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Quadrilhas chegam a furtar 4 quilômetros de fios por dia

Bandidos simulam até manutenções na rede para extrair cobre

Por Adriana Farias
Atualizado em 1 jun 2017, 16h02 - Publicado em 6 ago 2016, 00h00
Rua dos Gusmões centro Semáforo
Semáforo desligado na Rua dos Gusmões, no centro: o local é alvo de furto de fios constantemente (Leo Martins/Veja SP)
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Na madrugada de 27 de fevereiro, um carro com o logotipo da Telefônica Vivo estacionou na Rua Conselheiro Moreira de Barros, em Santana. Ostentando uniforme e crachá da companhia, dois homens espalharam cones pela calçada e começaram a trabalhar na galeria subterrânea da via. Em duas horas, o “serviço” terminou. A dupla desmontou o cenário e sumiu depois de surrupiar 80 metros de fios elétricos da concessionária. Por descuido, um dos bandidos deixou a carteira de identidade cair no local, e ambos acabaram presos no mesmo dia. Parece surreal, mas trata-se de uma cena corriqueira.

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Um total de 738 quilômetros de cabos, usados para os mais diversos fins, foram furtados no primeiro semestre deste ano na capital, o que representa uma média de 4 quilômetros por dia. Ou seja, São Paulo perde quase uma Avenida Brigadeiro Faria Lima em fiação a cada 24 horas. O problema afeta 1,8 milhão de pessoas por ano e causa um prejuízo de 54 milhões de reais para as empresas. Os bandidos são atraídos pelo valioso cobre empregado na produção dos fios. Cada quilo do metal é revendido por 15 reais em ferros-velhos. O material volta ao mercado na forma de fios recapeados.

Na rede de telefonia, 252 quilômetros de fios desapareceram entre janeiro e junho, um crescimento de 40% em relação ao mesmo período de 2015. Esse não é o único setor atingido. Na manhã da última quarta (3), os cabos do semáforo instalado na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua dos Gusmões, no centro, foram subtraídos pela décima vez em 2016. Sim, é isto: há um roubo no local a cada vinte dias. “Tornou-se epidêmico nesse trecho, ocorre sempre”, afirmou um funcionário da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) que tentava contornar o caos no trânsito à espera da equipe de manutenção.

Vanderlei Oliveira administrador fios
Vanderlei Oliveira administrador fios ()
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A Eletropaulo também sofre com o fenômeno. Os fios do poste de luz localizado em frente à Unidade Básica de Saúde Jardim Guanabara, na Freguesia do Ó, desapareceram três vezes desde 2014. Na última delas, em 18 de janeiro, o posto passou vinte dias sem energia. “Cerca de 900 frascos de vacina estragaram na geladeira”, diz a coordenadora do espaço, Mariliana Mattos. “Os clínicos gerais tiveram de usar lanterna para atender os pacientes.” 

Em 15 de abril, a vítima foi a Rua Benjamin Constant, no centro, e o prédio da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo ficou às escuras por nove horas. “Quase um terço dos equipamentos queimou. O prejuízo chega a 70 000 reais”, diz o gerente-geral Vanderlei Oliveira. Na rede da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), 6 quilômetros de cabos suspensos, usados na locomoção dos trens, evaporaram neste ano. Em abril, as composições da Linha 11-Coral, com fluxo diário de 680 000 pessoas, circularam durante catorze dias com maior tempo de intervalo em decorrência dos danos provocados por um furto.

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Para desestimular novas investidas dos larápios, as empresas vêm tomando medidas preventivas. Nos últimos anos, CET e Telefônica Vivo passaram a usar um cabo bimetálico, com aço envolto em fina camada de cobre, o que torna o material menos atrativo. Mas essa variante ainda é minoria na malha. A Eletropaulo, por seu lado, instala sistemas de trava mais robustos para o acesso às galerias subterrâneas desde 2012. “Também colocamos alarmes em 25% das 4 000 câmaras”, diz William Fernandes, diretor de obras e manutenção.

Eletropaulo - William Fernandes
Eletropaulo – William Fernandes ()

O crime é tão disseminado que há um setor na Polícia Civil apenas para lidar com casos desse tipo — até alguns anos, ele carregava o sugestivo nome de Delegacia de Furtos de Fios, mas, em 2012, foi rebatizado de Delegacia de Investigações sobre Crimes Patrimoniais contra Órgãos e Serviços Públicos. A equipe, de 26 agentes, prendeu cinquenta pessoas na capital no ano passado. “Algumas das quadrilhas que desbaratamos são especializadas”, afirma o delegado Jan Plzak. “Chegam a utilizar caminhões e equipamentos caros para roubar até 12 toneladas de cabos em um único dia.”

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NA MIRA DO COBRE

Os números do crime na capital

738 quilômetros de cabos sumiram em 2016 

54 milhões de reais é o prejuízo anual

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50 pessoas foram presas em 2015

Fontes: Telefônica Vivo, Eletropaulo, CET, prefeitura, CPTM e Polícia Civil

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