Quando ainda morava na Rua João Ramalho, em frente à PUC, perto da Rua Cardoso de Almeida, em Perdizes, meu amigo Antonio Prata resolveu capturar um pernilongo.Temia que fosse um Aedes aegypti, transmissor da dengue, e quis tirar a dúvida. Para tanto, seria preciso levar o inseto até o posto de saúde do bairro para uma inspeção. Providenciou uma jarra de maionese lavada e saiu à caça. Antonio, para quem não sabe, é escritor de novelas e crônicas, entre outros textos, sempre muito bons. Gosta de contar uma história. Se me lembro direito desta, o mosquito foi isolado em uma parede branca, capturado e fechado dentro dovidro. Não sei se foram abertos buraquinhos para ele respirar.
Antonio trocou a casa na João Ramalho por outra, próximo à Rodovia Raposo Tavares, onde há um contato maior com a natureza. Mas, a julgar por um texto seu postado no Twitter, ele continua firme no combate a esses bichos. Dia desses, postou: “Se você não tem uma raquetinha elétrica de explodir mosquitos, não está vivendo”. Ao que respondi, com exagero, pela mesma rede social: “É a maior invenção de todos os tempos”. Tenho três em casa.
Vale a pena dar um googlada nestas duas palavras mágicas: raquetinha elétrica. Você encontrará imagens em movimento de mosquitos sendo mortos, um a um, por essa engenhosa ferramenta. Nos filmes, há quem afirme ser “uma diversão de pobre”. Outros fazem com ela “testes” de inteligência duvidosa, do tipo “não tente isso em casa”. A raquete inspira emoções fortes. Os usuários transbordam de alegria.
Tenho uma tese a respeito do sucesso da ferramenta. A chave é o barulhinho. Funciona assim: você passa a raquete por cima do pernilongo como se ele fosse a bola em um jogo de tênis. Basta encostar os fios metálicos no bichinho voador. Uma corrente elétrica alimentada por pilhas recarregáveis eletrocuta o inseto e gera um barulho imediato de fritura. É esse som que dá a você a certeza de vitória. Trata-se de uma rápida e fácil afirmação do poder da nossa espécie.
O mosquito está entre os poucos animais que o homem não conseguiu dominar, domesticar ou extinguir. Se houvesse placar na guerra entre espécies, aliás, não seria exagero dizer que esses insetos estão na frente por 2 x 1. Como define o escritor Philip Bump, em um artigo chamado “Estamos chegando à conclusão de que os mosquitos são basicamente invencíveis”, eles são irritantes. Mas não só. São responsáveis por mais de 500 mil mortes por ano mundialmente através da transmissão de malária e outras doenças. E a situação só piora. De acordo com o autor, os bichinhos vêm se adaptando aos ingredientes mais comuns nos repelentes e até mesmo às redes. Suspeita-se que houve uma mutação genética que os torna menos sensíveis aos odores de certos compostos químicos. No caso das redes instaladas para que possamos dormir em segurança, os insetos já tiram de letra: simplesmente passam a caçar mais durante o dia. Sentimos isso tudo na pele. Somos perseguidos por seu barulhinho. Eles nos irritam, nos preocupam e atrapalham nossa vida. Daí a satisfação gerada pela raquete elétrica. Ela corta todas as frustrações do ser humano diante do destino natural, matando o inimigo com eficiência e facilidade. Vai direto ao ponto.
Diferentemente do que aconteceu com Antonio Prata na João Ramalho, não há prisioneiros. Naquela ocasião, o escritor chegou a levar o mosquito preso ao posto de saúde, onde ele foi examinado. Perguntado se se tratava de um legítimo Aedes aegypti, o vigilante sanitário levantou o vidro de maionese aos olhos e sentenciou: “É o danado”.
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