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Igreja no Largo do Paissandú sofre com “banheiro a céu aberto”

Desde a instalação de um complexo para moradores de rua, membros da capela ao lado relatam inundação com esgoto e rachaduras nas paredes

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 9 out 2020, 08h39 - Publicado em 9 out 2020, 06h00

Era 29 de abril, ainda início da pandemia. A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos estava fechada ao público. Uma vez por semana, membros da irmandade que cuida da capela no Largo do Paissandu iam limpar o espaço. Por volta das 8 horas, Edson Quirino, 45, secretário da instituição, estava no ônibus a caminho do templo quando um colega lhe deu a notícia: parte do subsolo, onde ficam um salão de reuniões e a cozinha, estava inundada com esgoto. “O cheiro era terrível. A água estava na altura da canela.” Pouco tempo antes, a prefeitura havia instalado ao lado um complexo para a população de rua. São cinco contêineres com sanitários, chuveiros e máquinas de lavar roupa utilizados diariamente por cerca de 500 pessoas. Para os membros da Igreja, os eventos estão diretamente conectados.

“De algum jeito, eles ligaram aqueles banheiros com a nossa rede de esgoto. Os canos são antigos, de barro, só aguentam o que nós produzimos”, diz Quirino. A tubulação de esgoto é separada do subsolo por uma pequena tampa de concreto. “Aquela área ficou inutilizável”, conta Sônia Pereira, 63, assistente social e membro da irmandade. Procurada pela reportagem, a prefeitura afirmou que a Ação Vidas no Centro foi montada para minimizar o impacto da proliferação do coronavírus entre a população em situação de vulnerabilidade social, mas não explicou o incidente da inundação.

O salão que inundou: água ficou na altura das canelas (Rogério Pallatta/Veja SP)

A resposta dos funcionários da prefeitura que cuidam da infraestrutura no local, felizmente, foi mais ativa. “A diretora ficou desesperada. Desceram aqui umas dez pessoas e fizeram toda a limpeza”, lembra Quirino. De acordo com a irmandade, porém, os problemas não acabaram ali.

“Eles passaram a armazenar os dejetos em grandes caixas d’água”, diz Quirino. Então, diariamente, caminhões param no largo e realizam a sucção do conteúdo. “O cheiro é insuportável, invade tudo aqui dentro”, diz o secretário. Questão mais complexa é o horário de funcionamento, restrito das 7 às 19 horas. “O cara acorda na madrugada. Vê que o local tá fechado. Faz as necessidades na parede da igreja”, conta o diretor do Instituto Cultural Galeria do Rock, Marcone Moraes, 34, que acompanha a situação.

Estátua Mãe Preta, de Júlio Guerra, inaugurada em 1955: isolada entre os contêineres e a igreja (Rogério Pallatta/Veja SP)

Sobre a presença de dejetos ao redor da igreja, a prefeitura afirmou que fechou o acesso da área e o “problema foi resolvido”. A subprefeitura da Sé afirmou que faz zeladoria periódica no local, “inclusive com lavagem para retirada de fezes”. Contudo, os religiosos relatam que o problema só mudou de lugar: o outro lado da capela, sem tapumes, virou o novo banheiro a céu aberto.

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O subsolo do templo conta com pequenas janelas no nível da rua e, segundo os membros da igreja, por vezes a água usada para a limpeza, carregada de fezes e urina, vai parar ali embaixo. “Um dia deixei alguns documentos na minha mesa no escritório. Quando vi, estava tudo molhado, tive que sair correndo e pedir para o cara parar”, conta Quirino.

Padre Luiz Fernando aponta rachadura na parede: terreno ficou úmido com as lavagens diárias (Rogério Pallatta/Veja SP)

A entidade que administra o local enviou um ofício para a prefeitura relatando os problemas, incluindo o aparecimento de rachaduras nas paredes da construção do início do século XX. “Aqui já estava precisando de uma reforma. Todo dia lavam, então o terreno está ficando muito úmido. Começaram a aumentar as rachaduras e a aparecer vários pontos de infiltração”, afirma Moraes.

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“Não falaram com ninguém da Igreja sobre a instalação dessa estrutura”, afirma o padre da capela, Luiz Fernando, 60. Há quinze dias, Sônia conta que teve uma reunião com a secretária municipal de Assistência Social, Berenice Giannella. “Relatamos os problemas. Uma semana depois, eles colocaram mais tapumes, isolando totalmente um dos lados da igreja. Não resolveu nada”, lamenta a assistente social.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708.  

 

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