Paulistanos aumentam o uso de transportes públicos

Depois de perderem passageiros por quarenta anos, ônibus, trens e metrô fazem mais viagens que automóveis

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h29 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

Os moradores da Grande São Paulo estão usando mais o transporte coletivo. De acordo com dados preliminares da Pesquisa Origem-Destino, divulgada a cada dez anos pelo Metrô, é a primeira vez desde 1967 que cresce a participação de ônibus, trens e metrô no total de viagens motorizadas. Quando os estudos começaram, o transporte público reinava soberano. Era responsável por quase 70% dos deslocamentos. Mas logo começou a perder espaço para o carro. Em 1997, 51% dos percursos eram feitos por coletivos. Cinco anos depois, as estatísticas foram atualizadas e revelaram uma participação ainda menor, de apenas 47%. No ano passado, o transporte coletivo recuperou o fôlego, voltou a ganhar passageiros e a superar o automóvel. “Apesar de já identificarmos essa mudança, não temos ainda o porcentual exato”, afirma o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella. Segundo ele, o aumento da renda da população e o bilhete único podem ser as explicações para essa inversão.

Resultado: a rede pública nunca esteve tão lotada. O metrô, os trens da CPTM e os ônibus transportam diariamente 14,2 milhões de passageiros na Região Metropolitana. “Com o bilhete único, o usuário que pegava um ônibus e depois seguia a pé até o destino passou a tomar mais conduções”, explica o engenheiro especialista em transporte Orlando Strambi, da Escola Politécnica da USP. Essa mudança lotou ainda mais o sistema, o que derrubou os índices de aprovação dos usuários de metrô e ônibus municipais e metropolitanos, segundo a pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) divulgada no ano passado. Por esse motivo, especialistas acreditam que dificilmente os novos passageiros dos coletivos são ex-motoristas que deixaram o carro na garagem.

A pesquisa Oridem-Destino do Metrô mostra também que há cada vez mais gente substituindo o carro pela moto ou pela bicicleta. É o caso do empresário Franz Schoenborn. Desde o início do ano, ele aposentou sua Toyota Corolla Fielder e tirou o pó da bicicleta encostada. “Não agüentava mais ficar parado nas ruas”, diz ele, que encara até 14 quilômetros de pedaladas todo dia. Morador dos Jardins, Schoenborn costumava gastar 25 minutos para percorrer de carro os 3 quilômetros entre sua casa e a sede da empresa, no centro. De bicicleta, leva apenas dez minutos. Em 2007, a bicicleta foi responsável por cerca de 324 000 viagens diárias na Região Metropolitana de São Paulo, o dobro do registrado no último estudo, em 1997. “É um sinal de que a sociedade está arrumando maneiras de se adaptar às lentidões”, explica Adriano Murgel Branco, ex-secretário esta-dual dos Transportes. “Além disso, ainda é o meio de transporte mais barato que existe.” As viagens de moto seguiram a mesma tendência e quadruplicaram nos últimos dez anos. Todo dia a motocicleta é usada em mais de 580 000 percursos de casa ao trabalho. Ah, não estão incluídas aí as rotas dos motoboys.

Mas, se os moradores da Região Metropolitana estão usando mais o transporte coletivo, andando mais de bicicleta e moto, por que afinal os congestionamentos não diminuem? A resposta é de uma triste obviedade: todos os dias, os 17 000 quilômetros de vias de São Paulo recebem 950 novos veículos. Desde 1950, a população paulistana quintuplicou, enquanto a frota cresceu oitenta vezes.

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