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“Minha primeira decisão é não ter outro AVC”, diz Leonardo Casal

Subprefeito de Pinheiros fala do prédio construído sem licença no Itaim, faz críticas ao Carnaval e relembra quando dirigiu uma moto após perder consciência

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 28 Maio 2024, 09h00 - Publicado em 31 mar 2023, 06h00
Leonardo Casal em seu gabinete. Ele está de camisa formal azul claro
No gabinete: verba extra para zeladoria em ano pré-eleitoral (ALEXANDRE BATTIBUGLI/VEJA SP/Veja SP)
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Leonardo Casal, 49, assumiu a subprefeitura de Pinheiros, em fevereiro, em meio à tempestade. O anterior tinha sido exonerado após o prefeito Ricardo Nunes (MDB) reclamar de bueiros entupidos na região, o Carnaval estava prestes a chegar e um prédio de luxo quase totalmente construído foi flagrado sem as devidas licenças, na Rua Leopoldo Couto de Magalhães, no Itaim, fiscalização de responsabilidade do órgão.

Um início agitado para quem esperava dias mais tranquilos, após uma experiência traumática que viveu enquanto comandava a subprefeitura da Lapa, entre 2019 e 2021.

Quando era subprefeito da Lapa, você sofreu um AVC enquanto dirigia uma moto, uma história que nunca contou em entrevista. Como foi? Sim. Sempre andei de moto. Naquela manhã, a última memória que tenho é de pegar o capacete em casa, na Rua Toneleiros, na Lapa. Dali para a frente, só lembro de flashes. Lembro de estar com a moto parada no meio da Toneleiros. Depois, estava na Cerro Corá, a moto no chão, alguém me ajudando a levantar. Continuei dirigindo e cheguei até meu terapeuta, na Vila Madalena, às 7h. Ele percebeu o que estava acontecendo — eu tinha dificuldade para andar, meus olhos “balançavam”, eu invertia as sílabas nas palavras. Ao todo, dirigi 4 quilômetros até lá, totalmente inconsciente. Minha esposa me levou para o São Camilo, onde fiquei quatro dias na UTI. Foi, na verdade, um AIT (acidente isquêmico transitório). Eu andava muito agitado. Foi em janeiro de 2021, um ano após assumir a subprefeitura da Lapa.

Você associa o evento a algum estresse que vivia na subprefeitura? Tem ligação. Porque sou muito estressado. Tenho uma autocobrança forte no trabalho. Ou tinha. Quando vim para cá, minha primeira decisão foi não ter outro AVC. Não deixar que as emergências me consumam.

Mas chegou em um momento agitado, em meio à polêmica dos bueiros. Como lidou com a questão? A história do bueiro repercutiu, mas acho que o prefeito já queria fazer a troca (na subprefeitura), para deixar as coisas mais com a cara dele. Ele viu o bueiro e mandou o recado para o ex-subprefeito (Richard Haddad): “Pô, se vocês não cuidam disso, o que estão fazendo aí?”. O Nunes é prefeito, ninguém pode mandá-lo embora. Se, mesmo com essa tranquilidade, ele trabalha até meia-noite, o mínimo que espera (de um subprefeito) é algo parecido.

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“No Carnaval, vi pessoal da CET reclamar dos locais das barreiras, SPturis com falta de gradis… Dou nota 7 (à organização da Secretaria de Cultura)”

Quem é o culpado pelos bueiros entupidos? O alto número de prédios em construção na região tem a ver? Em muitos casos, a culpa é das obras, sim. O bueiro que deu o rolo (com Nunes) era um desses. É o problema da “nata” do concreto. Muitas vezes, o motorista de betoneira lava o concreto que sobra dentro do veículo na própria obra. O certo seria ele voltar com a betoneira ligada, para o concreto não secar, e fazer o descarte na empresa. A quantidade de obras em Pinheiros é uma agravante, sim.

A responsabilidade de fiscalizar é da subprefeitura. Por que não é feito? Isso já começou a mudar. No dia 24, o prefeito sancionou uma lei que aumenta o valor da multa para as empreiteiras nessas situações. Subiu de 1 000 para 30 000 reais. Era um valor insignificante. Mesmo se a gente multasse uma empreiteira todos os dias, o que as leis nem permitem, valeria mais a pena para ela fazer o descarte incorreto. Também tenho multado as próprias concreteiras (terceirizadas). Desde que cheguei, aplicamos 41 multas por descarte de nata de concreto em bueiros da região.

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A Secretaria de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) emite as licenças das obras, mas a subsecretaria faz a fiscalização. Os dois órgãos estão bem integrados? A prefeitura tem um problema de comunicação. A SMUL emite as licenças, mas esqueceu-se de conectar os sistemas para as subprefeituras serem informadas das novas construções. A gente procura rua por rua para encontrar as obras, apenas com cinco fiscais. Mas estamos integrando os sistemas, o que ainda não tem data para acontecer.

A construção de luxo na Rua Leopoldo Couto de Magalhães: como a obra chegou àquele ponto sem licenças? Foi instaurado um processo na controladoria do município para ver o que aconteceu. O que sei é que já foram ouvidos fiscais da subprefeitura e o dono da construtora.

Existe suspeita de corrupção? Exatamente.

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Qual será o destino do prédio? Pode-se resolver isso pela compra de CEPACs no mercado (as licenças que faltaram), ou pode não se resolver e a Justiça determinar a demolição. Não tenho opinião sobre o que seria a melhor solução. Pode-se, ainda, pensar nas pessoas que compraram apartamento e vão levar anos para reaver o dinheiro… Não tem solução perfeita. Os casos anteriores foram todos judicializados. Aí a tendência é que a solução demore anos.

A verba de zeladoria aumentou, o que se pode esperar de melhora? Sim, nosso orçamento foi de 20 para 36 milhões. Houve um aumento expressivo em toda a cidade. Estamos começando mutirões para zerar os pedidos de limpeza de bueiro, corte de árvores, troca de guias de calçada. O campeão de pedidos é a poda de árvore, tem uma fila grande. Não é possível zerá-la porque parte dos cortes depende da Enel, e a empresa tem um contrato no qual pode ser multada se fizer cortes de energia, então, quando a gente pede o desligamento, é um problema. Precisamos parar de brigar e sentar para conversar seriamente.

O Carnaval, antes organizado pelas subprefeituras, passou para a Secretaria de Cultura (Secult). Houve falhas na organização em 2023? Talvez falhas de comunicação. A Cultura olha o Carnaval sob a ótica da festa, das atrações. A subprefeitura olha a segurança, a desobstrução das vias, o acesso. Talvez tenha faltado uma conexão entre as duas visões. Coisas que eu vi (durante a festa): o pessoal da CET dizendo que os bloqueios ficariam melhor em outro lugar “mas ninguém nos perguntou”, a SPTuris sem quantidade de gradis suficiente para montar os acessos, banheiros químicos que atrapalhavam a segurança da PM, porque obstruíam a visão das ruas… Acabei ajudando meio no improviso, até carreguei gradis. No ano que vem, pode ter certeza: vamos participar. Mesmo que a verba seja da Secult, vamos sentar na mesa da organização.

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Que nota dá à organização? Nota 7. Mas sou exigente. É uma nota boa.

Publicado em VEJA São Paulo de 5 de abril de 2023, edição nº 2835

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