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Os aprendizados da volta às aulas em quatro países

Diretora, aluno e mães de quatro cidades contam quais são os desafios no retorno à escola, enquanto em São Paulo a data foi adiada

Por Fernanda Campos Almeida, Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 ago 2020, 03h24

Daegu, Coreia do Sul – Hwang Aera, 39 anos, mãe de Lee Wonjun, 11

“Lee tem até receio de chegar perto da professora para tirar dúvidas”, afirma Hwang Aera, mãe de Lee, 11. (Arquivo Pessoal/Veja SP)

“Meu filho Lee está no 5º ano e aqui os alunos podem escolher entre ir presencialmente ou continuar com o ensino remoto. Prefiro que Lee continue com aulas on-line porque não vejo muita diferença em relação às presenciais, já que ele não pode interagir com as outras crianças devido às regras de distanciamento. Foi criado um sistema que dividiu os alunos em números pares e ímpares para que apenas uma metade vá para a escola por vez. Eles não têm mais autorização para cantar nas aulas de música, fazer educação física ou qualquer outra atividade em grupo. No intervalo, as mesas do refeitório possuem divisórias entre os assentos. Lee tem até receio de chegar perto da professora para tirar dúvidas. Não acho que ele terá algum déficit de conhecimento, mas com certeza está tendo falta de interação e aprendendo a aprender sozinho.”

Karlsruhe, Alemanha – Franziska Braunstein, 32 anos, mãe de Luis, 3, e Matteo, 2 meses

“Muita gente foi viajar e o medo é que, na volta, o coronavírus retorne também”, conta a mãe alemã (Arquivo Pessoal/Veja SP)

“Depois de dois meses em casa, o Luis, que tem 3 anos e frequenta a pré-escola, já estava desanimado, sem nenhum contato social. Eu estava grávida (Matteo agora tem 2 meses) e tinha muito medo de ele pegar coronavírus e me passar. Ainda assim, arriscamos. A escola foi muito cuidadosa com os protocolos e toda hora mandava comunicados de como devíamos proceder. Reabriu com apenas um dia na semana, mas não demorou para estender para os cinco. As 120 crianças foram divididas em grupos com cores. Luis é do azul e quando vai ao banheiro só pode usar a cabine azul. E sempre tem uma professora ao lado para garantir que as mãos sejam corretamente lavadas. Esses grupos não se cruzam em nenhum lugar. Máscaras são obrigatórias e toda manhã tenho de medir a temperatura do meu filho. Ao chegar à escola, os alunos precisam formar uma fila respeitando o distanciamento. Entra apenas uma criança por vez e só um dos pais pode levar ou buscar. O mesmo acontece na saída. Tem sido mais demorado do que o normal. A principal reclamação do Luis é não poder usar a sala de artes, que está fechada. Estávamos no summer break (folga do verão) e veio um comunicado do retorno. Muita gente foi viajar e o medo é que, na volta, o coronavírus retorne também. Pode ser que a escola tenha de fechar de novo. E eu vou estar com duas crianças pequenas em casa.”

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Le Vésinet, França – François Saint Olive, 12 anos, aluno do 6º ano

François Saint Olive, 12 anos: “às vezes me esqueço de usar a máscara porque é algo novo para mim.” (Arquivo Pessoal/Veja SP)

“O lockdown na França começou em 17 de março e confesso que estava feliz de não ter de ir à escola, mas com o passar dos meses comecei a me sentir sozinho. As aulas presenciais na Institut Notre-Dame voltaram no dia 20 de maio, somente duas vezes na semana e com turmas separadas. O grupo A vai às aulas de segunda e terça e o grupo B, de quinta e sexta. Eu me sinto seguro lá. Os alunos não vão mais ao refeitório na hora do lanche. Gostava de jogar ‘bobinho’, mas todos os jogos com bola estão proibidos. Os professores nos lembram de manter distância dos colegas, e eu fico sempre a 1 metro deles, mas às vezes me esqueço de usar a máscara porque é algo novo para mim. Aprendo melhor com o ensino presencial e confesso que sinto falta dos amigos, por isso prefiro vê-los, nem se for por pouco tempo durante a semana.”

Tuam, Irlanda – Nuala Bourke, 34 anos, diretora da Tuam Educate Together National School

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“Cada classe é definida como uma ‘bolha’ que não pode se misturar com as outras”, conta a diretora Nuala Bourke, (Arquivo Pessoal/Veja SP)

“Temos 150 alunos de 4 a 12 anos. Reabrimos no dia 26 de agosto e, pela falta de investimentos em educação dos últimos governos, as salas de aula ficaram pequenas, superlotadas e mal ventiladas. Criamos um ‘Plano de Resposta à Covid’, com detalhes das medidas de proteção. Mesmo não sendo obrigatório, os funcionários devem usar máscara. Pedimos aos pais que mantenham distância entre eles ao deixar e ao buscar os filhos. Fazemos a sanitização da escola todas as tardes. Os professores têm de limpar com um pano e álcool carteiras e objetos da sala diversas vezes ao dia e registramos a interação entre alunos, que devem sentar a 1 metro de distância uns dos outros. As crianças precisam lavar as mãos pelo menos cinco vezes ao dia, principalmente antes de comer e de entrar na sala. Cada classe é definida como uma ‘bolha’ que não pode se misturar com as outras, então há intervalos separados e pausas alternadas para o almoço. Se for confirmado algum caso de coronavírus,a criança será encaminhada para a equipe de rastreamento de contato da HSE (Health Service Executive, o sistema público de saúde irlandês), mas o próximo passo ainda não foi explicado pelo governo às escolas ou aos pais.Não sabemos se apenas quem esteve próximo à pessoa infectada deverá se isolar ou se isso se aplicará à escola inteira. Acabamos de reabrir e ainda há muitas incógnitas. A regra mais contraditória anunciada pelas autoridades é a de proibir encontros com mais de seis pessoas em locais fechados, mas permitir trinta alunos em uma única sala de aula.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702.  

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