Eduardo Kobra tem mais de cinquenta grafites espalhadas pela cidade
Artista paulistano se destaca pela produção de painéis gigantes com cenas realistas, que mais parecem fotografias
Cada vez mais incorporado à identidade visual da cidade e em alta nas galerias de arte, o grafite paulistano também cresce em fama internacional. Se a dupla osgemeos ganhou reconhecimento com as paredes do Cambuci, Zezão tem como marca as intervenções em esgotos da Zona Norte. Entre esses e outros muralistas em ascensão, Carlos Eduardo Fernandes Leo, o Eduardo Kobra, de 36 anos, destaca-se por uma característica singular: produz painéis gigantes com cenas realistas que parecem fotografias. São mais de cinquenta espalhados na capital.
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O maior deles, com 1.000 metros quadrados, fica na Avenida 23 de Maio, perto do Viaduto Tutoia. “Fizemos essa imagem cheia de gente para humanizar o espaço”, diz ele, sobre os homens de chapéu e mulheres em longos vestidos, que criam uma cena urbana da década de 20. Kobra tem autorização da prefeitura para executar seus projetos. Com a exposição de seus trabalhos em vias de grande circulação, ganhou visibilidade e passou a faturar alto. Empresas como Nestlé, AmBev e Samsung já o contrataram para pintar muros ou ilustrar embalagens — o cachê varia entre 20.000 e 200.000 reais.
Paulistano do Campo Limpo, Kobra começou a usar o spray com 12 anos, pichando as paredes da escola onde estudava. Ao se aproximar do movimento hiphop, deixou o vandalismo e se aprimorou no grafite, apostando em técnicas mais realistas. A convivência exagerada com a tinta lhe rendeu contaminação por metais como chumbo e mercúrio, com consequentes problemas respiratórios, que o incomodam até hoje. “É a mesma doença que o Portinari teve”, afirma ele, que agora só manuseia materiais atóxicos.
Com gosto por cenas históricas, especialmente as que simulam a São Paulo de um século atrás, Kobra tem se dedicado ultimamente a temáticas ambientais. Em agosto, criou um painel na Avenida Brigadeiro Faria Lima que retrata um bezerro morto ao ser agarrado por um peão em rodeio de Barretos. Na imagem, o caubói aparece com um capuz de carrasco, ao lado de uma frase que se propõe a criar impacto: “Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida”. O mesmo tom denuncista marca o painel “Evolução Desumana”, com macacos que “evoluem” até se tornarem homens armados em uma guerra, pintado em Atenas, na Grécia.
As obras repercutem entre seus colegas de profissão. Em alguns casos, negativamente. “Ele é bom mesmo em autopromoção”, diz Ricardo Ferreira, mais conhecido como Kaur, que em 2009 reuniu grafiteiros para atrapalhar a confecção do painel da 23 de Maio, sobrepondo outros desenhos aos dele. “Não gostamos que ele se intitule grafiteiro, porque é um trabalho que nunca somou nada artisticamente.” Kobra não gasta seu spray alimentando polêmica e responde às críticas em tom ameno: “Cada um pode falar o que quiser”.
ARTE NAS RUAS
Alguns de seus principais trabalhos na capital
Avenida 23 de Maio com Viaduto Tutoia
Esta é sua obra de maior dimensão. Com aproximadamente 220 metros de extensão, mostra São Paulo nos anos 20. Ele gastou um mês para concluí-la
Praça Panamericana
Feito em outubro de 2010, tem 9 metros de altura por 30 de comprimento. Retrata um grupo de imigrantes italianos e destaca-se dos outros murais pelas cores usadas
Rua Alvarenga, 2400
Neste painel de 40 metros quadrados, no Butantã, os países que mais emitem gás carbônico no planeta