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Os últimos da espécie: professor de caligrafia

Antônio De Franco Neto forma cerca de 1.000 alunos por ano em sua escola de caligrafia

Por Felipe Zylbersztajn
Atualizado em 5 dez 2016, 16h39 - Publicado em 8 nov 2012, 20h37

O mestre Antônio De Franco Neto, de 63 anos, chama o peculiar expediente familiar de “técnica de abordagem”. Funciona assim: até completarem 11 anos, os herdeiros são proibidos de mexer em qualquer tipo de material usado para ensinar caligrafia. Canetas, tintas, folhas de exercícios, o que mais for. “Até essa idade, eles só podem olhar. ‘Isso é coisa séria’, a gente costuma dizer. E aquilo se torna o proibido, né?”, explica ele, em meio às pilhas de pastas de exercícios que se amontoam sobre a sua mesa, na Escola de Caligrafia De Franco, em Pinheiros. A psicologia reversa tem funcionado. Antônio é o atual guardião do método de ensino criado pelo avô homônimo em 1915. E seu filho de 28 anos, também Antônio, já representa a quarta geração de professores calígrafos.

Numa época em que os teclados de computador dominam a experiência escrita, De Franco diz que a média de alunos se mantém constante: cerca de 1.000 ao ano, entre cursos presenciais e por correspondência. “Todo mundo ainda sabe escrever, mas daqui a quinze anos, quando der pau na máquina, ou faltar energia, a pessoa não vai saber pegar numa caneta”, prevê. Hoje, 70% dos aprendizes o procuram para ter uma letra cursiva bonita de forma rápida. São crianças com garranchos ilegíveis, vestibulandos e interessados em prestar concursos públicos. Segundo o professor, bastam quarenta lições, que são vencidas em dois meses, para qualquer um sair de lá com a letra boa — no estilo “comercial inglês”. Ele explica: “Não existe caso incorrigível. A pessoa domina um estilo novo, saindo literalmente do zero. Por isso posso estipular um prazo de aprendizagem”. Há ainda os interessados em ganhar dinheiro com convites e diplomas. Para esses, a escola oferece mais oito meses de uma espécie de pós-graduação, com o aprendizado dos estilos ronde francês, gótico alemão e gótico inglês. “As professoras exigem letra boa, mas não sabem ensinar isso ao aluno”, diz De Franco.

O método criado por seu antepassado há quase um século é essencialmente prático, por meio de exercícios e correção. Na primeira aula, ensina-se postura — como sentar-se corretamente, a posição do papel, como segurar a caneta (esferográfica mesmo). Começa-se com traços básicos, como hastes e elipses. Só depois vem o abecedário. Tudo funciona à base de repetição e correção. As orientações são dadas individualmente e pagam-se R$ 250,00 de mensalidade. “São técnicas que têm dado certo durante muito tempo. Dificilmente uma família tradicional de São Paulo não tem alguém que fez o curso conosco. Até hoje conseguimos despertar em nossos descendentes a vontade e a responsabilidade do ensino nessa área. Mas o futuro a Deus pertence, não é mesmo?”

Escola de Caligrafia De Franco. Avenida Eusébio Matoso, 385, Pinheiros, Tel.: 3815-0449

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