“Música para Cortar os Pulsos” aborda o amor e seus demônios
Drama em cartaz no Instituto Cultural Capobianco não se segmenta como uma "peça para adolescentes"
A queixa de diretores e produtores sobre a falta de renovação dos espectadores virou um clichê que atravessa décadas. No meio teatral, ouvem-se com frequência frases do tipo “o público envelheceu” ou “não se vê nenhum jovem na plateia”. Por outro lado, o teatro parece fazer pouco esforço para renovar esse interesse. O drama Música para Cortar os Pulsos, em cartaz no Instituto Cultural Capobianco, é uma exceção — sem se segmentar sob o rótulo “peça para adolescentes”. Idealizada e protagonizada por artistas entre 23 e 27 anos, à primeira vista mostra-se um retrato das dores e dos impasses de uma triste juventude. Esses conflitos, porém, revelam-se comuns ao cotidiano de muita gente de 30 ou 40 anos.
Dirigida pelo também cineasta Rafael Gomes (do curta-metragem “Tapa na Pantera”), a montagem divide-se em dez cenas e vale-se de um bom trio de atores. Mayara Constantino, de 24 anos, Kauê Telloli, de 24, e Victor Mendes, de 23, comovem espectadores de várias idades na pele de Isabela, Felipe e Ricardo. A moça sofre porque foi abandonada. Felipe, por sua vez, procura uma paixão para aliviar o tédio e se surpreende ao perceber que Ricardo o considera bem mais que um amigo. Todos eles discorrem, em monólogos, sobre paixão, desejo, separação e perdas, costurando com sensibilidade depoimentos a trechos declamados de canções de Chico Buarque, Marina Lima e Roberto Carlos, entre outros. O que poderia soar piegas revela um efeito dramatúrgico consistente e de ampla comunicação.
AVALIAÇÃO ✪✪✪