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Confira detalhes do caso do “Papai Noel ladrão”

A operação da quadrilha do bandido que usou a roupa do Bom Velhinho para render um piloto e roubar um helicóptero na sexta (27)

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 1 jun 2017, 16h28 - Publicado em 4 dez 2015, 23h00

A barba postiça branca e os óculos de aro redondo e dourado seguiram para a perícia do Instituto de Criminalística de Sorocaba na quarta (2). Os dois acessórios, além de uma corda e três tonéis com um resto de gasolina de aviação, foram os “presentes” deixados pelo Papai Noel ladrão. Sim, o “Mau Velhinho” existe. No último dia 27, ele entrou para a galeria de bandidos-celebridades de São Paulo ao roubar um helicóptero. Rendeu o piloto Caio Fernando Pinto, de 28 anos, no fim de um voo de pouco mais de vinte minutos entre o Campo de Marte, na Zona Norte, e uma chácara em Mairinque, a 75 quilômetros da capital.

Trancou o profissional na sala de jogos do local e fugiu a bordo da mesma aeronave, ao lado de dois cúmplices encapuzados. O comandante conseguiu escapar ileso. Até quinta passada (3), a polícia não tinha conseguido prender ninguém, nem em São Paulo, nem na Lapônia.

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Apesar de ser um dos modelos mais simples do mercado, o veículo surrupiado — um Robinson R44 II, matrícula PR-DSF — custa em média 2 milhões de reais, pode levar três passageiros e precisa reabastecer a cada 500 quilômetros. Desaparecer com um negócio desses sem deixar rastros é difícil, mas não impossível. Segundo a equipe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, quase 100% do território nacional é monitorado por radares, porém os voos baixos (de aproximadamente 150 metros de altura) podem se tornar invisíveis aos olhos da fiscalização.

Nem a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo nem a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) têm estatísticas sobre roubo de aeronaves. “Tenho 25anos de carreira e nunca soube de nenhum caso assim”, diz Marcelo Carriel, delegado seccional da Polícia Civil de Sorocaba, responsável pela investigação.

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Segundo as autoridades, um bando experiente e bem articulado está por trás do crime. Enquanto um dos criminosos encomendava no Campo de Marte o voo para levar o Papai Noel a um evento no interior, uma comparsa tratava do aluguel da propriedade em Mairinque. Eles pagaram as despesas com dinheiro vivo e apresentaram documentos frios. Antes de apontar a arma para o piloto, o ladrão fantasiado desligou o transponder do Robinson para despistar o controle aéreo. O equipamento pode ter sido roubado para transporte de drogas, desmanche de peças ou revenda no mercado negro do Paraguai.

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Além dos “presentinhos” deixados pelo falso Bom Velhinho, que podem ajudar nas investigações, a polícia rastreia as linhas de celular usadas pelos bandidos durante a negociação com os donos da chácara e com o piloto. O telefone de Caio também foi apreendido, e iniciou-se o trabalho de busca dos IPs das máquinas utilizadas pela quadrilha. Na quinta (26), véspera da ação, uma das integrantes do grupo, identificada como Juliana Basioti, trocou e-mails e assinou um contrato de locação (com dados falsos) com Maisa de Oliveira Leite para o espaço de 24 500 metros quadrados em Mairinque, batizado de Recanto dos Kovard’s. “É uma covardia de tão bonito”, explica Maísa, dona do sítio desde 2004.

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Em um calorão de quase 30 graus na cidade naquela sexta (27), o criminoso surgiu a pé pela Avenida Olavo Fontoura, em Santana, com o figurino completo do Polo Norte. Acenou paraos guardas na portaria do Campo de Marte, cruzou o portão e andou uns 500 metros até chegar ao hangar da Aristek Comércio Aeronáutico. Mas ele havia contratado o serviço de umhelicóptero guardado na garagem vizinha, a Vortex Motores, em outro setor, com entrada pelo portão da Avenida Santos Dumont, a mais de 1 quilômetro dali. Um funcionário da Aristekse comoveu com aquele homem suando a pé com a fantasia.

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Topou levá-lo por um atalho, na pista de decolagem. Ao chegar à Vortex em menos de cinco minutos de caminhada, opiloto o esperava quase pronto para a partida. Só faltava a autorização da torre de controle. O bandido ficou impaciente: a ação já tinha sido adiada uma vez porque não havia condiçõesmeteorológicas. Depois de instantes de tensão, eles receberam autorização para seguir viagem.

Há uma série de pontos intrigantes na história. Um deles envolve o aluguel do helicóptero, feito sem nenhum tipo de contrato. O piloto aceitou o trabalho e não pediu número de documento nem mesmo o nome completo do contratante. O Robinson pertence a André Giribaldi, empresário do ramo de engenharia. Ele o comprou em janeiro de 2014, de segunda mão, por 800 000 reais. Por mês, pagava em média 4 000 reais ao hangar Vortex.

O local funciona como uma garagem, com uma sala de espera vip para usuários das aeronaves estacionadas por lá. Giribaldi não contratou seguro (apesar de o Código Brasileiro de Aeronáutica exigi-lo, especialmente para cobrir queda em propriedades e morte de terceiros). A conhecidos, o empresário justificou a atitude dizendo que não se preocupa com esse tipo de providência; afinal, se o seu helicóptero cair, ele vai morrer no acidente.

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Depois de tirar o brevê, há dois anos, Caio faturava cerca de 4 000 reais por mês trabalhando para Giribaldi. Ele mora com a mãe, Ivone, em São Bernardo do Campo. Desde o roubo,mudou-se para a casa do pai, o farmacêutico Edson Aparecido Pinto, em Indaiatuba. Está com medo e sem trabalho. Procurado por VEJA SÃO PAULO, negou-se a dar entrevista. O bandido pagou a taxa de 3 000 reais pouco antes do embarque, quando ainda aguardava o voo na sala vip do hangar.

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Duas funcionárias da empresa quiseram tietar a “celebridade”. No abraço para a foto, não perceberam a pistola guardada no meio da espuma da barriga. Segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), responsável pelo Campo de Marte, não é feita inspeção de viajantes e de bagagens de mão nos campos de táxi aéreo e de aviação executiva controlados pelo órgão. Alémdo proprietário do Robinson, o piloto ficou no prejuízo.

Assim que anunciou o assalto quando estavam pousando na chácara, o Bom Velhinho ordenou a devolução do dinheiro pago por ele ao comandante para o “voo beneficente” destinado a alegrar o dezembro de crianças carentes no interior, num enredo que, definitivamente, não faz parte dos contos clássicos de Natal.

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