Movimento na Mooca quer parque em terreno de 450 milhões de reais
Vizinhos querem que prefeitura dê outro imóvel à construtora como aconteceu com Parque Augusta; moradores recusaram divisão do espaço
Parte do sexto distrito menos arborizado da capital (que também inclui Água Rasa, Belém, Brás, Pari e Tatuapé), com 7 metros quadrados de área verde por habitante, a Mooca luta pela transformação de um terreno na Rua Dianópolis em parque municipal. O espaço de 98 000 metros quadrados — pouco menor que o Parque Burle Marx, no Morumbi — pertence à construtora São José, que pretende erguer ali um condomínio com edifícios comerciais e residenciais.
A empreitada esbarra na liberação ambiental: entre 1945 e 2001, o local foi utilizado como depósito de combustíveis pela petroquímica Esso, o que contaminou o solo com benzeno, chumbo e outras substâncias tóxicas. Essa situação, no entanto, está prestes a ser revertida. Em janeiro, um laudo da Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb) revelou que o lençol freático não tem mais poluentes, restando ser feita apenas a remediação do solo.
Diante da iminência do início da construção do empreendimento, um grupo de moradores recolheu 20 000 assinaturas para pressionar o poder público a transformar a área em parque. A ideia é entregar o calhamaço ao prefeito João Doria. “Nada foi virtual, espalhamos cartazes pelo comércio do bairro e fizemos visitas à casa das pessoas para explicar o projeto”, afirma o engenheiro Aluizio Tonidandel, fundador do movimento Mooca-10.
A mobilização sensibilizou o vereador Gilberto Natalini (PV), ex-secretário do Verde e do Meio Ambiente da atual gestão, que criou em janeiro um projeto de lei sobre o tema. “A transformação de uma antiga área contaminada em parque poderá se tornar um exemplo para o mundo”, diz o vereador. O projeto passou em fevereiro pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e ainda não tem prazo para entrar em votação no plenário.
Enquanto o jogo político corre no Legislativo, os interessados tentam viabilizar a questão financeira, em época de aperto nas contas. Segundo estimativas, o terreno na Mooca não custa menos que 450 milhões de reais. Só o valor do IPTU é de 1,5 milhão de reais. A ideia dos moradores é convencer a prefeitura a repetir o modelo que está sendo implantado no Parque Augusta, na região central, e oferecer à construtora outro terreno do município em troca da área desejada.
Ou seja, na prática, os cofres públicos deixariam de lucrar com a venda de seu espaço. Para se ter uma noção do montante envolvido, basta dizer que seria suficiente para construir dois hospitais com 250 leitos cada um. Uma alternativa para não sacrificar o tesouro municipal foi proposta pelo vereador Adilson Amadeu (PTB).
O plano seria destinar apenas um terço do local para a criação de um parque, mas sob administração da construtora, que ergueria o condomínio no restante da área. “A proprietária adorou a ideia, mas a comunidade não quis. Não tem cabimento a prefeitura pagar por isso”, diz Amadeu. A companhia não quis se pronunciar sobre a questão.
Além do dinheiro necessário à aquisição do lote, outro entrave para a viabilização do negócio é o alto custo envolvido para a construção e manutenção de um parque público. No ano passado, a prefeitura gastou 13 milhões de reais para inaugurar o do Chuvisco, no Campo Belo, que tem um terço do espaço disponível no terreno da Mooca. O valor anual para a conservação de um equipamento de porte similar, como o Alfredo Volpi, no Morumbi, é de cerca de 1,3 milhão de reais, neste caso bancado pela iniciativa privada.
Para criar burburinho ao redor do projeto, um grupo de voluntários promete plantar 500 mudas de árvore no terreno, um gesto simbólico, longe das somas milionárias para tirá-lo do papel. “As aves passam longe do bairro, queremos atraí-las com árvores frutíferas da Mata Atlântica”, afirma o advogado Danilo Bifone, da ONG Muda Mooca.