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Com agenda cheia, médicos atendem pacientes até de madrugada

Perfil de quem recorre aos horários alternativos é de pessoas que trabalham, têm urgência para começar um tratamento e podem desembolsar até 1 500 reais pela consulta

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 15h55 - Publicado em 8 out 2016, 00h00
DAVID UIP INFECTOLOGISTA
O infectologista David Uip (Laílson Santos/Veja SP)
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Quem liga para a secretária do oncologista Fernando Maluf em busca de um espaço na agenda do profissional ouve do outro lado da linha opções a partir das 4h30, quando nem as galinhas e os sabiás despertaram. Devido à urgência do assunto — afinal, nenhum tipo de câncer pode esperar para ser erradicado —, o especialista faz encaixes para que o paciente não aguarde mais que uma semana para ser atendido.

O médico levanta-se da cama uma hora antes de começar a trabalhar e vai do Paraíso, onde vive, em um apartamento com vista para o Parque do Ibirapuera, a seu consultório, na região da Avenida Paulista. “Venho com o silêncio e a tranquilidade da madrugada”, diz. Outros colegas também adotam horários alternativos para dar conta da demanda. O cardiologista Roberto Kalil Filho e o infectologista David Uip fazem parte da turma da hora extra. Eles costumam se manter em atividade até depois das 23 horas. Mesmo assim, o interessado precisa aguardar quase um mês para conseguir uma vaga.

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Sinônimos de excelência em suas respectivas áreas, esses profissionais são exemplos de uma tendência no ramo da medicina particular: o atendimento corujão. Há várias razões para encarar um check-up depois do jantar. Uma delas é a agenda atarefada dos próprios médicos. “Passo as manhãs no Incor, do qual sou presidente, e à tarde fico no Hospital Sírio-Libanês para me dedicar a quem está internado”, afirma Kalil, que cuida da saúde de personalidades como o ministro José Serra e o ex-presidente Lula.

À noite, o cardiologista recebe o público de seu consultório. Uip faz jornada dupla: durante o dia cumpre os compromissos como secretário estadual de Saúde e, a partir das 18 horas, instala-se em sua clínica, no Jardim América. “Já cansei de encerrar os atendimentos depois da 1 da madrugada”, conta. Ele dorme entre as 2 e as 6 horas, quando acorda para fazer esteira e simulador de remo em sua casa. Outro motivo para a proliferação dos plantões da madrugada é a disponibilidade cada vez menor dos pacientes. “Com a vida corrida dos paulistanos, minhas consultas em horários noturnos aumentaram 50% nos últimos três anos”, calcula Uip.

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A receita para seguir de portas abertas enquanto muitos dormem é manter uma estrutura de qualidade. Maluf usa uma sala com papel de parede cinza-claro no prédio do Hospital São José, na Bela Vista, ond eé chefe da oncologia clínica. “Disponho de enfermeiras e remédios para uma internação imediata, caso necessário”, explica. Há quem tenha iniciado a quimioterapia menos de 24 horas depois da primeira consulta. “As pessoas ficam agradecidas pela chance de já começar o tratamento.”

oncologista Fernando Maluf
oncologista Fernando Maluf ()

O atendimento em horários alternativos também é adotado por médicos em ascensão no mercado. “Muitos nos procuram porque, nesses extremos de agenda, não há a correria do dia, e podemos oferecer mais atenção”, conta o cardiologista Fernando Ganem. Para ele, atender tarde da noite tem uma vantagem extra: evitar o trânsito. Depois das 23 horas, Ganem perde apenas vinte minutos no trajeto da Bela Vista, onde trabalha, ao Morumbi, bairro de sua residência.

Em cima de um salto Salvatore Ferragamode 15 centímetros, do qual diz não se cansardurante a jornada entre as 10 e as 24 horas, atricologista Ana Carina Bertin recebe 25 pacientes por dia. Seu consultório, em um casarão no Jardim América, é decorado com lustre de cristal e sofás de couro cru. Há manobristas e seguranças até tarde da noite. “Como meu caso é de estética, focado em tratamentos para ajudar a crescer cabelo, não tenho necessidade de estar em um hospital”, afirma.

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A fila de espera para consultas às 22 horas é de um mês. O perfil de quem recorre aos horários diferentões é semelhante: pessoas que trabalham, têm urgência para começar um tratamento e não se importam em desembolsar 1 500 reais pela consulta. Parte dessa clientela atua na área da saúde. “Estou de mudança e finalizando um estudo acadêmico. É mais conveniente marcar para tarde da noite”, justifica a radiologista Rosa Sigrist, paciente de Ana Carina.

tricologista Ana Carina
tricologista Ana Carina ()

Veja alguns dos doutores da madrugada. 

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Fernando Maluf, oncologista

Primeira consulta: 4h30

Valor: 900 reais

David Uip, infectologista

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Última consulta: 23h

Valor: 1 100 reais

Roberto Kalil Filho, cardiologista

Última consulta: 22h

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Valor: 1 500 reais

Ana Carina Bertin, tricologista

Última consulta: 23h

Valor: 480 reais

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