosso para a orquestra acompanhar os cantores”, lembra o jornalista especializado Irineu Franco Perpetuo. “Esse é o primeiro hall sinfônico do país.”

A ressurreição sugerida pelo título da sinfonia de Mahler começou um pouco antes da abertura da Sala São Paulo. Após a morte do respeitado regente Eleazar de Carvalho, em 1996, o maestro John Neschling foi escolhido para sucedê-lo. Ele conseguiu do então secretário da Cultura, Marcos Mendonça, e do governador Mario Covas (1930-2001) algumas garantias. Queria ter uma sede para o grupo e autonomia para selecionar os instrumentistas, com salários bem mais altos do que os pagos até então. Mesmo antes da casa fixa, a melhora do nível já se fazia sentir em espetáculos realizados no Teatro São Pedro, na Barra Funda. Na busca por uma nova instalação, o hall da estação Júlio Prestes, na vizinhança da degradada região da Cracolândia, oferecia o apropriado formato de caixa de sapatos existente, por exemplo, no Concertgebouw, de Amsterdã, considerado um dos melhores espaços de música clássica do mundo. Com o sucesso da Osesp, o número de assinaturas explodiu de 2 388 em 2000 para 11 626 em 2009.

Apesar da nítida simbiose entre orquestra e palco, nem só de concertos da Sinfônica do Estado vive a sala. Grandes regentes, grupos e solistas passaram por ali (veja o quadro abaixo). O maestro finlandês Osmo Vänskä, diretor da Orquestra de Minnesota, nos Estados Unidos, entusiasmou-se com o ambiente ao reger a Osesp três anos atrás. “Além de ser um lugar bonito, o som é redondo, quente e brilhante”, diz. “A sala entrou no cotidiano da cidade”, afirma o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente do conselho de administração da Fundação Osesp. “Hoje, acaba sendo procurada para outras finalidades, como festas de casamento.”

Planejado em 1925 pelo arquiteto Cristiano Stockler das Neves (1889-1982), o prédio de estilo Luís XVI só seria inaugurado em 1938, quando a Casa Modernista de Gregori Warchavchik (1896-1972) já estava de pé havia dez anos. O escritor Oswald de Andrade (1890-1954) chegou a caçoar de seu jeitão ultrapassado, tachando-o de “Lulu XVI”. “Ao fazer o projeto, incorporei a arquitetura do Cristiano, que tinha um desenho muito limpo e bonito”, conta o arquiteto Nelson Dupré, responsável pelo restauro e readequação do espaço. “A sala é nova, mas ao mesmo tempo ficou parecendo mais antiga. Conquistou-se uma dimensão atemporal, como a própria música clássica.” Soterradas as querelas estéticas do passado, hoje é orgulho de paulistanos e turistas. “Aos sábados, chegamos a advertir vinte espectadores que tentam tirar fotografias, o que é proibido”, diz a funcionária Maria Mishiuchi, na Sala São Paulo desde sua inauguração, e que vai ouvir Mozart, o seu compositor favorito, mais uma vez na quinta.

Concerto Comemorativo dos Dez Anos da Sala São Paulo. Sala São Paulo (1 484 lugares). Praça Júlio Prestes, 16, Luz, 3223-3966, Metrô Luz. Quinta (9), 21h. R$ 140,00. Bilheteria: 10h/18h (seg. a qua.); a partir das 10h (qui..). Cc.: todos. IR. Estac. (R$ 8,00).

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POR DENTRO DA SALA SÃO PAULO

Inauguração

9 de julho de 1999 (obras iniciadas em novembro de 1997)

Investimento

45 milhões de reais

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Público desde a estreia

2 milhões de pessoas

Lugares

1 484

Área

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950 metros quadrados

Pé-direito

24 metros

Tamanho do palco

320 metros quadrados (capacidade para até 140 músicos)

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Vagas no estacionamento

610

Cafezinhos vendidos por récita

200

Balinhas oferecidas pela Osesp antes dos concertos para tentar evitar a tosse da plateia

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290

ALGUMAS DAS PRINCIPAIS ATRAÇÕES DE UMA DÉCADA

Orquestras

Filarmônica de Viena

Filarmônica de Israel

Filarmônica de Nova York

Sinfônica de Chicago

West-Eastern Divan

Staatskapelle de Berlim

Regentes

Daniel Barenboim

Lorin Maazel

Riccardo Muti

Kurt Masur

Neeme Järvi

Zubin Mehta

Solistas

Nelson Freire (piano)

Antonio Meneses (violoncelo)

Martha Argerich (piano)

Yo-Yo Ma (violoncelo)

Barbara Hendricks (soprano)

Thomas Hampson (barítono)

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