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Jovens no volante: mais velozes e perigosos

Pesquisa mostra que 42% da juventude paulistana dirige sem habilitação

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h23 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

A estudante Gláucia, de 17 anos, espera ansiosamente pela sexta-feira. É quando pede emprestado o carro da tia, passa na casa das amigas e parte em direção às baladas da cidade. Motorizada, repete a mesma rotina no sábado e no domingo. “Dirijo desde os 14 anos sem problemas”, diz, toda orgulhosa, parecendo não se dar conta da infração gravíssima que ela e a responsável (se é que dá para usar essa palavra) pelo automóvel estão cometendo semana após semana. “Aprendi a guiar com o meu tio e nunca me envolvi em acidente.” Caso isso tivesse acontecido, ou venha a acontecer, a tia de Gláucia (nome fictício) poderia ser condenada a uma pena de seis meses a um ano de prisão – uma punição branda considerando o risco que dirigir sem habilitação representa à vida de Gláucia, bem como à dos outros. Infelizmente não se trata de um episódio isolado. De acordo com pesquisa do Ibope em parceria com o Programa Volvo de Segurança no Trânsito, 42% dos jovens entre 16 e 25 anos que dirigem em São Paulo não têm a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O Ibope ouviu no mês passado 1.000 pessoas no Brasil (170 na capital) e revelou números de deixar as autoridades de cabelo em pé. “Os próprios pais permitem que os menores dirijam cedo e geralmente entregam o carro a eles”, conta a pedagoga Nereide Tolentino, coordenadora da pesquisa. Metade dos entrevistados diz que aprendeu a guiar com o pai. Na maior parte das vezes, entretanto, isso não garante um comportamento mais seguro nas ruas – 93% admitem, por exemplo, ultrapassar os limites de velocidade. O empresário Fernando Irineu de Souza Miguel, de 26 anos, teve por três vezes a carteira cassada por excesso de infrações. Gosta de pisar fundo no acelerador e falar ao celular na direção. “Já faz um ano que rodo pela cidade sem habilitação e nada me acontece”, afirma. Assim como Souza, 90% ignoram a fiscalização e sacam o celular do bolso enquanto pilotam. Os riscos vão além das multas. Quem divide a atenção do trânsito com as conversas ao telefone tem quatro vezes mais probabilidade de sofrer um acidente, segundo estudo da organização americana Insurance Institute for Highway Safety. A algazarra dos outros passageiros também desvia a concentração. Entre os motoristas pesquisados, 95% andam acompanhados no carro. Jovens que transportam dois ou mais caronas correm cinco vezes mais risco de sofrer um acidente fatal, segundo estudos da Universidade de Waterloo, no Canadá. A situação piora quando os passageiros bebem (71% dos casos), consomem maconha ou usam outras drogas dentro do carro (49%). É mais grave ainda no caso dos motoristas: 83% dos entrevistados admitem dirigir alcoolizados. “Bebo de quatro a cinco caipirinhas na balada e me sinto normal para voltar para casa guiando”, diz o modelo Felipe Calabrez, de 24 anos. Essa combinação quase sempre acaba mal. Em 2005, a toxicologista Vilma Leyton, da Faculdade de Medicina da USP, analisou o corpo de 303 jovens que morreram em acidentes de trânsito na cidade. Concluiu que 35% deles estavam alcoolizados, com média de 1,4 grama de álcool por litro de sangue. “Isso equivale a cinco latinhas de cerveja. É muita coisa”, explica Leyton. “A pessoa perde a coordenação motora e fica com a consciência comprometida”, completa o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp. No ano passado, ele submeteu 1.372 motoristas paulistanos ao teste do bafômetro e concluiu que 69% dos que apresentaram algum nível de álcool no sangue tinham entre 18 e 30 anos. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, o motorista flagrado alcoolizado pode pagar uma multa (957,69 reais), ter a habilitação suspensa e passar por um curso de reciclagem. O teste do bafômetro, utilizado em outros países, aqui é opcional. Nos Estados Unidos, o motorista que dirige alcoolizado é preso na hora e a ocorrência entra para a ficha criminal. Essa informação pode dificultar a obtenção de emprego ou o acesso à universidade. Em 2005, 560 pessoas entre 13 e 29 anos perderam a vida nas ruas da cidade, mais que uma por dia. Outros 17.524 da mesma faixa etária foram vítimas de acidentes, o que significa 63% do total de acidentados. “Educação e fiscalização mais rigorosa poderiam salvar vidas”, diz a pedagoga Nereide Tolentino, coordenadora da pesquisa. “Já perdi a carteira três vezes” O empresário Fernando Irineu de Souza Miguel, de 26 anos, não desgruda do celular enquanto dirige. Gasta, em média, 1 000 reais por mês com a conta telefônica. Para evitar multas, colocou insulfilm em todo o carro. “Com o vidro escuro, ninguém me vê falando”, diz. Quando não está conversando, ele curte uma música num volume mais alto. “É para não ter de ouvir os sons externos”, diz ele, que dirige há um ano sem carteira de habilitação. “Já perdi três por excesso de pontos, acredita?” “Não chego a ficar bêbado, só alegre”. Pelo menos duas vezes por semana, o modelo Felipe Calabrez, de 24 anos, estaciona seu Fiesta em alguma balada da cidade. E dificilmente sai de lá sem tomar de quatro a cinco caipirinhas por noite. “Não chego a ficar bêbado, só alegre, mas me sinto seguro para dirigir de volta para casa”, diz. A combinação álcool e direção quase sempre acaba mal. “A pessoa perde a coordenação motora e fica com a consciência comprometida”, afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp. No ano passado, ele submeteu 1 372 motoristas paulistanos ao teste do bafômetro e concluiu que 69% dos que apresentaram algum nível de álcool no sangue tinham entre 18 e 30 anos. “Dirijo desde os 14 anos” Todo fim de semana a estudante Gláucia (nome fictício), de 17 anos, empresta o carro da tia para sair com as amigas. Ela não tem carteira de habilitação, mas nem por isso teme rodar pela cidade. “Dirijo desde os 14 anos e nunca me envolvi em acidente”, afirma ela, que diz ter aprendido a guiar com o tio. Há um ano foi parada numa blitz. Tomou um susto, mas nada aconteceu. “O policial me liberou minutos depois.”

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