Entre as atividades ocupacionais que mais registraram mortes por Covid-19 na cidade de São Paulo nos primeiros dois anos da pandemia (2020-2021) estão pessoas empregadas em setores de transportes e tráfego, construção civil e empregadas domésticas, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira (10) pelo Instituto Polis.
As atividades citadas acima foram consideradas essenciais mesmo nos períodos de maior restrição de atividades econômicas no estado de São Paulo.
Para fazer a análise, os pesquisadores tabularam os dados a partir do cruzamento de informações de diversas fontes, tais como Secretaria Municipal de Saúde, DataSus/Tabnet (base de dados do Ministério da Saúde) e ainda obtiveram dados via Lei de Acesso à Informação.
Individualmente, os aposentados representam a maior quantidade de pessoas mortas no período relacionado no estudo, somando 34,1% do total. As donas de casa respondem por outros 17%. Os pesquisadores avaliam que apesar de serem grupos distintos, os dois têm uma coisa em comum: 90% das vítimas eram pessoas idosas, conhecidamente um grupo de risco, com suscetibilidade a manifestações graves da doença.
Foram analisadas um total de 977 ocupações remuneradas, divididas por grupos. Quando se analisa dessa forma, constata-se que 31,8% das mortes foram de pessoas que trabalhavam no setor de serviços, seguido por aqueles que atuavam na indústria (9%), comércio (6,2%).
Para poder saber como as mortes impactaram em determinados grupos de trabalhadores, os pesquisadores dividiram a quantidade de pessoas empregadas em determinada área pelos óbitos registrados neste grupo.
Quando são analisadas as mortes de trabalhadores em transportes e trânsito, por exemplo, percebe-se que o perfil predominante de vítima é homem (94%), sem educação básica completa (88%), negro (37%) e a maior parte atuava como motorista de aplicativo.
Já entre as domésticas, 92% eram mulheres (92%), negras (54%), tinham pouca escolaridade (90%) e eram jovens (42%). Em relação aos trabalhadores na indústria da construção civil, 99% das mortes foram de homens, negros (45%), e idosos (71%). E a maioria composta por pedreiros.
Desigualdades
O amplo estudo também analisou as mortes de uma forma geral –assalariados ou não. É possível perceber que a mortalidade de pessoas negras (ambos os sexos) foi 60% maior do que a média da capital. Quando a comparação é feita com homens brancos, a morte de negros é 30% maior. No caso das negras, elas foram 40% mais afetadas do que as brancas. Esse cálculo é feito sempre levando-se em consideração quantas pessoas (brancas, negras, homem ou mulher), morreram por grupo de 100 mil.
E esse cálculo também indica que a alta mortalidade de Covid tem endereço. E não fica nas regiões nobres, mas sim nas periferias.
Segundo os pesquisadores, isso se explica pelo maior padrão de renda, que possibilita maior acesso a serviços de saúde, melhores condições de moradia e maior possibilidade de isolamento.
“Neste caso, as análises estatísticas demonstram que existe uma forte correlação inversa entre a variável renda e mortes: quanto maior o poder aquisitivo, menores as taxas de mortalidade pela pandemia”, escrevem os autores.
Eles chegaram a conclusão de que as possibilidades de isolamento/distanciamento social, além de adoção de outras medidas não farmacológicas de proteção, são desiguais entre os moradores da metrópole, já que muitas famílias não podem deixar de trabalhar presencialmente durante a pandemia, o que pressupõe uma maior exposição à infecção ao circular pela cidade. “Os deslocamentos em função do trabalho são um fator preponderante ao grau de disseminação do vírus”, escrevem.