Novos rappers tentam seguir sucesso de Criolo e Emicida
Estilo deixou de ser um gênero marginal para se tornar uma das apostas do momento das gravadoras
Na última edição do VMB, realizada no mês passado, o rap teve lugar de destaque no evento promovido pela MTV, consagrando os novos ídolos do gênero por aqui, Criolo e Emicida. O primeiro deles ficou com os prêmios de revelação, melhor disco e melhor música. Depois de receber os troféus, protagonizou um dos momentos mais comentados da noite, ao cantar “Não Existe Amor em SP”, um de seus maiores hits, ao lado de Caetano Veloso. No último dia 5, foi a vez de Chico Buarque fazer uma citação do artista paulistano da periferia na execução de “Cálice”, durante um show em Belo Horizonte.
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Emicida, por sua vez, acabou eleito artista do ano e protagonista do melhor videoclipe, produzido para a música “Então Toma”, que está no álbum “Emicídio”. A fama já lhe rendeu convite para ser VJ da emissora, na qual comanda nas noites de segunda-feira o programa “Sangue B”, dedicado ao hip-hop. O último disco do cantor, que chegou ao mercado em agosto, foi gravado em Nova York por dois craques do gênero, os produtores americanos Beatnick e K-Salaam. “Só estou dando continuidade ao que os caras da geração anterior à minha fizeram”, diz Emicida, para logo em seguida deixar a modéstia de lado: “Nesse novo time, eu me sinto como um centroavante”.
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O sucesso da dupla consagrada no VMB mostra que o estilo deixou de ser um gênero marginal de música para se tornar uma das apostas do momento das gravadoras. “O Criolo trouxe a bagagem do hip-hop para uma música mais popular”, afirma Daniel Ganjaman, produtor do último disco do artista, o elogiado “Nó na Orelha”, lançado no primeiro semestre. Como ocorre sempre nessas grandes ondas da indústria do entretenimento, no vácuo dos nomes mais famosos já surge uma geração de novatos tentando seguir os mesmos passos. Dois desses talentos emergentes vêm do bairro de Lauzane Paulista, na Zona Norte. Michel Dias Costa, o Rashid, e José Tiago Sabino Pereira, o Projota, fazem cerca de quinze shows por mês por todo o país. Com o amigo Emicida, formaram o grupo denominado “3 Tenores”. Numa apresentação recente da banda, levaram mais de 1.000 pessoas ao Estúdio Emme, em Pinheiros, e deram início a uma festa mensal de rap na casa noturna. “O Emicida foi um dos caras que me ajudaram muito. Quando eu estava desistindo de cantar, ele me deu um dinheiro para me aguentar por algum tempo até começar a fazer uns shows”, conta Rashid, emocionado.
Nomes que estão batalhando nesse circuito há algum tempo começaram agora a receber mais oportunidades. É o caso de Rodrigo Ogi, quase um veterano, com uma década de estrada. Em junho, gravou o primeiro disco-solo, “Crônicas da Cidade Cinza”. O CD teve a capa assinada pela badalada dupla de grafiteiros osgemeos. “Fiquei muito orgulhoso com a participação deles”, afirma Ogi. Outra figura emergente, Renan Samam tem participações em trabalhos de nomes como Marcelo D2. Ele é um beatmaker, o homem que cria as bases com samples e batidas para os MCs entoarem seus hinos. “O meu trabalho é mais de bastidores, mas eu o considero tão importante quanto o do cara que sobe ao palco para fazer as rimas”, acredita.
No cenário há espaço até para mulheres. Moradora do bairro da Bela Vista, a cantora Flora Matos tem se destacado por levar um público diferente ao seu show, baseado em canções com influência de ritmos jamaicanos, como o dub e o reggae. “Minha plateia é mais feminina do que a média”, conta. Aproveitando o movimento, rádios e TVs começaram a abrir cada vez mais sua programação para o estilo. Na Mix FM (106.3mhz), líder de audiência na capital entre o público de 16 a 25 anos, a música “Viva”, do Emicida, toca com freqüência no “Hip Hop Mix”, um dos programas mais ouvidos da casa.
A MTV tem dois programas fixos na grade e vem aumentando gradativamente o número de videoclipes. “Esses caras que chegaram das ruas criaram uma nova vertente de música, que fala da realidade num tom muito mais poético”, diz o cantor Nasi, ex-vocalista da banda roqueira Ira!. Nos anos 80, ele produziu alguns pioneiros do rap, como Thaíde, na época em que o gênero só atraía um público de poucos aficionados à Estação São Bento de metrô, no centro. “Agora, a coisa está estourando de verdade”.
OS NOVOS RAPPERS
Rashid
Nome completo: Michel Dias Costa
Idade: 24 anos
Estilo: adotou o apelido de “justo” (em árabe) e gosta de fazer letras engajadas, com pitadas de autoajuda
Rodrigo Ogi
Nome completo: Rodrigo Hayashi
Idade: 31 anos
Estilo: em forma de crônica urbana, narra a vida de motoboys, policiais e outros personagens da metrópole
Projota
Nome completo: José Tiago Sabino Pereira
Idade: 26 anos
Estilo: canta a realidade do bairro de Lauzane Paulista, na periferia da Zona Nor te, e arrisca algumas canções românticas
Flora Matos
Nome completo:Flora Maia Matos
Idade: 23 anos
Estilo: faz um som com forte influência de dub e reggae
Renan Samam
Nome completo: Renan de Jesus Batista
Idade: 22 anos
Estilo: em cima de batidas eletrônicas, constrói músicas mais dançantes e com uma pegada pop