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João Doria Jr: o estranho no ninho tucano

Candidato do PSDB à prefeitura, empresário precisará gastar muita sola de sapato Osklen para chegar ao Edifício Matarazzo

Por Alexandre Nobeschi
Atualizado em 1 jun 2017, 16h16 - Publicado em 25 mar 2016, 00h00

Acostumado a despertar às 6 horas, o empresário João Doria Jr. deu-se ao “luxo” de acordar uma hora mais tarde na segunda (21). Praticou exercícios físicos e fez o desjejum ao lado da mulher, Beatriz, e dos três filhos, João Doria Neto, de 21 anos, Carolina, 14, e Felipe, 13. Em seguida, com o cabelo besuntado de gel, deixou a mansão nos Jardins e rumou para o Morumbi, onde participaria de uma série de entrevistas. No percurso, viu pipocar mensagens na tela de seu iPhone 6. Enquanto isso, em seu escritório, no 11º andar de um prédio na Avenida Faria Lima, o movimento era grande.

Em poucas horas, recebeu cerca de 300 e-mails e recados de WhatsApp, além de 150 ligações, entre elas a do governador Geraldo Alckmin, o principal fiador político do novato, parabenizando-o pela definição de seu nome como o candidato tucano para disputar a prefeitura neste ano. Foi uma vitória por W.O., depois de uma campanha tumultuada, com rivais fazendo graves acusações de irregularidades e a desistência, de última hora, do único adversário que restava, o vereador Andrea Matarazzo. Agora, além de apaziguar os ânimos internos, ele terá pela frente o desafio de convencer os eleitores de que é a melhor opção para comandar a cidade, mesmo sem nenhuma experiência em cargo executivo. “Vou trazer as melhores práticas do setor privado para a gestão pública”, discursa.

Filho do deputado João Doria, do PDC (cassado em 1964,no regime militar), o empresário é filiado ao PSDB há dezesseis anos, mas nunca concorreu a nada. Começou a trabalhar por sua candidatura ainda no primeiro semestre de 2015, e não se intimidou com a resistência à sua pretensão. Era visto como outsider e “coxinha”. Recorreu à alta plumagem da legenda e, por três vezes, bateu à porta do governador, que o desafiou a viabilizar seu nome.

+ “Nem sabia que era do PSDB”, diz Serra sobre João Doria Jr.

“Ele me deu seis conselhos: amasse barro, gaste sola de sapato, priorize a periferia, seja você mesmo, escute muito e fale o suficiente”, conta. Sugestões anotadas, o empresário partiu para o ataque. Em oito meses, procurou lideranças regionais, foi a rincões onde jamais havia estado na vida, como Guaianases e Capão Redondo. Foram 96 bairros visitados, especialmente nos fins de semana, quando trocava o paletó ajustado e a camisa com suas iniciais (J.D.J) por camiseta, calça jeans e sapatênis. “Fui quebrando o gelo, e hoje me sinto em casa quando vou aos locais longínquos.”

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Contou a favor também um fator que nem mesmo os desafetos negam: sua disciplina para o trabalho. Doria gaba-se de ser workaholic e de dormir quatro horas por noite. “Meu vício é trabalhar.” Ele comanda um grupo composto de seis empresas, incluindo uma editora responsável por títulos como a revista Caviar Lifestyle.

No ano passado, veio à tona a notícia de que suas publicações receberam 1,5 milhão de reais por anúncios do governo estadual, mesmo tendo uma tiragem modesta para tanto investimento público. A Caviar, por exemplo, distribuiu em 2015 aproximadamente 40 000 exemplares. O prefeiturável amealha mais dinheiro com o Lide (Grupo de Líderes Empresariais), especializado em realizar eventos para um público de empresários e políticos, como palestras com personalidades como o juiz Sergio Moro. Nas madrugadas de domingo, na Band, leva entrevistados ao Show Business, no ar há 24 anos.

Andrea Matarazzo
Andrea Matarazzo ()

Sua obsessão por tornar-se candidato bagunçou o ninho tucano. No embate, Alckmin peitou líderes de peso, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso, simpáticos a Andrea Matarazzo. No partido há 25 anos, o vereador concorria à indicação e deixou a agremiação no dia 17, depois que a direção municipal negou seu pedido de adiamento do segundo turno das prévias tucanas em São Paulo.

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Ele queria a apuração das denúncias de que o adversário havia comprado votos e feito propaganda ilegal e ostensiva. Agora, Matarazzo estuda lançar-se por uma outra sigla (há namoro com o PV eo PSD). Doria nega as acusações. “Ficará provado que não cometi nada ilegal.” As queixas continuam sendo averiguadas, e, em tese, o resultado pode ser anulado se forem comprovadas irregularidades. Mas poucos no partido acreditam nessa possibilidade a esta altura do campeonato.

As fraturas expostas obrigarão o “neotucano” afazer outro grand tour, agora com os caciques contrários a sua indicação. Internamente, a avaliação é que suas chances de entusiasmar alguns correligionários são baixas. “Vou falar com Fernando Henrique, Serra, Alberto Goldman, José Aníbal”, promete. “Estávamos em campos distintos, mas é hora de aparar as arestas pelo PSDB.”

+ As razões que fizeram Datena desistir da candidatura pelo PP

Ele é apelidado por seus desafetos de João Dólar Juros, devido à proximidade com os grandes nomes do PIB nacional. O que é motivo de crítica, no entanto, pode tornar-se uma vantagem. Os apoiadores apostam que Doria terá melhores condições de trazer recursospara a campanha (a nova legislação eleitoral só permite doações de pessoas físicas, prato cheio para quem tem amigos endinheirados).

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Por outro lado, ele precisará ganhar terreno contra os adversários e desfazer a pecha de candidato fabricado para servir de cabo eleitoral a Alckmin nas eleições presidenciais de 2018. Por enquanto, o tucano é zebra no páreo da capital. Na única pesquisa Datafolha sobre as eleições municipais, divulgada em novembro do ano passado, tinha apenas 3% das intenções de voto.

Na liderança, aparecia Celso Russomanno-PRB (34%), seguido de Marta Suplicy-PMDB (13%) e de Fernando Haddad-PT (12%), todos eles com seu eleitorado bastante fortalecido, principalmente nas franjas da metrópole. Visto como almofadinha por boa parte da população, Doria terá degastar mais a sola de seu sapatênis Osklen daqui para a frente. 

“ADORO UMA COXINHA”

O empresário fala sobre a fama de “almofadinha” e diz quais medidas adotará caso seja eleito

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Qual a primeira coisa que mudaria na cidade?

A velocidade nas marginais. Assim que eu assumir,voltaremos a ter limites de 90 quilômetros por hora nas pistas expressas e 70 quilômetros por hora nas locais.

Houve queda de 21%no total de mortos em acidente. Não foi um benefício da medida?

É um resultado importante, mas houve falta de planejamento e de diálogo com a população. Criou-se também uma fábrica de arrecadação com as multas: 1 bilhão de reais em 2015.

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O que você vai fazer com as ciclovias?

Vamos manter o projeto. Mas não dá para ter ciclofaixa nas calçadas nem fazer rotas de maneira açodada e em lugares com trânsito perigoso.

Como vê a questão do Uber?

Há espaço para todos. Porém, deve haver regras e o recolhimento de impostos.

Qual sua estratégia para conquistar a periferia e livrar-se da fama de “coxinha”?

Tenho de ser eu mesmo e conversar com as pessoas. Mas adoro uma coxinha.

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