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Os altos e baixos de Mike Deodato Jr, o brasileiro dentro da Marvel

Atração da Brasil Comic Con, desenhista de Wolverine conta que já foi demitido e chegou a ilustrar sites pornôs antes de integrar time principal da editora

Por Juliene Moretti
Atualizado em 5 dez 2016, 15h49 - Publicado em 12 jul 2013, 18h48

Um dos principais destaques desta edição do Anime Friends, o desenhista brasileiro Mike Deodato Jr., responsável pelos atuais quadrinhos de Wolverine, da Marvel, diz que para estar na posição que ocupa (entre os dez principais quadrinistas da editora americana) passou por altos e baixos. “O fundo do poço era tão fundo, que eu cheguei a fazer ilustrações para um site pornô. O que, na verdade, era bem engraçado”, diz. Nascido em Campina Grande e morador de João Pessoa, na Paraíba, há 50 anos, ele diz que por diversas vezes pensou em morar fora do país para ficar mais perto das grandes editoras. No entanto, graças à tecnologia, não precisou deixar a família para trabalhar. Bem humorado, ele fala à VEJA SÃO PAULO.COM sobre sua trajetória antes de participar da primeira edição da Brasil Comic Con, neste domingo (14), às 15h.

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Qual a sua principal influência? Definitivamente, meu pai. Ele era jornalista, sempre quis desenhar. Quando eu era pequeno, começou a me levar para esse caminho. Fizemos um quadrinho juntos e vi que levava jeito. Ele sempre me apoiou. No fim, acho que ele se realizou através de mim. Outras duas influências foram Ziraldo e Mauricio de Sousa.

O Ziraldo, porque eu era cartunista em um jornal e seguia muito suas referências.Uma vez, mandei uma história que eu tinha feito para ele e achei que me responderia apenas “Parabéns, continue assim”. Levei um susto quando o assistente dele me ligou perguntando se eu queria acompanhar a comitiva brasileira numa exposição de quadrinhos na França. Eu tinha 22 anos, doze de mentalidade. Meu pai pediu dinheiro emprestado e eu fui. Estava ao lado dele, do Paulo e Chico Caruso, Mauricio de Sousa. O Mauricio foi outro. Ele me emprestou um casaco, porque eu não tinha roupa de frio. Ele cuidou muito de mim. Estava sozinho. Foi de uma grande ajuda.

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Como você chegou aos Estados Unidos? Eu tinha um agente que me ajudou com alguns contatos. Fiz uma viagem e fui em todas as editoras, até as pequenas, para apresentar meu portfólio. Não adiantava mandar as ilustrações por correio porque ninguém nem abria. Numa dessas, fui ao escritório do Neal Adams (desenhista de Batman e Lanterna Verde), um dos caras que eu admirava. Ele olhava com cara de nojo para os meus quadrinhos e disse que eu nunca conseguiria desenhar super-heróis. Fiquei decepcionado. Então, aproveitei a viagem para comprar vários quadrinhos que não chegavam ao Brasil e adaptei o meu traço mais realista para o mais fantástico e ficou uma mistura dos dois. Meu agente voltou lá sem mim e o cara me contratou na hora. Hoje eu sei que ele já falou para o filho dele que se ele quer aprender a desenhar tem que ver meus traços. Fiquei orgulhoso.

E assim, você entrou no mercado? Sim, fui migrando até chegar na Marvel. Realizei meu sonho. Peguei quatro revistas para fazer todo o mês. Trabalhei muito. Lá foi meu auge, mas também, meu declínio. Acabei assumindo muitas responsabilidades e no fim, meu desenho foi decaindo. E eu fui dispensado. Tive que começar tudo de novo. Cheguei em um ponto do fim do poço que passei a fazer ilustrações para site pornô. Bem, no fim, isso até foi legal. Melhorei meu traço, voltei com as pequenas editoras e assim, retornei para a Marvel. Primeiro com alguns desenhos pequenos e depois, eles já me deram o Hulk para fazer. E voltei definitivamente em 2011.

Qual seu super-herói favorito? De ler, o Capitão América. Ele é o mais bom moço de todos. E eu tento ser igual a ele. Respeitar as pessoas, saber ouvir, respeitar os meus prazos. Eu sempre acabo me dando mal, mas a moral fica. Desde pequeno eu gostei da boa índole dele. Já para desenhar, o Wolverine, com certeza. Eu gosto dele porque é selvagem, orgânico. No quadrinho, ele não é bonitão de um metro e noventa como o ator que interpreta no filme. Ele é baixinho e peludo. E ele também tem menos crises de consciência do que nos filmes. Eu queria fazer ele fumando, mas a Marvel não deixa. Influenciaria as crianças. Eles estão certos.

Quais sãos os nomes brasileiros os quais você aposta? Tem muitos bons nomes. Rafael Grampá, Fábio Moon e Gabriel Bá, Rafael Albuquerque. Eles são talentosíssimos. E eu tenho um pouco de inveja porque na minha época a gente só podia trabalhar com o desenho, a mão-de-obra barata, coisa de peão. Eles não. Eles já chegam com um enredo fechado e bem escrito, além dos desenhos incríveis. Queria ter começado agora também.

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