Rappers disputam para ver quem improvisa melhor
Iniciantes participam de duelos de rimas em diversos pontos da metrópole
Todo sábado, no início da noite, pequenos grupos de meninos e meninas, a maioria ainda sem entrar na casa dos 20 anos, começam a chegar à Estação Santa Cruz do metrô. Calças largas, bonés de aba reta, camisetas folgadas e um gosto em comum: o rap.
+ Shows no Cine Joia são transmitidos pelo YouTube
+ Série B do futebol de várzea é disputada por 192 equipes
Por volta das 22 horas, já somam mais de 100 pessoas e, muitas vezes, a aglomeração atrapalha a saída dos usuários que desembarcam na estação. Apesar disso, a turma se comporta de forma pacífica. Eles estão ali para conferir mais um duelo de improvisação de calouros de MCs. A coisa toda acontece na própria rua e os competidores começam a rimar à capela, sem microfone nem batida de fundo.
Dezesseis participam por noite, num sistema de eliminatória simples. Das oitavas de final à decisão, ocorrem quinze embates. O nome de cada postulante é colocado em pedaços de papel dentro de um boné e há um rápido sorteio para decidir quais duplas vão se enfrentar.
+ Passagem de Som: leia o blog de Carol Pascoal
Cada um dos calouros tem trinta segundos para se exibir e o público elege o vencedor (veja o quadro abaixo). “Só não valem ofensas nem baixarias”, explica Marcello Souza Dolme, conhecido como Marcello Gugu, organizador do evento e um dos rivais mais temidos no jogo. Livros, CDs e camisetas de hip-hop estão entre os prêmios distribuídos aos vitoriosos.
A brincadeira surgiu de forma tímida na década passada e foi se espalhando nos últimos tempos por vários pontos da metrópole. Além da Estação Santa Cruz, há seis locais fixos na cidade onde ocorrem eventos do tipo. A agenda tem atividades quase todos os dias. “A única data de descanso é a terça”, conta Lucas Kasahaya, de 19 anos, organizador da Batalha da Norte, travada aos domingos nas redondezas da Estação Tucuruvi do metrô.
Igualmente concorrida é a disputa das quartas no Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena, onde existe uma infraestrutura melhor para os concorrentes, com direito a microfone e DJ.
+ É Grátis: lista de programas para fazer sem gastar um tostão
Um dos espetáculos mais tradicionais do circuito é a Rinha dos MCs, com seis anos de existência. Com periodicidade menor (duas vezes por mês), é apresentada em dois palcos cedidos por ONGs que atuam no centro: um na Matilha Cultural e outro na Ação Educativa. Os encontros chegam a reunir mais de 200 pessoas.
Aos 35 anos, mais de vinte deles dedicados ao rap, Cassiano Sena, também conhecido como DJ Dandan, organiza a festa. “Só um canta de galo. O resto é frango”— esse é o seu slogan. “Os que se dão bem por aqui costumam ser craques em explorar as fraquezas dos adversários”, conta. Com frequência, quem aparece para ajudá-lo a mediar os confrontos é o cantor Criolo.
+ Novos rappers tentam seguir sucesso de Criolo e Emicida
Entre os artistas que passaram pela “peneira” estão nomes hoje consagrados no gênero, como Emicida, Projota e Rashid. A exemplo do que ocorre nas peladas de futebol disputadas no circuito da várzea, nos duelos do rap há turmas de olheiros que comparecem aos locais para garimpar talentos. “Estamos sempre espertos, pois a todo momento pode pintar um grande astro”, afirma Evandro Fióti, empresário e produtor de Emicida.
COMO FUNCIONA A BATALHA
– O primeiro rapper tem trinta segundos para fazer sua rima
– O oponente tem o mesmo tempo para a réplica
– O público elege o vencedor do primeiro round
– Eles repetem o ritual na segunda etapa (quem terminou começa)
– Em caso de empate, par ou ímpar para ver quem começa, e mais trinta segundos para cada um
– A plateia determina o ganhador