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John Neschling vive inferno astral à frente da Osesp

Desafeto do governador José Serra, maestro pode romper com a instituição

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h23 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

Com o casamento marcado para este domingo (6), o maestro John Neschling, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), se vê às voltas com a possibilidade de uma dolorosa separação. Não da noiva, a escritora Patrícia Melo. A ameaça de rompimento seria com a orquestra que dirige com mão-de-ferro há dez anos. Desde janeiro, quando assumiu o governo do estado, José Serra não faz questão de esconder o desejo de ver Neschling afastado do cargo. A ausência do governador no concerto comemorativo das bodas de estanho (dez anos) entre a Osesp e seu regente todo-poderoso colaborou para deixar ainda mais aparente a indisposição. Neschling reagiu dentro de seu feitio: intempestivamente. Na noite do último dia 25, ao final da apresentação realizada na Sala São Paulo para uma platéia de políticos e empresários, ele deu um piti nas coxias. Conforme descreveu a coluna de Mônica Bergamo no jornal Folha de S.Paulo, seus gritos ecoavam do lado de fora do camarim. “Por que eu tenho de sair? Por quê? Por quê?”, esbravejava. A resposta a essa pergunta reside principalmente em seu alto salário. Estima-se que seja de 110 000 reais por mês. No ano passado, 74% do orçamento de 58 milhões de reais da Osesp foi bancado com dinheiro público (o restante veio de patrocínios, doações e receitas de bilheteria, venda de CDs…). O salário de Serra, autoridade maior do estado, é pelo menos sete vezes menor (14 850 reais). Neschling teria ainda outros ganhos. Para cada concerto que dirige – são, no mínimo, seis por mês –, ele receberia um cachê de 5 000 reais. Sua diária de viagem durante a última turnê da orquestra pela Europa, em março, teria sido de 900 euros. “Ele só aceita entrar num avião se a passagem for de primeira classe e exige hospedar-se em hotéis de luxo”, afirma uma ex-funcionária da Secretaria de Cultura. A Fundação Osesp, criada em novembro de 2005 e comandada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não confirma nem desmente esses valores. “Há uma cláusula de sigilo no contrato do maestro, e por isso não se podem divulgar tais informações sem a anuência dele”, diz o diretor executivo da fundação, Marcelo Lopes. Qualquer decisão quanto à permanência ou não de Neschling teria de ser referendada pelo conselho da fundação, do qual fazem parte nomes como os do banqueiro Pedro Moreira Salles, do editor Luiz Schwarcz e do ex-presidente do Banco Central Persio Arida. Se comparados aos salários de alguns dos regentes das principais orquestras do mundo, os vencimentos de Neschling não são tão impressionantes. A Sinfônica de Chicago, por exemplo, depositou na conta do argentino Daniel Barenboim, um dos expoentes da música erudita, o equivalente a 4 milhões de reais para que ele atuasse por um ano como condutor e solista, entre 2003 e 2004. No Rio de Janeiro, Roberto Minczuk – que, ventila-se, seria o nome mais cotado para substituir o chefão da Osesp – recebe cerca de 66 000 reais mensais para estar à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). As restrições de Serra, que não chega a ser um grande apreciador de música erudita nem costuma ser visto em concertos, teriam começado em 2005, quando o tucano, então prefeito, solicitou que a Osesp encerrasse a primeira edição da Virada Cultural, evento anual da Secretaria Municipal de Cultura que realiza, durante 24 horas consecutivas, apresentações culturais gratuitas ou a preços populares. Por causa de uma série de exigências do maestro, o concerto acabou não ocorrendo e o tiroteio começou. Numa profissão dominada pela vaidade, é comum maestros colecionarem inimigos, caso de grandes batutas do século XX, como o austríaco Herbert von Karajan, o italiano Arturo Toscanini e o alemão Wilhelm Furtwängler. Na queda-de-braço entre Serra e Neschling, os defensores do regente mencionam a transformação da Osesp na última década. De fato, a orquestra é outra depois da chegada dele – realiza turnês internacionais, recebe boas críticas fora do país e é assediada por talentos estrangeiros interessados em integrar seus quadros. A média salarial dos 109 músicos, que era de 1 200 reais em 1997, hoje é de aproximadamente. 7 000 reais. Criado em 2000 com 2 383 adeptos, o programa de assinaturas conta atualmente com mais de 11 000 participantes.

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