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O retorno dos chapéus esculturais

Os surpreendentes adereços britânicos de alta-costura são tendência após o casamento de Kate Middleton com o príncipe William

Por Ilana Rehavia, de Londres
Atualizado em 5 dez 2016, 17h52 - Publicado em 6 ago 2011, 00h50

Foi no fim de abril que a plebeia Kate Middleton realizou o sonho de milhões de mulheres e subiu ao altar com seu príncipe encantado. Os desdobramentos do casório real, no entanto, continuam fortes na moda — e assim permanecerão por meses, talvez anos. Na esteira da nova integrante da nobreza, o visual aristocrático britânico passou a interessar mesmo à mais blasée das fashionistas. E assim o chapéu, peça-chave nos closets de sangue azul, virou o centro das atenções.


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Começou já no dia da cerimônia, quando a princesa Beatrice, prima do noivo, roubou a cena com uma mirabolante peça assinada pelo chapeleiro irlandês Philip Treacy. A moça dividiu opiniões, virou motivo de chacota na internet e, esperta, converteu as críticas em boa mídia: leiloou o chapéu da discórdia. Conseguiu o equivalente a 203.000 reais, prontamente doados a projetos de caridade. “A popularidade desse acessório na Grã-Bretanha pode ser atribuída, em especial, à rainha Elizabeth II”, explica Oriole Cullen, curadora do museu londrino Victoria & Albert. Ela se refere a uma questão básica: quando a soberana comparece a um evento, o tipo de roupa dela dá o tom a ser seguido pelos demais convidados. E, como se trata de uma fã ávida de chapéus…

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Some-se o gosto pessoal da rainha ao fato de os chapéus serem classificados pelos ingleses como instituição nacional — e o resultado é uma geração inteira de experts em criar (e recriar) o acessório. O pioneiro e mestre dessa turma é Stephen Jones, que revolucionou o segmento na década de 80. Inspirado principalmente na arquitetura, ganhou notoriedade ao lançar mão de materiais bastante inusitados e formas mais fora do padrão ainda. “Prédios são como enormes chapéus, e vice-versa”, filosofa. Conquistou uma clientela estrelada tanto entre a nobreza propriamente dita — Lady Di o adorava — quanto na realeza das passarelas (Dior, Jean-Paul Gaultier, Karl Lagerfeld e Vivienne Westwood, por exemplo). No cinema, ostentaram peças dele personagens dos filmes “Coco Antes de Chanel”, “Desejo e Reparação” e “Os 101 Dálmatas”.

Formado na conceituada faculdade de arte e design londrina Royal College of Art, Philip Treacy (aquele do chapéu da princesa Beatrice) estagiou com Jones. Basta analisar sua, digamos, obra para concluir que nada lhe parece maluco demais na hora de desenhar peças. Ele despontou para o estrelato em 1989, quando caiu nas graças da finada editora de moda Isabella Blow, que acabou virando sua musa e grande colaboradora. O estilo arrojado do chapeleiro, no entanto, faz sucesso também nos círculos mais conservadores. Ele foi o responsável pelos elogiados adereços de Camilla Parker-Bowles no casamento com o príncipe Charles.

Perfil bastante parecido tem o chapeleiro inglês Piers Atkinson. Bem-humorado, ele conta sobre o dia em que resolveu aplicar um letreiro de néon num chapéu que precisava ser ligado em tomadas para acender. Pura curtição, só para ver no que dava. “Acredite se quiser, vendi alguns exemplares”, lembra.

Tamanha criatividade, associada a um criterioso e detalhado processo de fabricação, costuma conferir à produção desses profissionais status de obra de arte. Em 2009, Stephen Jones ganhou exposição (belíssima, diga-se) no museu londrino Victoria & Albert. A parceria entre Treacy e Isabella Blow rendeu a mostra “Quando Philip Conheceu Isabella” no Museu do Design, em 2002 — a partir do ano seguinte, as peças fizeram uma turnê que passou por países como Austrália e Rússia.

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Outro caminho natural foi ganhar espaço nos closets de ícones da cultura pop como Madonna, Sarah Jessica Parker e Lady Gaga. Para essa última, Treacy confeccionou chapéus em forma de lagosta e de telefone. No caso de Sarah Jessica, o estilista inspirou-se num ninho de borboletas.

Mas é na própria Grã-Bretanha que está a maior vitrine dessas criações: a temporada de corrida de cavalos de Royal Ascot. Realizado em junho na Inglaterra, o evento conta com a presença da rainha, conhecida amante do esporte, e da família real. Os chapéus reinam absolutos. Versões mais extravagantes como a da foto que abre esta reportagem costumam aparecer no dia dedicado às mulheres, o Ladies Day. “As pessoas libertam sua criatividade, e surpresas são aguardadas ansiosamente, como peças dos maiores estilistas, invenções malucas feitas em casa e até réplicas de animais”, conta a estilista inglesa e comentarista de moda Verónica Moncho Lobo.

Ao longo dos anos, o modo de confecção de um chapéu de alta-costura pouco mudou. A estilista Vivien Sheriff, que atende a sociedade britânica, também se orgulha de fazer tudo de forma artesanal, aplicando individualmente cada flor, renda ou lantejoula. Quando o acessório é confeccionado sob encomenda, o chapeleiro tenta virar um oráculo e um psicólogo para adivinhar que cara deve ter a peça ideal. “Um ótimo chapéu é feito de uma combinação de linhas, cor e textura. Mas o importante é como ele faz a pessoa sonhar”, diz Stephen Jones.

A peça teve fases ao longo da história e deixou de ser um artigo essencial de vestimenta no meio do século XX por causa de mudanças radicais no estilo de vida. “O surgimento do laquê teve papel importante, já que as mulheres passaram a investir mais em mostrar os cabelos do que em cobri-los”, explica a curadora. Se depender da mais nova integrante da realeza britânica, porém, está começando agora uma fase triunfal para a chapelaria. O que Catherine usa logo faz a cabeça de plebeias mundo afora. Nesse caso, literalmente.

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