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Quase rico

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h44 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Recebi um e-mail me informando que ganhei na loteria da Espanha. Um milhão de euros prestes a ser depositados na minha conta! Exclamei:

– Vou torrar tudo!

Dinheiro fácil não dá remorso gastar. Mais fácil não poderia ser, já que nunca joguei na loteria espanhola. Não compro bilhetes nem no Brasil! Olhei melhor. O e-mail não fora enviado diretamente a mim. Mas a “undisclosed recipients”. Ou seja, centenas, talvez milhares de pessoas receberam o mesmo aviso. Algum paxá estará distribuindo a fortuna? Havia um telefone para ligar e um e-mail. Meus dedos quase tocaram castanholas sobre as teclas, de tanta avidez! Consegui me conter. Talvez me pedissem a conta e a senha! Certamente, há um bom dinheiro em jogo. Mas o dos incautos! Milionário ficará o responsável pelo golpe!

Não é a primeira vez que me vejo diante de uma fortuna. Há muitos anos, antes da era da internet, tirei meu saldo numa maquininha no banco. Que susto! Havia uma loucura de dinheiro na minha conta. Nem sei quanto, de tantos zeros! Mas coisa para mais de bilhão.

Meu coração disparou! Não estava na minha agência para confirmar. O expediente bancário prestes a terminar. Confesso: meu primeiro impulso foi desonesto.

– E se eu ficar com a dinheirama? – pensei.

Leio romances policiais. Já estava me transformando no personagem de um! Poderia transferir o dinheiro para outro banco, antes que descobrissem o erro. Retirar tudo! Transformar em dólares e ir morar… ahn… na Tanzânia! Foi o primeiro problema. Não tenho a menor vontade de viver em um país desconhecido, com bigodes postiços. O dinheiro seria bom. Mas e a vida depois? Não sou honesto por vocação, creio eu. Mas por conforto. Viver fugindo? Nunca mais uma feijoada com amigos?

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– A primeira coisa é confirmar o saldo – decidi.

– Depois consulto um advogado e vejo qual é a minha situação!

Mal consegui estacionar um Volks numa vaga tripla do estacionamento do banco, de tão nervoso. Fui diretamente à caixa. Pedi meu saldo. A mocinha imprimiu um papel. De novo, o número gigantesco. Os zeros não cabiam em uma linha! Arrisquei.

– É realmente isso que tenho em conta?

Ela examinou o saldo. Respondeu.

– É sim… mas negativo!

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Se tivesse propensão a infarto, teria caído duro. Eu devia bilhões! Grunhi, rosnei!

– Tem algum engano! Socorro!

Foi um bafafá. No fim estornaram. Até hoje fantasio quem teria sido o cliente a ficar com aquele tamanho de saldo negativo. Uma empresa, provavelmente.

Outra vez quase fiquei rico com a Nigéria. Segundo um e-mail, certo tirano deposto e já falecido deixara uma grande quantia em dólares, não computada. Precisavam da minha participação para transferir a fortuna. Eu ficaria com uma boa parte pela ajuda. Não haveria riscos, pois era um dinheiro sem origem, sem herdeiros! Uma grande jogada, enfim! Soube que muitas pessoas caíram na história. Davam detalhes da própria conta. Através de artimanhas, os vigaristas botavam as mãos no saldo do pato. Que nem podia reclamar na polícia! Afinal, aceitara participar de um golpe contra o povo africano! Mas o e-mail era convincente! Ao lê-lo, senti uma tentação…

A tecnologia evoluiu. E com ela, o golpe do bilhete premiado. Uma coisa eu aprendi. Dinheiro fácil é truque. Milhões não caem na conta como gotas de chuva do céu! Golpes pela internet vêm evoluindo. É preciso abrir o olho. Melhor ser quase rico do que definitivamente falido.

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