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Quem é Leila Pereira, presidente da Crefisa e mecenas do Palmeiras

De advogada a cartola, a trajetória da executiva que dá ao Verdão o maior patrocínio do futebol brasileiro

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 7 dez 2018, 10h06 - Publicado em 7 dez 2018, 06h00

A sandália branca de salto alto incrementa o porte esguio — 1,75 metro de altura e 57 quilos — e dá leveza aos passos no “desfile” por um camarote no estádio Allianz Parque no último domingo (2), data da partida entre Palmeiras e Vitória e da comemoração do décimo título do Campeonato Brasileiro do clube paulistano. Leila Mejdalani Pereira atravessa o salão decorado com um papel de parede que estampa seu rosto e símbolos da agremiação. Ela chega à varanda e se debruça no parapeito para espiar a multidão verde e branca: 41 256 torcedores, o maior público da história da arena.

Uma turma reconhece a presidente da Crefisa, empresa patrocinadora do time campeão, e puxa um coro: “Tia Lei-la! Tia Lei-la!”. A executiva de 54 anos e patronesse da festa (bancou 1 milhão de reais só naquele dia para as faixas, a queima de fogos e uma “boca livre” no gramado para 800 pessoas após a partida, que incluiu a presença do presidente eleito Jair Bolsonaro) abre um sorriso e retribui os gritos mostrando as duas mãos espalmadas, com o número 10, gesto que marcou o decacampeonato.

“Tia” Leila: empresária é reconhecida pela torcida (PAULO VITALE/Divulgação)

Mecenas do clube, Leila é reconhecida por boa parte da torcida como uma das protagonistas da campanha vitoriosa do Verdão, uma figura tão importante quanto jogadores como Dudu, comprado em 2015 por aproximadamente 35 milhões de reais graças ao aporte da Crefisa. Por ano, a empresa injeta no clube mais de 100 milhões de reais entre patrocínio e compra de jogadores (doze atletas do elenco atual), em uma relação considerada a mais “mão-aberta” da América Latina.

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“Trata-se de uma parceria em que todos ganham: o clube recebe recursos para trabalhar com uma boa equipe, o torcedor vê seu time vencer e a nossa marca obtém uma enorme exposição”, afirma Leila. Estima-se que o grupo cresceu 40% desde janeiro de 2015, após o início do convênio com o Palmeiras. Com dez empresas — as principais são o banco Crefisa e a Faculdade das Américas (FAM) —, o conglomerado vale cerca de 4 bilhões de reais e espera um lucro de 1 bilhão de reais em 2018, destacando-se como um dos maiores impérios financeiros do país. “Sem esse apoio, o título seria impossível”, explica Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras.

Galiotte (no centro): racha entre cartolas palmeirenses (Mastrangelo Reino/Divulgação)

Esse “show do milhão”, entretanto, não conquista a unanimidade alviverde. Seus opositores definem a executiva como uma “paraquedista bélica”: entrou no clube de uma hora para outra, busca poder (trata-se de uma possível candidata à presidência em 2021) e, se não gosta de algo, parte para a briga verbal e também jurídica (entrou com cinco processos por danos morais nos últimos três anos). “Quem define as questões são a comissão técnica e o presidente, a gente só entra com o aporte”, jura a empresária, que tem no WhatsApp a frase “nunca perco; ou ganho ou aprendo”. Ela apelidou seus adversários de “profetas do caos”. “É uma oposição pequena e ridícula, adepta do quanto pior, melhor.”

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Festa do Campeonato Brasileiro: até Bolsonaro vestiu a camisa com o patrocínio (Mastrangelo Reino/Divulgação)

Na guerra fora de campo, Leila enfrenta dois ex-presidentes, ambos ex-aliados. “Ela que rompeu comigo por causa de uma acusação falsa, e, por mim, manteríamos contato”, diz Mustafá Contursi, um dos desafetos. Até 2017, a dupla tinha uma relação de cumplicidade. Segundo regras do clube, são necessários oito anos como sócio da agremiação para alguém se candidatar a membro do conselho. Graças a uma carta do cartola atestando que a empresária possuía título desde 1996, Leila pôde se candidatar a uma das vagas em 2017. Com 250 votos, tornou -se a conselheira mais votada (e uma das oito mulheres a ocupar uma cadeira). Para manter o bom relacionamento, a Crefisa repassava setenta ingressos por jogo a Contursi. Mas, em 2017, promotores suspeitaram que esses tíquetes estavam sendo vendidos, uma prática ilegal. O caso acabou arquivado em setembro deste ano, por falta de provas contra o ex-presidente, porém a mágoa continuou. “Eu me senti traída”, desabafa Leila.

Nos corredores do Palmeiras, ela também desvia o olhar de Paulo Nobre, que comandou a agremiação de 2013 a 2016. A confusão começou em dezembro de 2015, quando o Palmeiras ganhou a Copa do Brasil. Segundo integrantes do clube, incomodado com a ascensão de Leila nos bastidores, Nobre teria mandado os jogadores usar uma camisa comemorativa ao receberem a taça, cobrindo o nome da Crefisa e da FAM do uniforme. Nela, lia-se a frase: “Na minha casa, mando eu”. “Era um claro recado para mim, uma tremenda falta de respeito tampar a marca do patrocinador”, reclama Leila. Ela obteve o apoio de Galiotte, vice-presidente de Nobre, na época. Hoje, Nobre considera o atual líder do Palmeiras um traidor. Procurado pela reportagem, ele não quis dar entrevista.

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Com o marido, Beto Lamacchia: o cão Byron é a mascote da empresa (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Nascida em Cabo Frio, no litoral fluminense, Leila foi criada em uma família de médicos. Seu pai (que morreu atropelado, em 2002) e seus dois irmãos sempre torceram para o Vasco. “Nunca me liguei em futebol até conhecer meu marido, palmeirense fanático desde a infância”, diz ela, referindo-se ao empresário José Roberto Lamacchia, 75, o Beto, filho do banqueiro Luiz Lamacchia, dono do Banco do Comércio, que fundou a Crefisa ao lado do irmão, Antônio Luiz, 77, em 1966.

Leila estudava jornalismo na faculdade Estácio de Sá, no Rio, quando conheceu Beto em uma festa de Carnaval no apartamento dele, na Avenida Vieira Souto, endereço nobre na orla de Ipanema. Esse primeiro encontro se mostrou um verdadeiro “gol de placa”: os dois nunca mais se separaram, e ele, que vivia nos Jardins, em São Paulo, passou a visitá-la a cada quinze dias. “Nossa diferença de 22 anos nunca nos atrapalhou”, garante Leila. Aconselhada pelo então “namorido”, formou-se advogada na Universidade Candido Mendes, também na capital fluminense. Mudou-se para São Paulo em 1996 para tentar a carreira de juíza, não foi aprovada no concurso e continuou por aqui, com um escritório.

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Na época, Beto morava com a mãe, Yara, e cuidava da saúde dela, debilitada pela doença de Alzheimer. “Não seria legal dividir o teto nessas condições, e achamos melhor viver em apartamentos separados”, conta Leila. A mãe de Beto faleceu em 1998, vítima de complicações da enfermidade. No ano seguinte, em uma cerimônia simples no apartamento dele, nos Jardins, formalizaram a união. “Nunca tive o sonho de casar na igreja ou ter filhos”, relata a empresária. Até hoje, vivem em endereços diferentes. “Em time que está ganhando, não se mexe”, define Leila.

A empresária em seu escritório nos Jardins: lucro bilionário (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A executiva começou trabalhar com o marido em meados dos anos 2000. Como advogada, ela o ajudou nos mais de trinta processos judiciais contra o cunhado, Antônio Luiz. Os irmãos brigaram em 1999 por causa da divisão de patrimônio e da gestão da Crefisa. Alguns dos imbróglios se arrastam até agora, em uma guerra aparentemente sem fim. “Ele não vale nada”, dispara ela. Há cerca de dez anos, Beto colocou a esposa na presidência do grupo.

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O empresário tem um filho, Marcos Lamacchia, 40, do primeiro casamento, com Junia Faria, filha de Aloysio Faria, do conglomerado financeiro do Banco Alfa. Marcos seguiu seu rumo e decidiu criar a própria instituição, a Blue Star. “Leila é uma superparceira do meu pai”, elogia o enteado. Beto mantém-se no controle acionário absoluto, mas considera a esposa sua sucessora. “Normalmente, mulher dá despesas, mas ela, não, me dá ideias e sempre me ajudou”, afirma Beto, bem-humorado.

No cotidiano do casal bilionário, as maiores emoções se resumem aos jogos do Palmeiras. Entre segunda e sexta-feira, eles passam cerca de doze horas no casarão-escritório dos Jardins. Nos fins de semana, frequentam reuniões do clube e estádios. Pela manhã, a executiva faz uma hora de exercícios com um personal trainer.

Uma vez por ano, Leila pega seu jatinho, um Falcon 8X (avaliado em 185 milhões de reais), e viaja para seu apartamento em Manhattan para assistir à temporada do Metropolitan Opera House, do qual é sócia — ela também ama funk, vale dizer. Só anda a pé em Nova York e, há anos, por questão de segurança, não circula pelas ruas paulistanas, nem para ir à padaria. Com poucos amigos e doze cachorros, aprecia obras de ícones da pop art, como Andy Warhol e Roy Lichtenstein, penduradas nas paredes do apartamento de 750 metros quadrados na Vila Nova Conceição. “Trabalho muito e minha vida é o Verdão.”

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