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Em Vinhedo, vítima de cárcere privado revê idosa de quem cuidava

Iva da Silva de Souza ficou mais de vinte anos submetida a trabalho análogo à escravidão e foi libertada na última segunda (23)

Por Estadão Conteúdo
27 jun 2019, 09h48
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  • Vítima de cárcere privado por cerca de vinte anos, Iva da Silva de Souza, de 63, tinha uma preocupação após ser resgatada pela polícia: continuar cuidando da idosa de 88 anos, para quem (mas não por quem) era obrigada a trabalhar. “Ela entende como uma espécie de missão de vida”, conta Eduardo Galasso, secretário municipal de Assistência Social de Vinhedo (SP) onde o caso aconteceu. 

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    Cadeirante e com a saúde debilitada, a idosa é mãe de Marina Okido, de 65 anos, e sogra de Écio Pilli Júnior, de 47. Na segunda à noite, o casal foi preso em flagrante pela Polícia Civil, suspeito de submeter Iva a trabalho análogo à escravidão. Em depoimento, ela contou que não recebia salário, era proibida de sair de casa e não podia nem a atender a porta sozinha.

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    Após ser resgatada, Iva foi acolhida no Lar da Caridade de Vinhedo, instituição filantrópica de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade. Já a outra idosa foi, inicialmente, levada à Santa Casa de Misericórdia, mas recebeu alta, nesta quarta (26), e também foi encaminhada ao abrigo. Lá, voltou a encontrar sua cuidadora, Iva.

    “Quando elas estavam sem contato, dona Iva ficava perguntando: ‘Será que ela tomou o remédio das 9h?’. Este é o cotidiano dela há muitos anos”, relata Galasso. “A gente teve a preocupação de não quebrar esse vínculo abruptamente.”

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    Segundo o secretário, a separação deve ser “devagar”. “Em alguns momentos, ela tem consciência de que foi vítima, mas alterna em outros. Ainda é um processo meio confuso”, diz. “Trouxemos a outra idosa para o abrigo para que dona Iva perceba que ela está bem cuidada lá. Ela vai perceber isso com o tempo e começar a se libertar.” 

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    No dia anterior, Iva já havia recebido visita de uma irmã, que mora em Araraquara. Elas não se viam há mais de 30 anos. A mãe dela também foi localizada no interior do Paraná, terra natal da família. Agora, assistentes sociais analisam se parentes têm condição de recebê-la.

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    Choque

    Iva e a idosa ficavam sozinhas em um anexo (quarto, sala e banheiro), aos fundos de uma casa de outra família, alugado há seis meses. Separado, o acesso se dá por uma escada – imprópria para cadeirantes.

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    “Eu sabia que ela era a cuidadora, mas a via muito pouco: ou lavando roupa ou tirando o lixo. Ela nunca falou nada”, diz o aposentado José Morais, de 68 anos, dono do imóvel. “Foi um choque para todo mundo.”

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    Por sua vez, o casal vivia em outro apartamento, alugado no nome de Iva, segundo a Polícia Civil. Visitavam as idosas três vezes ao dia, dizem vizinhos.

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    A batida policial, na verdade, aconteceu para intimar Iva por estelionato, após um comerciante da região reclamar de cheques sem fundo. No local, os agentes estranharam as condições: não havia sequer comida. “Vocês precisam realmente saber o que está acontecendo, me ajudem”, ela pediu. Foi só depois que os investigadores descobriram que os talões eram usados pelo casal.

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