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Plano da prefeitura prevê eliminar 20 quilômetros de ciclovias

Ideia é extinguir rotas que não estão integradas ao restante da rede nem a estações de metrô ou terminais de ônibus

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 jun 2017, 18h41

Implantada em 2014, a política de multiplicação das ciclovias e das ciclofaixas logo se tornou um dos carros-chefe da gestão Fernando Haddad. Em dois anos, a malha dobrou, atingindo quase 500 quilômetros. O plano de mobilidade da capital prevê mais 425 até 2020. A falta de planejamento (alguns circuitos tinham até árvores no meio do caminho) e a pressa para tirar do papel o plano (boa parte dos trajetos surgiu pintando-se as ruas de vermelho com tinta de segunda categoria) mereceram críticas justas.

Pior ainda foi o custo do pacote. Como demonstrou reportagem de VEJA SÃO PAULO de fevereiro de 2015, as obras estavam entre as mais caras do mundo, na comparação com capitais como Paris, na França. Durante a última campanha eleitoral, João Doria prometeu rever a política, eliminando os absurdos e brecando o aumento da cobertura ciclística a qualquer preço. Após seis meses de estudos, e com 350 pedidos de mudança enviados por vereadores, associações e paulistanos de vários bairros, sua equipe começou a detalhar o plano.

Uma das principais diretrizes será eliminar do mapa ciclovias e ciclofaixas que não estão integradas ao restante da rede nem a estações de metrô ou terminais de ônibus. Por ora, cerca de 20 quilômetros encontram-se na mira. A primeira intervenção ocorrerá em um conjunto de 6,6 quilômetros na Vila Alpina, na Zona Leste.

Protesto em frente à casa de Doria, nos Jardins: ciclistas não aceitam a redução (Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo)

Em seguida, a medida será estendida à Avenida dos Metalúrgicos, em Cidade Tiradentes, a várias vias de São Mateus, na mesma região, e à Rua Fernandes Moreira, no Brooklin, na Zona Sul. Serão realizadas audiências públicas nas respectivas prefeituras regionais para referendar as mudanças.

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Os chamados cicloativistas já se insurgiram contra o projeto. “Não vamos tolerar nenhum centímetro a menos na cidade”, afirma Felipe Claros, do grupo Bike Zona Leste. Em outubro último, três dias após a vitória de João Doria, cerca de cinquenta pessoas se deitaram em frente à casa do tucano, nos Jardins, em protesto contra suas ideias para essa área.

Caso o Poder Executivo consiga vencer todas as resistências, os 20 quilômetros suprimidos darão lugar a ciclorrotas. Com isso, em vez da atual separação física do trânsito de carros por algum tipo de barreira, será pintado no asfalto o desenho de uma bicicleta, indicando a preferência para a turma do pedal no espaço em questão.

Segundo estimativas, outros 30 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas estariam sob risco de ter o mesmo destino, o que a prefeitura não confirma. Um dos casos em estudo é o da Rua Amarílis, no Morumbi. Em março, a tinta vermelha da via foi apagada. Após ser acusada de extinguir na surdina a ciclofaixa, a administração defendeu-se dizendo que a marcação havia sido apagada por engano durante um trabalho de manutenção no asfalto.

Agora, a prefeitura afirmou que só vai repintar a ciclofaixa após ouvir moradores, comerciantes e ciclistas. Mas ainda não estipulou prazo para isso ocorrer.

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O secretário de Transportes, Sergio Avelleda: cautela no anúncio do projeto (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A região central deve receber uma abordagem diferente. Ali, a ideia é contemplar as demandas de comerciantes — que viram os clientes sumir após as ciclovias ocuparem as vagas de carros —, mas sem prejuízo aos ciclistas. O trajeto da Rua da Consolação ganhará melhorias na sinalização.

Em vias consideradas estratégicas, as pistas segregadas permanecerão e haverá a criação de um setor de estacionamento para automóveis. Serão quatro faixas paralelas em sequência: calçada para pedestres, ciclovia, área de Zona Azul e pista de rolamento.

O modelo começará a ser instalado neste mês, nas ruas Três Rios e Silva Pinto, ambas no Bom Retiro. “Isso é só um paliativo, nosso pedido era para transferir a ciclovia para outra rua”, reclama o empresário Nelson Tranquez Júnior, presidente da associação de lojistas do bairro, que contabiliza dezesseis negócios fechados em um quarteirão da Silva Pinto. Outra via a receber o formato será a movimentada Líbero Badaró, que terá quarenta novas vagas de Zona Azul com os ajustes.

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Por enquanto, no projeto da prefeitura está a criação de apenas mais uma ciclovia. Com 1,6 quilômetro de extensão, ela ligará a atual faixa da Avenida Pedroso de Morais à Estação Pinheiros, da Linha 4 – Amarela do metrô, uma das mais movimentadas da cidade, integrada aos sistemas de ônibus e trem. Por meio de audiências públicas, moradores de vias próximas do bairro de Pinheiros, como a Rua Costa Carvalho, estão ajudando a definir o traçado.

Faria Lima: obra de 54 milhões de reais na mira da Justiça (Leo Martins/Veja SP)

A previsão é que as obras comecem até o fim do ano. A maior empreitada da gestão municipal, no entanto, é a conclusão dos 5 quilômetros restantes para que a ciclovia da Radial Leste, que vai do Tatuapé a Itaquera, seja interligada ao Parque Dom Pedro II, no centro. O Poder Executivo ainda não divulgou detalhes, como o custo e o cronograma do trabalho.

“No ritmo atual, vão ser construídos só uns 15 quilômetros até 2020”, critica o presidente do Ciclocidade, Daniel Guth. “Melhor assim, mais devagar e ouvindo as pessoas, do que sair pintando tudo por aí e ganhar um inimigo novo em cada esquina”, retruca o secretário de Transportes, Sergio Avelleda. Há quatro anos, ele próprio trocou o carro por uma bicicleta. Diariamente percorre os 5 quilômetros entre sua casa, na região da Avenida Paulista, e o gabinete ao lado do Teatro Municipal, no centro.

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Polêmica na gestão passada, a cor vermelha das ciclovias chegou a ser alvo de uma ação em 2014 no Tribunal Regional Eleitoral, sob a alegação de que se tratava de campanha subliminar do PT, partido do então prefeito. A demanda foi
julgada improcedente, com o argumento de que essa é a cor-padrão adotada pelo Conselho Nacional de Trânsito.

Sob a gestão do PSDB, a manutenção do tom será abandonada. A ideia é deixar a ação de desgaste do tempo realizar o
serviço. “Não compensa pintar e repintar”, justifica Avelleda. Vão permanecer em vermelho apenas os trechos dos cruzamentos.

Nos últimos dois anos, o Ministério Público abriu dois inquéritos para investigar os problemas na implantação das ciclovias e ciclofaixas. O processo que se encontra em fase mais adiantada foi instaurado em 2015, depois que o Tribunal de Contas do Município verificou sobrepreço nas obras da faixa da Avenida Brigadeiro Faria Lima.

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O trajeto de 18 quilômetros custou 29 milhões de reais. Além disso, o serviço foi realizado sem licitação. No ano passado, Fernando Haddad e outros três membros de seu staff na prefeitura se tornaram réus, acusados de improbidade administrativa. Se condenados, poderão perder os direitos políticos. Mas não há prazo previsto para esse julgamento.

PLANO DE DUAS RODAS

Os principais pontos do projeto do município para a área

Ciclorrotas. As ciclovias não interligadas ao resto da rede nem ao transporte público poderão ser transformadas em faixas sem separação entre as bicicletas e os demais veículos: pelo menos 20 quilômetros integram o projeto inicial.

Estacionamento. Em ruas movimentadas e com muito comércio, como Silva Pinto e Líbero Badaró, na região central, serão criadas faixas adicionais para vagas de Zona Azul.

Vermelho. Foco de polêmica durante a gestão passada, a cor será praticamente erradicada — permanecerá apenas em cruzamentos.

Pinheiros. A região ganhará uma ciclovia de 1,6 quilômetro de extensão que ligará a Avenida Pedroso de Morais à Estação Pinheiros do metrô, integrada ao sistema de ônibus e trem.

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