Silvia Alves: “Mãe, posso sair para fumar maconha?”
A farmacêutica de 28 anos é moradora de Santana, na Zona Norte
“Meu único filho, de 14 anos, está angustiado. Há uma semana, um psiquiatra receitou um coquetel de cinco remédios para aliviar sua sensação de fissura constante. Fazem parte do coquetel um sedativo e um antipsicótico, tudo isso para controlar a agressividade contra mim e o desejo das drogas. Como efeito colateral, fica letárgico e falando mole. Todo esse inferno começou quando, por curiosidade, ele experimentou maconha, aos 11 anos. Logo em seguida, cheirou cocaína. Há seis meses, caiu na besteira de fumar crack. Até então, ele morava com meus pais, na cidade de Artur Nogueira, no interior de São Paulo. Depois de se tornar viciado, voltou para a minha casa. Em pouco tempo, passou a vender tudo ou a trocar por pedra. Tênis, relógio, perfume, liquidificador. Nada escapa. Ele levava aos traficantes, trocava pelo que iria consumir na hora e voltava para nossa casa para pegar mais. Não acredito em nada além da internação. Há momentos em que estamos em casa e ele me diz: ‘Mãe, me deixa sair para fumar maconha?’. Eu, claro, não cedo. Neste mês, pedi licença do trabalho para cuidar dele. Um dia ainda o verei como um DJ famoso, sonho que nutria antes de virar um viciado. Seu ídolo é o MC Dodô, cuja principal música se chama Fé na Vitória.”
+ O drama de famílias que recorreram ao novo programa de internação
+ Em vídeo: ex-viciados em crack falam sobre sua recuperação