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“O Grande Grito” exibe faceta menos conhecida de Mário de Andrade

Drama de Gabriela Rabelo, em cartaz no CCSP, foge do óbvio ao retratar passagem do escritor pelo serviço público

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h13 - Publicado em 19 mar 2011, 00h50

Quando se fala do escritor Mário de Andrade (1893-1945), logo vem à cabeça o romance “Macunaíma — O Herói sem Nenhum Caráter” (1928). O drama O Grande Grito, de Gabriela Rabelo, porém, foge do óbvio ao se basear em outra faceta do autor. Em 1935, Andrade foi nomeado chefe do Departamento de Cultura da prefeitura, no qual teve uma atuação destacada. Criou parques infantis na Lapa, no Ipiranga e no Brás — onde crianças aprendiam artes e praticavam esportes —, influenciou no desenvolvimento do Departamento do Patrimônio Histórico Nacional e coordenou uma missão de pesquisas folclóricas pelo Norte e Nordeste. O raro material da expedição (documentos, pedras preciosas e esculturas) ficou anos abandonado e quase caiu no esquecimento após sua exoneração.

Gabriela Rabelo construiu uma trama de fácil apelo. No depósito da biblioteca, os espíritos de Andrade (Níveo Diegues), Macunaíma (Augusto Pompeo) e Exu (Adão Filho), cuja estátua está lá mofando, pairam inconformados com o descaso. O zelador Nilton (Carlos Francisco) procura um influente amigo (Carlos Cambraia) para resolver o problema. Entre vivos e mortos, surge uma folhetinesca história que envolve a filha do tal zelador (Míriam Amadeu) e seu namorado desajustado (Murilo Inforsato). A direção de José Renato equilibra o universo realista com o lado fantástico. Ao enfocar a falta de atenção com a cultura, a montagem torna o discurso acessível. As caracterizações para Andrade, Exu e Macunaíma são divertidas e os diálogos surpreendem pelo tom coloquial dado a questões que poderiam soar panfletárias.

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