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Abel Rocha retoma programação de ópera no Municipal

À base de muita conversa, maestro conseguiu reconquistar os músicos e resolver alguns problemas crônicos

Por Jonas Lopes
Atualizado em 14 Maio 2024, 10h59 - Publicado em 9 dez 2011, 23h50
Ensaio - O Morcego - Abel Rocha - 2247 - 50
Ensaio - O Morcego - Abel Rocha - 2247 - 50 (Fernando Moraes/)
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Sentado em uma cadeira e acompanhado somente por um piano, Abel Rocha organiza um grupo de cerca de 100 pessoas na cúpula do Teatro Municipal, entre cantores solistas, coros e bailarinos. Trata-se do ensaio de uma cena do enredo da opereta “O Morcego”, de Johann Strauss II, espetáculo com apresentações previstas na cidade para segunda (12) e quarta (14). É tamanha a quantidade de gente envolvida no negócio que parece impossível alguém pôr ordem na balbúrdia. Mas, quando o maestro conta até três e dá início à ação, tudo transcorre perfeitamente. No final, eles se aplaudem. O clima sossegado tem sido uma constante desde a escolha do paulistano de 50 anos como diretor artístico do Municipal, em fevereiro. Uma façanha, considerando a situação encontrada quando ele assumiu o posto.

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Os dois antecessores deixaram o cargo em menos de seis meses. Rodrigo de Carvalho foi derrubado por integrantes da Orquestra Sinfônica Municipal em outubro de 2010, ao passo que Alex Klein pediu demissão em fevereiro, reclamando de ingerência administrativa — além disso, rumores indicavam que os músicos estavam incomodados com a rotina rígida de ensaios. “Abel se revelou um ótimo piloto para enfrentar um cenário turbulento”, afirma o jornalista João Luiz Sampaio, crítico de música erudita de “O Estado de S. Paulo” e organizador do livro “Ópera à Brasileira”.

Para pôr ordem na casa, o novo responsável pela batuta atacou em duas frentes. Com os artistas sob o seu comando, apaziguou os ânimos à base de muitas conversas e de uma postura diferente no trabalho. “Ele é exigente, mas sempre nos consulta quando se trata de assuntos administrativos”, afirma o percussionista Paschoal Roma, funcionário do Municipal há mais de trinta anos. As comparações com os outros maestros são inevitáveis. “Abel já trabalhou aqui, regendo o Coral Paulistano entre 1987 e 1990, por isso conhece bem as limitações da casa”, diz o primeiro-violino Pablo de León. “Klein tinha a experiência de oboísta da Sinfônica de Chicago, uma das melhores orquestras do mundo, e queria implantar aqui o mesmo ritmo de lá. Só seria possível com o dobro de pessoal.”

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Ao mesmo tempo em que reconquistava os músicos, ele se dedicou a resolver alguns problemas crônicos. Sem o seu palco tradicional, a Orquestra Sinfônica Municipal ensaiava num local improvisado, a Galeria Olido. “Todos haviam perdido a rotina de trabalho”, diz o condutor. Encarada a encrenca, foi necessário levar a cabo a programação pré-combinada, de modo que o espaço tivesse um semestre ativo. “Quando o secretário me procurou, expus minha ideia da retomada da programação de ópera, nosso diferencial.” O teatro foi reaberto em junho e festejou o centenário em setembro, com uma montagem de “Rigoletto”, de Verdi. Além de reger “O Morcego”, cuja direção cênica, de William Pereira, atualiza a história para os dias atuais, Rocha prepara o calendário de 2012 com menos correria. “Meu sonho é planejar tudo com três anos de antecedência”, diz.

Foi aprovado neste ano o projeto para que o teatro seja administrado por uma organização social, nos moldes do que ocorre com a Osesp. Dessa forma, os instrumentistas terão a situação trabalhista regularizada — apenas 38 dos 115 músicos da OSM são funcionários de carreira, por exemplo — e os benefícios garantidos. A captação de recursos também ganha flexibilidade. “Na situação atual, muita gente precisa se dedicar a vários empregos”, explica Carmen Garcia, primeira flautista da formação. O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, acredita que o principal ganho trazido pela nova organização, que tem previsão de ser implantada até a metade de 2012, será proteger a casa da instabilidade política. “Muda a gestão na prefeitura e tudo recomeça do zero”, afirma.

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Especializado no território lírico, Rocha estudou regência na Unesp. Depois de cursar mestrado na Alemanha, voltou ao Brasil e teve, entre 2004 e 2009, um mandato elogiado na Banda Sinfônica do Estado. Divorciado e pai de duas filhas (uma de 15 anos, outra de 12), mora em Higienópolis e gosta de promover reuniões gastronômicas em seu apartamento. Ele mesmo se encarrega de comandar a cozinha, caprichando em receitas exóticas com ingredientes como carne de jacaré e de avestruz. Sobre o futuro do Municipal, acredita que é hora de formar um novo público para ópera na cidade e, ao mesmo tempo, suprir a expectativa dos aficionados. E não se posiciona em relação à velha discussão sobre se as obras devem ser encenadas segundo a tradição ou com inovações cênicas. “A boa versão é aquela que surpreende, não importa a forma.”

Notas de orquestra

A formação e o perfil do condutor

Nome: Abel Rocha

Idade: 50 anos

Formação: graduação em regência na Unesp, mestrado em regência de ópera na

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Robert Schumann Hochschule, de Düsseldorf, e doutorado em música na Unicamp

Compositores de ópera favoritos: Monteverdi, Mozart, Verdi, Wagner e Puccini

Equipe: 570 pessoas estão sob o seu comando, incluindo os oito corpos estáveis do Municipal, entre eles a Sinfônica e o Coral Paulistano

Hobby: quando não está nos palcos, adora cozinhar. Gosta de fazer pratos exóticos, com

ingredientes como carne de jacaré e de avestruz

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