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Jurerê Internacional: a Florianópolis dos famosos

Mansões de cair o queixo e carrões de classe, guiados por gente bonita, a caminho de baladas sensacionais. Assim é a praia que virou point de paulistanos descolados neste verão

Por Alvaro Leme
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Preocupado com um preguinho em sua mesa, o nadador Fernando Scherer, o Xuxa, pede um martelo ao garçom. A modelo Mariana Weickert divide-se entre o papo no telefone e a conversa com o empresário Marcos Campos, recém-chegado de um passeio de iate. Por pouco não cruzaram com a top Alessandra Ambrósio e seu novo namorado, que acabam de sair. Enquanto espera seu almoço, Renata Boghosian, uma das proprietárias da Versace no Brasil, conta que Donatella Versace não curtiria o lugar. “Ela anda meio reclusa, sabe?”, explica. “Mas isso aqui é a cara do Roberto Cavalli”, emenda, referindo-se ao estilista italiano cuja loja em São Paulo também pertence a sua família. O “isso aqui” a que a empresária se refere se chama Jurerê Internacional, praia de Florianópolis (SC) onde as ondas calmas contrastam com areias de efervescente vida social que concentra socialites, playboys, milionários (os de verdade e os pretensos) e celebridades cujo grau de importância oscila entre o altíssimo e o absolutamente irrelevante. Integram o primeiro grupo a top Gisele Bündchen e o piloto alemão Michael Schumacher, que já deram pinta nas areias mais jet-setters do litoral catarinense. Muitos degraus abaixo se digladiam por flashes figuras como a ex-BBB Juliana (duvido que você lembre quem é) e a bizarra Mulher-Samambaia, cujo talento consiste em rebolar enfiada num sumário traje de planta no programa Pânico na TV.

Entre os paulistanos endinheirados, descobrir novos endereços de badalação é uma tradição. No verão passado, o point era Trancoso, na Bahia. E, no ano anterior, Punta del Este, no Uruguai. Dois destinos, é verdade, ainda bem populares, mas que foram destronados por esse bairro planejado do norte de Floripa, a cerca de 30 quilômetros do centro, que parece uma Alphaville acrescida de praia. Dos 2 milhões de visitantes – cinco vezes a população da capital de Santa Catarina – esperados até o fim do verão, em março, pelo menos 660.000 são do estado de São Paulo. Cada um gasta em média 89 reais por dia. “Os argentinos desembolsavam metade desse valor”, compara o secretário de Turismo de Florianópolis, Mário Cavallazzi. “Um terço do dinheiro dos turistas é gasto em Jurerê Internacional.” Esse excesso de contingente gera problemas que os recursos arrecadados com os visitantes ainda não sanaram. Restaurantes de Jurerê Internacional ficaram sem água, apesar de o condomínio possuir um sistema de água e esgoto independente. Na véspera do Ano-Novo, faltou luz em alguns quarteirões. Quem tenta circular entre as 100 praias da ilha precisa de paciência para os congestionamentos, que nada deixam a dever à Marginal Tietê no horário do rush.

Dois motivos radicalmente diferentes levam forasteiros a Jurerê Internacional, condomínio sem guaritas nem muros criado em 1980 por uma empresa gaúcha com o objetivo de fazer dali uma espécie de Flórida brasileira. Tal e qual no estado americano, seria o repouso do guerreiro para aposentados que haviam amea-lhado um bom pé-de-meia. Nos últimos cinco anos, porém, esse perfil mudou: a população que ocupa o bairro rejuvenesceu. Hoje, 44% dos 5?500 moradores têm entre 25 e 50 anos. Nesse grupo encaixa-se a família do empresário Ricardo Cotrim, que migrou para o Sul em busca de uma vida mais confortável e sem os sobressaltos da paulicéia. “Morávamos em Santana, e meus filhos iam de carro blindado para a escola”, conta. Ex-diretor de marketing de uma empresa aérea, possui atualmente uma forneria, uma livraria e uma loja de roupas no Open Shopping, calçadão local. Com a mulher, Renata, os filhos, Felipe, 18 anos, e Gabriel, 12, mais a golden retriever Madonna, tem um cotidiano que lembra os felizes comerciais de margarina. No mesmo caminho seguem outros conterrâneos de Cotrim – os paulistanos já são 13% do total de moradores. Um deles é o empresário Guilherme Jacob, que fundou em Florianópolis, em 2002, uma empresa de cosméticos. “Aqui dá para deixar o carro ligado na rua, sem ninguém dentro, e ter certeza de que ele estará lá quando você voltar.” Catorze câmeras, quatro postos de vigilância e dezesseis seguranças que se revezam na ronda pelo bairro a bordo de três motocicletas e um carro monitoram as ruas. As ocorrências mais graves de 2007 foram dois assaltos a mão armada e um furto de carro.

Além de quem chega atraído por sossego e segurança, há os que querem badalar o máximo possível. Essa turma vem surgindo desde 2001, quando começaram a abrir as portas, à beira da praia, restaurantes destinados a uma clientela jovem. São cinco, uns bem legais, outros nem tanto. Destacam-se como pólos de glamour o Cafe de la Musique, embaixada informal de São Paulo em Jurerê, o transado japonês Taikô e o animado El Divino Beach. O time ganhou a adesão do recém-inaugurado Parador 12, ou P12, espaço de 16?000 metros quadrados que funcionará como day club, ou seja, paga-se ingresso (de até 150 reais) pelo direito de desfrutar os serviços durante o dia. Foi um investimento de 2,5 milhões de reais, que o empresário Aroldo Cruz Lima, um dos sócios, pretende recuperar “em curtíssimo prazo”. Basta dar uma olhada no valor cobrado pelo estacionamento para conferir que não é brincadeira dele. Na noite de réveillon, uma vaga no estacionamento custava a bobagenzinha (está sentado?) de 100 reais.

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O público de Jurerê Internacional parece não esquentar a cabeça quando precisa pôr a mão no bolso. Houve quem pagasse 2?000 reais de entrada numa festa no Cafe, onde uma mesa no réveillon custava 25?000 reais, segundo um dos sócios, Leo Ribeiro. Para começar 2008 no Taikô, os homens precisaram desembolsar 1?300 reais, o dobro do preço pago pelas mulheres. Na casa noturna KM7, o ingresso (150 reais) não dá direito nem mesmo a uma agüinha para molhar a goela. Lá, camarotes custam 5.000 reais, dos quais os 3.000 reais consumíveis são invariavelmente revertidos em champanhe, bebida oficial, principalmente na versão rosée. A bordo de Ferraris, Porsches e Maseratis, a moçada disputa uma vaga no filé do estacionamento do KM7: a vitrine, composta de vagas em frente à boate. “Tudo o que as pessoas não podem ostentar em São Paulo, sentem-se seguras para exibir aqui”, diz o empresário Leandro Adegas, sócio também do Taikô, que acaba de vender 20% das duas casas aos empresários Marcus Buaiz (o senhor Wanessa Camargo) e Luiz Calainho. “Os paulistanos aumentam meu movimento em pelo menos 60%.”

O glamour de ser point de milionários e famosos, associado à segurança reforçada, ajudou a valorizar os imóveis. Um terreno de 1.000 metros quadrados à beira-mar, que vinte anos atrás custava 100.000 dólares, é negociado atualmente por dez vezes mais. “Tem gente que consegue 10 milhões de reais numa mansão”, afirma o corretor imobiliário Luciano Pereira, paulistano radicado em Flo-rianópolis desde 1991. Quem busca imóveis para alugar precisa encarar diárias entre 800 e 5?800 reais. “É mais que o meu salário”, conta o prefeito de Florianópolis, Dário Elias Berger. E ainda há muito que crescer: somente um terço dos 6,5 quilômetros quadrados de Jurerê Internacional é de área construída.

Esbarra-se com estrangeiros mais ou menos famosos em todos esses lugares. A figurinha fácil deste verão foi Jared Leto, ator americano dos filmes Alexandre e Réquiem para um Sonho. Não se lembra dele? Bem, é mais fácil tentar pelas ex-namoradas, em geral mais conhecidas, como as estrelas do cinema Cameron Diaz e Lindsay Lohan. Quando o rapaz chegou à festa promovida pela modelo e apresentadora Fernanda Motta, na vizinha praia de Lagoinha, foi aquele bafafá. “Nada de fotos nem entrevistas”, disse, antipááático. Por falar em gringos, até o último minuto de 2007 havia gente (tola, sejamos sinceros) à espera da patricinha Paris Hilton, cuja presença foi alardeada aos quatro ventos. A voz rouca das areias dá conta de que foi golpe de marketing para bombar o réveillon local – o que deve ter funcionado, pois cada restaurante descolou um astro de Hollywood para chamar de seu. Na falta de Paris, as atenções voltaram-se para seu ex-namorado, o milionário grego Stavros Niarchos, flagrado aos beijos com uma morena. Cenas de um verão que não deve se repetir, especialmente se estiver correta a observação do corretor Luciano Pereira: “Com a mesma empolgação com que vieram para cá neste ano, os paulistanos decidirão que outra praia é imperdível no próximo verão”. Qual será?

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