Continua após publicidade

Leilão de parques estaduais da capital se aproxima; entenda o que pode mudar

Parques Água Branca, Villa-Lobos e Cândido Portinari podem ser concedidos à iniciativa privada; entidade tenta impedir a concessão

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h15 - Publicado em 25 mar 2022, 06h00
Imagem mostra casa amarela em frente a gramado.
Galinhas no gramado do Água Branca, na Zona Oeste (Sima/Divulgação)
Continua após publicidade

As paredes amareladas dos setenta edifícios do Parque da Água Branca aguardam o restauro: a cor deve permanecer igual, mas quem vai aplicar a tinta não será o estado. No dia 31 de março, o equipamento, junto com o Villa-Lobos e o Cândido Portinari, vai ganhar um novo administrador, privado.

O vencedor do leilão, que será realizado na sede da B3, no centro da cidade, deverá investir ao menos 61,6 milhões de reais nos três endereços, mas o que deve mudar nos próximos anos? “Os banheiros, locais de alimentação, bebedouros, todos esses equipamentos básicos são os primeiros que devem receber melhorias”, explica o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente da gestão João Doria (PSDB), Marcos Penido.

+ Com obras paradas, trecho norte do Rodoanel vira parque para moradores de SP

É proibida a cobrança de ingressos para a entrada. A concessão é de trinta anos e 46,9 milhões precisam ser investidos nos seis primeiros anos de contrato. “Poderão explorar a parte de alimentação, eventos, publicidade e venda de produtos”, diz Penido.

O Água Branca, com 136 000 metros quadrados e 2,9 milhões de visitantes por ano antes da pandemia, é o mais escorregadio dos investimentos. “É preciso fazer a reforma dos edifícios, manutenção das trilhas, da estrutura do parque”, diz o secretário.

Os prédios poderão ser ocupados, por exemplo, por novos restaurantes e lanchonetes, mas as atividades voltadas para a terceira idade e o espaço de leitura vão permanecer ali, assim como o programa de equitação para pessoas deficientes e ações de conscientização ambiental.

“O mais superavitário talvez seja o Villa-Lobos, com visitação grande. Eu tenho um parque que gera mais recursos e que consegue bancar outro que precisa desses recursos, a estratégia é essa”, analisa o presidente do Instituto Semeia, Fernando Pieroni, ONG que auxiliou o governo no desenvolvimento do projeto de concessão.

Continua após a publicidade

Na comparação, o Villa-Lobos teve em 2019 6,4 milhões de visitantes em seus 723 000 metros quadrados. “Pela lei, era preciso um estudo de impacto ambiental, para ter ideia do que pode acontecer com o ÁguaBranca após a concessão. Entrei com uma ação pedindo a anulação do edital”, diz a advogada Evânia Maria Santa Cruz, 52, do movimento S.O.S Parque da Água Branca.

A entidade lançou um abaixo-assinado, que conta com mais de 17 000 adeptos na internet, alegando falta de diálogo por parte do governo. “Eu frequento o parque desde criança. Não sou contra a concessão, sou contra a forma que foi feita, sem transparência”, diz Evânia. “Nós fizemos audiência, consulta pública, reuniões para a população. Tudo o que estava previsto na lei foi cumprido”, responde Penido.

Há 32 anos, a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) realiza uma feira de hortaliças em um dos galpões do parque, permanência de futuro incerto. “São 54 expositores. A maioria vê com bastante temor a concessão, o tempo de discussão foi muito curto. Nós temos uma preocupação com o valor que pode ser cobrado de aluguel”, diz a presidente da AAO, Polyana Villa Boas, 52.

Imagem mostra espaço com diversos balcões com vegetais e frutas.
A feira de orgânicos da AAO no último fim de semana. (Guilherme Queiroz/Veja SP)
Continua após a publicidade

Atualmente, a cessão do espaço é gratuita para a entidade. A feira orgânica, queridinha dos frequentadores, vai permanecer. Mas talvez não seja com o mesmo mantenedor. “Tem de ser melhor do que é hoje. Não tenho que me preocupar com quem vai prestar o serviço, mas com a qualidade. Mas se o atual parceiro se mostrar capaz de trazer melhorias, por que não?”, diz o secretário, sobre a decisão que caberá ao concessionário.

Outro ponto nevrálgico são as galinhas e pintinhos que circulam e se reproduzem dentro do Água Branca. O plano diretor do parque, que deve ser seguido pelo futuro administrador, prevê a diminuição no número desses animais. “As características serão mantidas. Mas tudo que é demais é doença. Não adianta falar que acha bonito sair andando no parque e tropeçar em galinha. A própria USP (que realiza um acompanhamento das aves no endereço) recomenda a redução do número de animais”, responde Penido.

+ Campo de Marte: Bolsonaro assina acordo com Nunes e São Paulo encerra litígio judicial de seis décadas

Já no Villa-Lobos, o novo gestor deve potencializar o número de eventos no endereço e estudar a viabilidade de atividades de lazer noturnas, como shows e peças de teatro. A biblioteca que existe no local permanecerá sob a tutela da Secretaria de Cultura.

No Portinari, colado ao Villa-Lobos, com seus 4,9 milhões de visitantes em 2019 e 121 000 metros quadrados, a roda-gigante de 90 metros de altura anunciada para o endereço (que deveria ter sido inaugurada no fim de 2021) permanece nos planos. “Com a concessão há a prestação de um melhor serviço para a população e a geração de emprego e renda. O estado se desonera daquilo que não é sua obrigação primária. O setor privado sabe explorar e melhorar”, defende Penido.

Continua após a publicidade
Imagem mostra espaço aberto com corredor de palmeiras e pessoas caminhando.
Parque Villa-Lobos: 6,4 milhões de visitantes por ano. (Guilherme Queiroz/Veja SP)

A opinião de que essa é a melhor saída não é consenso. “Todo processo de concessão significa a transferência do poder decisório do ente público para outro, no caso, o privado. A lógica deixa de ser o bem comum, e as atividades com fins lucrativos são priorizadas”, diz o arquiteto e urbanista Toni Zagato, mestre em políticas públicas. “Lembra do estádio do Palmeiras antes da concessão? É a mesma lógica. A população que está se colocando contra vai ser a mais beneficiada. Os conselhos dos parques vão continuar a existir e a concessionária deverá ter um serviço de avaliação da prestação dos serviços”, rebate Marcos Penido.

No dia 31, o Água Branca, o Villa-Lobos e o Portinari serão ofertados a quem oferecer o maior valor de outorga. O lance mínimo começa em 1,5 milhão de reais. Além desse montante, o administrador deverá pagar ao governo uma taxa de 3% sobre a receita mensal adquirida com os parques. As galinhas, a biblioteca e a roda-gigante são certas, mas o que virá depois, é preciso paciência para descobrir.

+Assine a Vejinha a partir de 12,90. 

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA São Paulo de 30 de março de 2022, edição nº 2782

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.