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Rádios piratas bolivianas lutam para sair da clandestinidade

Estações se multiplicam na capital e tentam a legalização

Por Ricardo Rossetto
Atualizado em 5 dez 2016, 14h11 - Publicado em 18 ago 2014, 19h45

O combate às rádios piratas representa uma eterna dor de cabeça para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mantidas no ar sem regulamentação, elas podem causar interferência na navegação de aviões, em celulares e na comunicação dos bombeiros e da polícia. Somente em 2013, o órgão fechou 36 estações ilegais no estado. O problema ampliou-se recentemente na capital com a proliferação das emissoras bolivianas: já são catorze. Com transmissão exclusiva em espanhol, elas prestam serviços como ofertas de emprego, informam sobre os processos para a obtenção de documentos no Brasil e ajudam na divulgação de festas da comunidade. Apesar da fiscalização, que fecha os negócios e apreende os equipamentos usados nas transmissões, muitas ressurgem tempos depois. É o caso da Infinita, lacrada cinco vezes nos últimos nove anos. Na semana passada, porém, ela estava novamente em operação.

A fim de acabar com esse cenário de clandestinidade, está em curso um movimento para legalizar uma emissora da colônia. Ele se apoia em uma lei federal que dá o direito a comunidades cujos dirigentes sejam naturalizados brasileiros há mais de dez anos de obter uma concessão para operar uma rádio própria. Aqui na cidade quem encabeça o processo é a Associação dos Comunicadores Bolivianos no Brasil, criada no ano passado. “A entidade será regularizada na Receita Federal até o mês que vem, e na sequência iniciaremos os trâmites com a Anatel”, diz o presidente Jorge Gutierrez.

Uma das peculiaridades do negócio é que alguns dos integrantes do movimento legalista estão por trás das rádios piratas. Gutierrez, por exemplo, divide seu tempo entre o emprego de agente comunitário de saúde e a apresentação diária do programa Esporte Total, às 19 horas, na rádio Nueva America, que funciona em seu próprio apartamento, no Bom Retiro, e só transmite pela internet. Pioneiro na área, Gutierrez começou sua trajetória em 2002, no telhado do antigo Edifício São Vito, no centro.

Ali foram fundadas as estações Sudamérica e Expressão Latina, precursoras na colônia e fechadas no ano seguinte pela polícia. “Eu subia 24 andares a pé e ficava agachado enquanto falava, porque o lugar era apertado”, recorda. Sua paixão pelo tema motivou o filho Alan, de 14 anos, e um colega, o brasileiro Paulo Eduardo Queirós, de 13, a criar o programa What da Game?, sobre tecnologia, games e quadrinhos, no ar às 16 horas das segundas, quartas e sextas.

Mais famosa entre os conterrâneos andinos, a Infinita veicula programas sobre saúde, religião e variedades. A situação de ilegalidade obriga o responsável pelo negócio, Franklin Castro, a desmontar o estúdio e mudar de sede a cada três meses. Após passar por Itaquera e pelo Bom Retiro, atualmente realiza suas transmissões de uma casa na Vila Medeiros, na Zona Norte. De lá, à frente de uma mesa de controle, um computador e um microfone, apresenta o programa Buenos Dias, Buen Trabajo, às 10 horas das terças e quintas, com notícias sobre a Bolívia e outros serviços. “E ainda há espaço para o futebol”, diz o torcedor do The Strongest, de La Paz.

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Apesar de as notícias serem úteis, os programas musicais são os que fazem mais sucesso. Um exemplo é o Ritmo Caliente, da Rádio Activa FM, produzido pelos irmãos Jaime Surco e Mariana Veronica e veiculado diariamente às 10 horas. No estúdio improvisado ao lado de uma oficina de costura na Penha, a dupla cobra a partir de 300 reais para entrevistar artistas bolivianos e ajudar a bancar o orçamento mensal de 1 200 reais. “Quero alegrar meus compatriotas e fazê-los esquecer os problemas”, conta Surco.

Faixa ilegal

As caracter’sticas de algumas das emissoras da colônia

› Rádio Activa FM Número de pessoas na equipe: 9 Orçamento mensal: 1 200 reais Fundação: 2012

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› Gigante Latino Número de pessoas na equipe: 8 Orçamento mensal: não divulgado Fundação: 2013

› Rádio Infinita Número de pessoas na equipe: 12 Orçamento mensal: 7 000 reais Fundação: 2005

› Nueva America Número de pessoas na equipe: 6 Orçamento mensal: 300 reais Fundação: 2013

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