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Escandalosa destruição de estações elevatórias de esgoto provoca despejos na Guarapiranga

Sucessivos furtos e depredações deixaram inoperantes alguns desses locais

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 set 2021, 06h00

Construídas há duas décadas pela Sabesp, as estações elevatórias de esgoto na região da Represa de Guarapiranga, na Zona Sul, representaram um importante avanço ambiental. Responsáveis por receber os dejetos de centenas de milhares de domicílios, os locais têm a função de bombear por pressão o esgoto e enviá-lo posteriormente para a estação de tratamento, que fica distante.

Porém, de um ano para cá, sucessivos furtos e depredações deixaram inoperantes três das cinco dessas estações intermediárias da região. Resultado: o já combalido Sistema Guarapiranga, responsável pelo abastecimento de água de 3,2 milhões de paulistanos, recebe diariamente toneladas de esgoto que deveriam ter outro destino. Tudo é levado por diversos córregos, como São José, Caulin, Rio Bonito, entre outros.

A imagem mostra um cano de esgoto despejando um líquido escuro em um córrego.
Esgoto despejado em córrego: seis meses para a reforma (Alexandre Battibugli/Veja SP)
A imagem mostra uma pessoa deitada e com cobertas dentro da estação da Sabesp.
Morador de rua dorme dentro da estação da Sabesp: não sobrou nada (Alexandre Battibugli/Veja SP)

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Na altura do número 8040 da Avenida Senador Teotônio Vilela, a estação Varginha é o símbolo do descaso e da ausência de poder e controle por parte da Sabesp. Sem vigilância, segurança e monitoramento, o local está tomado por lixo, restos de roupas e pinos de cocaína.

Não tem nada que funcione por ali. Tudo foi saqueado, depredado ou surrupiado. Foram levados bombas, cabos, painéis elétricos, portas, janelas, grades, entre outros equipamentos. Nas paredes, há diversos buracos. Perto dali, na Rua Luiz Supertti, um transformador que pesava pelo menos 400 quilos e ficava suspenso por dois postes de concreto também foi levado. No local não sobrou nada. Até uma árvore foi queimada durante um dos incêndios provocados por usuários de drogas.

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Mas os problemas ali não se resumem aos que procuram refúgio para consumo de drogas. “Como um desses coitados vai levar um transformador ligado na energia? Se ele chegar perto, leva um choque e morre na hora”, questiona o empresário Augusto de Andrade, 51, nascido e crescido na represa. “As bombas pesam mais de 200 quilos, ninguém as pegou com as mãos e as colocou nas costas. Tem todo um esquema criminoso que acontece bem na cara da Sabesp e ninguém faz nada.”

Idealizador de uma associação chamada Limpeza na Represa, Andrade promove ações de recolha de lixo nas margens do reservatório. O movimento também tem realizado protestos para chamar a atenção para a suspensão das operações das estações.

A imagem mostra Augusto de pé em meio a uma mata.
Augusto de Andrade: denúncias e manifestações (Alexandre Battibugli/Veja SP)

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Procurada, a companhia de saneamento estadual não quis conceder entrevista. Em nota, afirma que somente em 2021 foram onze casos de vandalismo e que a empresa registrou boletins de ocorrência na polícia. Mas não explicou por que não mantinha uma mínima vigilância nos endereços.

“A Sabesp vem tomando providências para repor os materiais, mas as últimas ações de vândalos deixaram as instalações totalmente destruídas. Com isso, está em andamento a abertura de processo licitatório, de caráter emergencial, para substituir os equipamentos furtados e reconstruir as instalações. A companhia também está aumentando o escopo do atual contrato de vigilância no sentido de intensificar a presença de agentes de segurança patrimonial nesses locais.” O prazo para a reconstrução das novas estações é de seis meses.

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A imagem mostra equipamentos, um pouco enferrujados, submersos em uma água suja.
Equipamentos inundados: manutenção zero (Alexandre Battibugli/Veja SP)

O aumento do despejo de esgoto doméstico de milhares de domicílios, provocado pela interrupção do trabalho das estações elevatórias, ocorre em um momento desfavorável para a represa. Com a estiagem dos últimos dois anos e a pouca chuva do verão passado, o volume da Guarapiranga na última segunda (20) era de 47%, mesma marca de um ano atrás.

Em setembro de 2019, as réguas de medição apontavam para 82,4% de capacidade volumétrica ocupada. Uma análise das águas realizada em maio passado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul apontou a piora significativa da qualidade da água.

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“As altas taxas de fósforo, a sensível diminuição do oxigênio dissolvido, a alta taxa de sulfetos, o aumento da turbidez e o aumento das espécies de bactérias encontradas são indicadores de que serão necessárias inúmeras ações para que as metas da lei específica sejam alcançadas”, aponta o relatório. A legislação citada é a 12 233, de 2006, que definiu e fixou como meta da qualidade da água a redução da carga poluidora até 2015.

Responsável pelo estudo da universidade do ABC paulista, a professora Marta Marcondes afirma que a situação deve piorar nos próximos meses. “Há pontos distantes da margem com 2 ou 3 metros de profundidade e seu fundo está todo preto, resultado de deposição de material orgânico, de esgoto. Pode apostar que daqui a seis meses vai estar pior.” Ela se refere ao prazo estipulado pela Sabesp para a reconstrução das estações elevatórias de esgoto vandalizadas no último ano.

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Publicado em VEJA São Paulo de 29 de setembro de 2021, edição nº 2757

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