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Livro conta história de decadência e revitalização do Jardim da Luz

Escrito pelo arquiteto Ricardo Ohtake e pelo historiador Carlos Dias, obra teve vasta pesquisa de imagens

Por Giovana Romani
Atualizado em 5 dez 2016, 18h11 - Publicado em 9 abr 2011, 00h50

Em mais de dois séculos de história, o Jardim da Luz teve várias vidas. Ele nasceu no centro da cidade em 1800, mas só foi aberto à visitação pública 25 anos depois. Nos primórdios, tinha um ar aristocrático. Na área de 113.000 metros quadrados, cavalheiros de terno e gravata e damas de chapéu e vestido passeavam ao redor dos jardins simétricos de inspiração francesa. Num segundo momento, já no início do século XX, o parque foi incrementado com uma série de construções ao estilo inglês, canteiros sinuosos, espelhos-d’água, espécies importadas de árvores e até um zoológico. A partir dos anos 30, porém, como reflexo da crise da cafeicultura e do declínio de movimento na vizinha Estação da Luz, a área entrou em processo de decadência. Esse período de absoluto abandono teve fim em 1999, quando uma série de reformas recuperou boa parte do seu patrimônio.

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O apogeu, a decadência e a ressurreição do parque estão retratados nas imagens reunidas no livro “Jardim da Luz – Um Museu a Céu Aberto” (Editora Senac São Paulo; 240 páginas; 60 reais), do arquiteto Ricardo Ohtake e do historiador Carlos Dias, com lançamento marcado para a próxima quarta (13). Boa parte delas são flagrantes dos primórdios da sua vida, como os registros de exibições de ginástica olímpica, saraus e festas. Há também retratos de personagens curiosos, como o de um dos fotógrafos lambe-lambes que davam expediente por ali no início do século XX. Na época, mais que um cartão-postal, o Jardim da Luz era a porta de entrada na cidade de vários emigrantes que desembarcavam para tentar a sorte por aqui. Muitos posavam para esses profissionais e enviavam as fotografias aos familiares distantes como uma prova de que haviam “conquistado” a metrópole.

Há também no livro uma crônica detalhada do processo de revitalização do parque, iniciado em 1999 por Ohtake, pouco tempo depois de o arquiteto assumir o cargo de secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente na gestão do prefeito Celso Pitta. “Durante uma visita à Pinacoteca, olhei pela janela e vi o estado de abandono em que se encontrava o Parque da Luz”, lembra ele. “Havia mato com 1,5 metro de altura.” Ohtake saiu dali decidido a pôr em prática um grande projeto de recuperação da área.

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Antes do início dos reparos, alguns especialistas pesquisaram o plano paisagístico original do Jardim da Luz. Descobriram, por exemplo, que o lago em forma de cruz de malta é o elemento remanescente mais antigo do parque. “Trata-se da parte francesa do jardim, toda simétrica”, explica o historiador Dias, que foi um dos responsáveis pelo restauro. As demais áreas seguem o padrão inglês e surgiram no início do século XX, a pedido do então prefeito Antônio Prado, que considerava o parque provinciano demais.

A restauração durou um ano e meio e exigiu um investimento de aproximadamente 500.000 reais. Antes interditados, os banheiros públicos voltaram a funcionar. Cerca de 500 árvores que prejudicavam o crescimento de outras espécies acabaram podadas ou remanejadas para outras áreas verdes. A remoção fez ressurgir elementos de outrora, como uma alameda de palmeiras-imperiais e um aquário subterrâneo, a que se tem acesso por um túnel feito de tijolos com janelas voltadas para o fundo do lago, batizado de “Diana”. Ganharam cara nova também os coretos, a casa de chá e a casa do administrador, restaurados com matéria-prima trazida da Europa.

Passados onze anos desde a intervenção, o parque tem problemas pontuais, mas continua sendo bem conservado. O incômodo atual mais grave é a frequência e a vizinhança da deteriorada região da Cracolândia. Moradora do Bom Retiro, a cabeleireira Catia Goulart, de 31 anos, toma alguns cuidados quando passa hoje por lá. “Evito sentar nos bancos para não correr o risco de ser abordada por um homem”, diz. Isso ocorre porque prostitutas, muitas delas de idade avançada, fazem ponto nas alamedas internas à caça de clientes. Um público bem diferente dos cavalheiros e damas que circulavam por ali nos primeiros anos do Jardim da Luz.

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