Paulista ganha novas lojas, mas sofre com aumento de furtos
Após perder parte do perfil de centro financeiro, avenida volta a dar sinais de vitalidade graças a mais uma safra de investimentos
Em mais de um século de história, a Avenida Paulista passou por diferentes fases. No início, era o endereço preferido de prósperos comerciantes, fazendeiros e industriais, residentes dos amplos casarões construídos ao longo dos seus 2.800 metros de extensão. Bem mais tarde, a partir dos anos 60, conforme as mansões se transformaram em prédios, a via se converteu em um novo centro financeiro e empresarial da metrópole. Nos últimos tempos, porém, outros polos imobiliários da capital, como as avenidas Luís Carlos Berrini e Faria Lima, roubaram uma parte desse seu perfil. Esse é um dos motivos pelos quais a Paulista passou a sofrer com a má conservação das calçadas, a sujeira e os vendedores ambulantes. Agora, ela volta a dar sinais de vitalidade.+ Roubo de caixas eletrônicos instaura pânico entre clientes e lojistas+ Câmeras voltadas para as calçadas e vigias beneficiam vizinhança+ Xaveco Virtual: nossa ferramenta para paquerar no Twitter
Graças a mais uma safra de investimentos, ocorre por ali um renascimento comercial, puxado pela chegada de lojas de grandes magazines. Em maio do ano passado, por exemplo, a rede gaúcha Renner inaugurou uma vistosa unidade próxima à esquina da Rua Pamplona, com mais de 3.000 metros quadrados e dois andares, no ponto onde antes funcionava o malfadado Stand Center, galeria repleta de produtos piratas. No mesmo mês, a Marisa fixou-se perto do Metrô Brigadeiro.+ Roubo e furto de carros no primeiro trimestre crescem 5%+ Diminui o número de assassinatos, mas cresce o de roubos
O retorno financeiro foi tão bom que, um ano depois, a empresa abriu mais uma filial por ali, dessa vez na esquina com a Rua Peixoto Gomide. “Ter um segundo endereço não reduziu em nada o movimento do primeiro, tamanho o potencial de negócios dessa área”, afirma Ricardo Ribeiro, diretor de expansão da companhia. A Camisaria Colombo seguiu a mesma estratégia e instalou sua segunda unidade na via. De linha um pouco mais sofisticada, a grife de moda masculina Brooksfield faz parte também do grupo que fincou nos últimos meses sua bandeira no pedaço.
Mario Rodrigues
Uma das cabines da PM: medida para reforçar a segurança da região
O movimento trazido por esses empreendimentos contribuiu para provocar um efeito colateral. De acordo com estatísticas da Secretaria de Segurança Pública, o total de furtos ocorridos na Paulista e em seus arredores quase dobrou desde o início do ano. Em junho, mês em que foram colhidos os últimos dados disponíveis, registraram-se 1.512 ocorrências. O número vai na direção contrária de uma série de levantamentos que mostram uma queda da criminalidade na capital (veja o quadro). “A Paulista vive o paradoxo de contar com consumidores com renda média maior que a dos frequentadores de shopping centers e dispor de movimento mais intenso que os grandes centros de compras, mas sem o mesmo nível de segurança”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular.A ESCALADA DE FURTOS NA REGIÃO Em número de ocorrências
Segundo um trabalho recente da empresa realizado com 400 entrevistados, 60% dos que circulam pela avenida são consumidores emergentes. A maioria (76%) possui cartão de crédito, uma média de 1.700 reais de limite em conta-corrente e muito desejo de gastar — 41% responderam que pretendiam comprar algo nas lojas localizadas ali nos trinta dias seguintes. Hoje, 69% dos que passam pela Paulista têm carteira de trabalho assinada. “São pessoas com poder aquisitivo crescente e bom crediário”, aponta Meirelles. “Isso invariavelmente atrai mais ladrões.” Outro fenômeno constatado é o avanço da presença feminina, que corresponde atualmente a 60% do público que por lá trabalha ou transita.
Mario Rodrigues
Patrulha de soldados nas proximidades do Parque Trianon: segurança reforçada para tentar reduzir as ocorrências
Servida por três estações de metrô e quase cinquenta linhas de ônibus, a Avenida Paulista é passagem obrigatória de 1,5 milhão de pessoas todos os dias. No 78º Distrito, a principal delegacia da região, são comuns registros de casos em que os bandidos aproveitam o vaivém da multidão e levam celulares, equipamentos eletrônicos como notebooks, bolsas e carteiras. Para conter a escalada dos números, a PM reforçou o patrulhamento, com cerca de quarenta homens percorrendo a avenida a pé, de moto ou de bicicleta. Em frente ao Parque Trianon, uma base comunitária centraliza a operação. Até a presença policial conseguir intimidar os criminosos, as compras na avenida devem ser feitas com um olho na vitrine e outro nos pertences.MUITO ALÉM DOS ENGRAVATADOSQuem são as pessoas que passam pela via
60% são mulheres65% já fizeram compra na avenida73% têm até 35 anos76% têm cartão de crédito1,5 milhão circulam por ali todos os dias1 678 reais é o valor médio em conta-corrente