Prédio do Caetano de Campos, em SP, será novamente uma escola pública
Edifício quase foi demolido em 1975 para dar lugar à Estação Praça da República do metrô
O grande edifício amarelo que ocupa um dos lados da Praça da República, no centro da cidade, deve voltar a ser palco de burburinhos e agitações típicos da juventude. Inaugurado em 1894 para ser a sede da antiga Escola Normal, o prédio funcionou como colégio público até o fim da década de 70. Depois disso, os estudantes sumiram e as amplas salas com pé-direito de até 5 metros de altura passaram a abrigar os funcionários da Secretaria Estadual de Educação. “A volta dos alunos para o Caetano de Campos, um desejo do governador José Serra, será um marco para a educação paulista”, diz a secretária de Educação, Maria Lucia Vasconcelos. “Queremos fazer ali uma escola-modelo de ensino médio. Acredito que haverá muita procura de jovens que trabalham na região central.” As adaptações arquitetônicas terão início assim que a secretaria mudar para o novo prédio, na vizinha Avenida São Luís, onde antes estava a Secretaria de Saúde, e a previsão é que as lousas e carteiras escolares estejam instaladas a partir do próximo ano letivo. É uma boa notícia. Projetada em 1890, poucos meses depois da proclamação da República, a escola da praça, como ficou conhecida – o nome oficial, Caetano de Campos, é uma homenagem ao diretor da Escola Normal à época do início da construção –, serviria de símbolo da importância que o novo regime dava à educação. Os traços neoclássicos do arquiteto Ramos de Azevedo (feitos a partir de um croqui do engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza) não foram escolhidos por acaso. “O edifício foi pensado para que quem estudasse ali se sentisse valorizado”, conta a professora de arquitetura da Faap Maria Cristina Wolff de Carvalho, especialista na obra de Ramos de Azevedo. Futuros intelectuais como o historiador Sérgio Buarque de Holanda e os escritores Sérgio Milliet e Lygia Fagundes Telles passaram pelos bancos do Caetano de Campos, considerado durante anos um centro de excelência educacional. “A importância simbólica do edifício é tão grande que chega a ser ainda maior que a arquitetônica”, afirma a historiadora Marly Rodrigues, do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico de São Paulo (Condephaat), órgão responsável pelo tombamento do prédio, em 1976. Na rota da Linha Vermelha do metrô – e agora também da Linha Amarela –, o edifício quase foi demolido em 1975 para dar lugar à Estação Praça da República. Os projetos iniciais previam a derrubada do prédio, mas um grupo de ex-estudantes criou uma associação para lutar contra a péssima idéia. Um desses resistentes era o advogado Modesto Carvalhosa, aluno do Caetano de Campos entre 1945 e 1951. “Brigamos por alguns meses e tivemos enorme apoio popular”, lembra. “O tombamento só saiu por causa da nossa pressão. Teria sido um absurdo derrubar aquele prédio.” A solução encontrada pelo Metrô foi fazer uma estação subterrânea. Mas a novela do Caetano de Campos não terminaria ali. Em 1978, a secretaria resolveu instalar-se no prédio e dividiu alunos e professores entre dois edifícios, um na Aclimação e outro na Consolação – ambos os colégios mantêm ainda hoje o nome Caetano de Campos. Parte do mobiliário e do material administrativo da antiga escola está no Centro de Referência em Educação Mario Covas, na Avenida Rio Branco, que mantém uma exposição permanente do acervo. Quando voltar a receber jovens estudantes, o Caetano de Campos da Praça da República estará cumprindo sua vocação, interrompida precipitadamente há quase trinta anos.