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“O PSDB colheu o que plantou: uma série de erros”, diz Felício Ramuth

Vice-governador de São Paulo fala sobre as medidas que a gestão pretende adotar na Cracolândia e promete concurso para professores

Por Hyndara Freitas
20 jan 2023, 06h00

Longe da sina de “decorativo”, o novo vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), 54, começa a atual gestão do Palácio dos Bandeirantes em destaque. Foi escalado por Tarcísio de Freitas (Republicanos) para uma missão das mais espinhosas — e inadiáveis: estará à frente dos esforços para acabar com a Cracolândia, na região central da capital. “A integração entre governo e prefeitura nessa tarefa será inédita e fará toda a diferença”, promete o ex-tucano e ex-prefeito de São José dos Campos.

Por que o senhor decidiu sair do PSDB, após tantos anos no partido?
Fui filiado ao PSDB por 28 anos. Entrei aos 23, quando o Brasil teve aquele plebiscito para escolher entre monarquia, presidencialismo e parlamentarismo (em 1993). Depois de virar prefeito (de São José dos Campos, em 2017), percebi que o PSDB cometia uma série de erros. Um deles era a falta de renovação. Eram sempre os mesmos candidatos: (José) Serra, (Geraldo) Alckmin… No segundo momento, o PSDB não soube encontrar caminhos para problemas delicados, como o caso do Aécio Neves, quando poderia ter tido outras atitudes. Depois teve a vinda do (João) Doria. Por fim, a chegada do Rodrigo Garcia. Quando o Garcia veio para o PSDB, fui falar com ele sobre a minha possibilidade de desfiliação por causa da filiação dele. Não porque eu tivesse alguma coisa contra ele pessoalmente, mas porque achava que o PSDB tinha grandes talentos e não precisava trazer alguém de fora para se candidatar, diferentemente de outros partidos.

Naquele momento, o senhor tinha algum nome para concorrer ao governo do estado? Tinha vários, como Duarte Nogueira, Vitor Lippi, Eduardo Cury, Paulo Serra… Mas, quando o Rodrigo veio (do DEM), ele assumiu a posição de candidato do Doria, até para barrar a candidatura do Alckmin, que eu também não apoiava. O Alckmin veio conversar comigo, tenho uma relação antiga com ele. Eu defendia a renovação. Ela não acontece do dia para a noite, é preciso ter uma estratégia, um objetivo. E o PSDB não teve. Vieram as prévias: desorganização, denúncias, falhas técnicas na apuração… Eu entendi que era o momento de sair.

O PSDB tem chances de se fortalecer novamente no estado?
Depois da última eleição, muita gente disse que o PSDB morreu. Ele não morreu. Ainda tem bons talentos, muita gente boa. O que se viu foi fruto do que o PSDB plantou nos últimos anos. O resultado da última eleição colocou o PSDB em uma situação que ele nunca viveu. Mas ele tem quadros. Tem três governadores, tem prefeitos no estado. Na minha opinião, o PSDB colheu aquilo que plantou: uma série de erros. Muita gente acaba colocando essa conta nas costas do Doria, mas não é verdade. O Doria foi um dos erros em uma sequência deles. Mas o partido tem toda a capacidade de juntar as lideranças e se reconstruir. Eu acho que deve buscar uma federação ou fusão para se fortalecer para as próximas eleições.

Qual será seu principal papel no governo Tarcísio?
Tenho proximidade com as cidades, pela experiência de ter sido perfeito. O Tarcísio valoriza isso. Uma primeira missão será na região central, onde acontece o uso aberto de drogas conhecido como Cracolândia. Vou integrar as secretarias. Pela primeira vez, o governador e o prefeito têm a mesma vontade política (sobre o problema), o que é fundamental. Farei uma articulação não só nas secretarias, mas integrando os programas do município, o Legislativo, o Ministério Público, a Defensoria. Vamos remar em uma mesma direção para ter resultados melhores no acolhimento daquela população.

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O que será feito de diferente? Todas as gestões da prefeitura e do governo falaram que resolveriam a questão…
Primeiro, a união do estado e do município, que nunca aconteceu de forma efetiva. Segundo, o vice-governador vai coordenar as ações. As políticas públicas serão várias: na área social, saúde, segurança, geração de emprego e renda. Vai envolver muitas secretarias, o que nunca aconteceu. No passado, o estado fez ações desconectadas, até sem o conhecimento do município. Integrar os serviços fará toda a diferença. Estamos na fase de diagnóstico. Estive em equipamentos da região central, como o Recomeço Helvétia. Conversei com os secretários, o prefeito. Essa construção integrada é inédita.

Tarcísio inicialmente resistiu a ir a Brasília se reunir com Lula e outros governadores. Depois, mudou de ideia. Como o senhor avaliou isso?
Entendo que não houve resistência por parte dele. Ele estava avaliando o cenário, tínhamos uma preocupação específica com São Paulo. O foco era garantir que o estado não reproduzisse as cenas que vimos em Brasília. Ele conseguiu encaminhar os assuntos por aqui e ir a Brasília para a reunião.

Os governadores poderiam ter atuado antes para acabar com os acampamentos bolsonaristas?Eram situações completamente diferentes. Tem as manifestações pacíficas, ordeiras, que não impedem o direito de ir e vir. Isso faz parte da democracia. Mas vimos as manifestações tomarem outro objetivo, de depredação. Isso não podemos admitir. Lembro, em um passado não tão distante, de depredações por grupos de esquerda. Sempre fui contra isso, e o fato de ter acontecido com a direita não mudaria minha opinião. Depredar patrimônio público é lamentável e não podemos aceitar de forma alguma.

Na prática, como o novo governo será diferente das gestões tucanas?
É um governo de mudança, mas não de ruptura. Existem muitas ações exitosas em São Paulo. O Tarcísio tem uma característica: é mais low profile que a última gestão. Executa primeiro, para depois mostrar o que fez. A população ficou cansada do excesso de marketing. Temos uma grande oportunidade de melhorar serviços com problemas.

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Que tipo de serviços e problemas?
A área da saúde tem problemas, as filas de cirurgias estão grandes, há leitos desativados. Há sempre um viés de construir novos equipamentos e não de aproveitar melhor o que já existe. O Tarcísio não tem essa vaidade. Temos mais de 2 000 leitos desativados. Na segurança pública é a mesma coisa.

A educação está há nove anos sem concurso para professores. Vão fazer?
Vamos fazer um concurso, sim, e já nos primeiros 100 dias de governo. Vamos contratar professores, pode anotar isso.

Publicado em VEJA São Paulo de 25 de janeiro de 2023, edição nº 2825

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