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“Não comprem celular manchado de sangue”, diz comandante-geral da PM de São Paulo

Ronaldo Miguel Vieira assumiu o posto há um mês com a missão de reduzir os índices em alta, como os de furtos e roubos de aparelhos, e suicídio de policiais

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
3 jun 2022, 06h00

Nomeado há um mês pelo governador Rodrigo Garcia (PSDB), o novo comandante-geral da Polícia Militar, uma corporação com 83 000 agentes, o coronel Ronaldo Miguel Vieira, 51, recebeu uma missão do novo chefe: reduzir os índices de roubos e furtos, sobretudo os de celulares, no estado, que cresceram 15% e 37%, respectivamente, de 2021 para 2022, embora tenham decrescido 7,5% e 0,3% (também na mesma ordem) na comparação com 2019, na pré-pandemia.

Enquanto precisa trabalhar com pautas eleitorais, como a das câmeras acopladas aos coletes, alvo de críticas de parte dos candidatos a governador, Vieira, que é paulistano, casado e pai de dois filhos, necessita conter algumas altas, como a de suicídio de policiais e latrocínios, e manter outras baixas, essas positivas, como a da letalidade envolvendo ocorrências nas ruas.

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O senhor foi o responsável por fazer o governador Rodrigo Garcia mudar de ideia quanto às câmeras nos coletes? Na primeira entrevista no cargo, feita à Vejinha, ele foi claro ao dizer que as câmeras precisam filmar bandidos, não a polícia.

Não fui eu, não. Deve ter sido o secretário de Segurança, o general (João Camilo Pires de) Campos.

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Essa primeira posição do governador reflete a de parte da corporação, não?

Ninguém gosta de uma câmera olhando o tempo todo. Hoje temos 7 500 em operação e até o fim do ano teremos 13 000. É um sistema que começou em 2014 e é uma testemunha para o próprio policial. Mas ele precisa estar bem treinado. Se não estiver, o equipamento vai filmar uma má prestação de serviço.

Por outro lado, a letalidade policial vem caindo. Foi só por causa das câmeras?

Não só. A queda (na letalidade) de 46% desde 2020 é reflexo de três medidas: nossa comissão de mitigação, que verifica todas as ocorrências de lesão corporal e morte; a parte correcional, com a corregedoria que vai em busca da verdade real; e o sistema de saúde mental, que proporciona atendimento especial aos policiais. Eles precisam estar bem para estar na rua.

Mas não é bem isso o que se vê. No caso do policial que apontou a arma para um superior no centro, há um ano e meio, ambos dizem que estavam e estão doentes. Aliás, muito se fala que a corporação está doente.

É óbvio que não. Somos 83 000 policiais e quem procura ajuda tem de ter assistência. O soldado que cometeu o crime foi preso. Por que ele não pediu ajuda antes?

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O outro envolvido na ação também alega estar doente e não obter respaldo de seus superiores.

Não estou sabendo desse caso.

Os números elevados de suicídio de policiais cresceram. Foram 34 em 2021, um a cada onze dias.

Temos um sistema que acompanha, cartilhas. Esses índices são os menores entre as polícias do Brasil. É uma profissão desgastante e a pandemia nos trouxe todo tipo de perda. É um fator que pode iniciar casos do tipo. Temos uma diretoria de pessoas com total apoio psicológico. Eles podem pedir ajuda e não precisam de permissão de seus superiores.

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O senhor recebeu um pedido do governador para reduzir os roubos, principalmente os de celular feitos por falsos entregadores de aplicativos. Quais os números do primeiro mês?

Fizemos 20 000 abordagens e removemos 1 200 motocicletas. Os celulares têm muito valor agregado e há um grande mercado. Os ladrões têm centrais, desbloqueiam e depois revendem os aparelhos. O que muita gente não sabe é que pode estar comprando um celular manchado de sangue.

As blitz geraram diversas reclamações de motociclistas profissionais, que perdem muito tempo ao ser parados, muitos várias vezes ao dia.

Os entregadores foram heróis na pandemia, mas os ladrões se disfarçam em motos, com capacete e máscara. Mas, acredite, há muitos que preferem perder tempo a ser assaltados. Reclamações sempre ocorrerão. Em uma abordagem, a polícia prende ou faz um amigo. Essa é a nossa premissa.

Mas no fim de semana passado uma policial golpeou a genitália de dois homens durante uma abordagem na Zona Norte. Ela não prendeu nem ficou amiga de ninguém.

A corregedoria está apurando o caso. Ela não deveria ter revistado os homens, assim como os policiais homens não devem revistar mulheres. A Polícia Militar é legalista e tem um sistema correcional grande. Não temos medo de cortar na própria carne.

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“O policial militar tem de ter energia na abordagem, o que é bem diferente de ofender. Tem de falar por favor e dizer o que vai fazer”

Quando a polícia vai tratar os moradores da periferia do mesmo jeito que trata as pessoas nos Jardins? A polícia é racista?

Não é racista. A maioria da corporação é negra ou parda. E há reclamações de abordagens em todas as classes sociais. O importante é saber que há um procedimento na abordagem. O policial tem de ter energia na condução, o que é bem diferente de ofender. Tem de falar por favor e dizer o que vai fazer.

Estamos vendo mais uma vez ações na Cracolândia. A despeito das operações do último ano, que detiveram pequenos traficantes, a droga continua chegando. O senhor concorda com a tese de que com os usuários espalhados o combate ao crime e os atendimentos de saúde são facilitados?

Não temos 100% de resposta quanto a isso. Mas espalhar causa pequenos fluxos, e uma coisa é estar em um meio gigantesco, a outra é permanecer em grupinhos de dez. Outro ponto a ser destacado é o nosso retrabalho. Prendemos o traficante com passagens por furto, roubo, mas ele é posto na rua na audiência de custódia.

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O senhor é contrário ao sistema de audiências de custódia?

Não sou contra nem a favor. É a nossa legislação e temos de cumpri-la.

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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de junho de 2022, edição nº 2792

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