Morumbi: expansão imobiliária prejudica trânsito
Bairro sofre com novos edifícios na região do Shopping Jardim Sul
Há quase trinta anos, o empresário Marcus Alfredo Ferraresi avistava árvores, vacas e lagartos do alto da sacada de seu apartamento, na altura do número 5000 da Avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi. Hoje, o que ele vê são arranha-céus por todos os lados e uma fila interminável de veículos lá embaixo. “Os congestionamentos não escolhem mais horário”, lamenta Ferraresi, que na década de 80 levava dez minutos para ir aos Jardins. Atualmente, chega a gastar uma hora e meia. Como ele, que morador do bairro não se queixa do trânsito cada vez que sai de casa? Talvez só quem tenha escritório pertinho ou ande de helicóptero. “Passei a trabalhar mais tarde para fugir dos engarrafamentos”, diz o fotógrafo André Schiliró, dono de um apartamento na Rua Frederico Guarinon. “A situação parece ter piorado depois que o número de prédios aumentou desse jeito.” Segundo um levantamento da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), há dez anos o Morumbi é o bairro que mais concentra lançamentos imobiliários na cidade. Em duas décadas, a região ganhou 8,3 milhões de metros quadrados de área construída sobre 2,8 milhões de metros quadrados de terreno. Apenas no ano passado, 27 espigões foram inaugurados, o que significou 1.781 novos apartamentos e, é claro, ainda mais carros nas ruas da vizinhança. Para se ter uma idéia do caos, um único edifício de 25 andares e cinqüenta apartamentos despeja nas vias cerca de 75 automóveis por hora nos horários de rush. “Bastam dezesseis prédios como esse para lotar uma das faixas da Giovanni Gronchi”, calcula o engenheiro de tráfego Francisco Moreno Neto. Não é à toa que as três principais avenidas da região, a Morumbi, a Giovanni e a Engenheiro Oscar Americano, estão saturadas ou bem próximo disso (veja mapa). A Morumbi, por exemplo, recebe no pico da tarde até 200 carros além de sua capacidade máxima, de 2400 por hora. Tamanho acúmulo de veículos já desvaloriza alguns imóveis da avenida. “Um apartamento de 225 metros quadrados ali sai por 380.000 reais, enquanto no resto do Morumbi pode custar 600.000 reais”, diz a corretora Lucineide de Sousa Santos. A situação chegou a tal ponto, de acordo com a urbanista Regina Meyer, porque a estrutura viária do bairro foi planejada para abrigar casas, e não edifícios. “A verticalização não foi acompanhada de melhorias na capacidade das ruas”, afirma. E o problema está longe de ter fim. “A tendência é de expansão”, prevê Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp. “Ainda há muito terreno disponível.” O entorno do Shopping Jardim Sul é o mais recente alvo das construtoras. Numa única rua vizinha, a Nélson Gama de Oliveira, há pelo menos quatro prédios residenciais em obras. A prefeitura pouco pode fazer para barrar esse boom imobiliário. Pela legislação municipal, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) é a responsável por analisar o impacto desses grandes empreendimentos no trânsito. A dificuldade é que o órgão não tem poder de vetar aqueles com potencial para causar transtornos. “Só nos resta propor medidas para minimizar esses prejuízos”, diz o engenheiro Daniel Cassetari da Silva, da gerência de planejamento da CET. Para o urbanista Cândido Malta Campos Filho, a construção de novas pontes, a pintura de faixas e as melhorias na sinalização são insuficientes para diminuir os congestionamentos. “A lei deveria ser modificada para que a CET pudesse barrar novas construções”, afirma.