Joana D’Arc e outras personalidades que mentiram no currículo
Reportagem revelou que diploma de professora era falso; veja autoridades e outras figuras conhecidas que tiveram sua biografia acadêmica questionada
Turbinar currículos ou, às vezes, até mentir sobre a própria formação parece ter virado moda no Brasil nos últimos anos. Nesta quarta-feira (15), uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou mais um caso. É o da professora de ensino técnico Joana D’Arc Félix de Souza, de 55 anos, cuja história de superação chamou a atenção de cineastas e deve até virar um filme.
A professora, vinda de família pobre do interior de São Paulo, dizia ter conseguido fazer pós-doutorado na Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas do mundo. Seu diploma, porém, é falso. Ao jornal, a própria profissional reconheceu o problema.
Ela não foi a primeira a ter mentido sobre sua formação. Não foi ainda a primeira a ter sua biografia acadêmica questionada. Nos últimos tempos, a imprensa brasileira revelou outros casos. Muitos deles, inclusive, envolveram pessoas que foram – ou ainda são – autoridades. Há alguns outros também um pouco mais antigos.
Relembre abaixo alguns deles:
– Damares Alves
Em 31 de janeiro, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma reportagem na qual apontava que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, se apresentava à plateia como “mestre em educação” e em “direito constitucional e direito da família”.
O problema é que, de acordo com o jornal, Damares não tem nenhum desses títulos. Quando foi questionada sobre isso, afirmou que seu título tinha a ver com “o ensino bíblico”.
– Ricardo Salles
Em fevereiro, o site The Intercept Brasil publicou um texto no qual informava que o título de “mestre em direito público pela Universidade de Yale” divulgado aos quatro ventos pelo atual ministro do Meio Ambiente era falso.
Salles assinou um artigo na Folha de S.Paulo com o falso currículo. Participou também do programa Roda Viva, da TV Cultura, sendo apresentado da mesma forma. A reportagem questionou a instituição sobre o diploma de Salles. Na resposta, Yale comunicou que Salles nunca tinha passado por lá.
– Ricardo Vélez
Ex-ministro da Educação do governo Jair Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez continha não um, nem dois, mas ao menos 22 erros em informações registradas em seu currículo na Plataforma Lattes, de acordo com um levantamento do site Nexo.
A reportagem apontou que a produção acadêmica de Vélez foi inflada. Lá, continham livros cujas autorias não eram do ex-ministro e uma série de artigos publicados em periódicos sem reconhecimento científico.
– Abraham Weintraub
Quando foi anunciado para o cargo de ministro da Educação em 8 de abril, Abraham Weintraub foi apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro da seguinte maneira: professor universitário com “ampla experiência em gestão” e também doutor. No mesmo dia, uma reportagem da revista Época constatou que Weintraub não possuía o título de doutor em seu currículo na Plataforma Lattes.
No perfil do ministro, atualizado em março de 2017, constava apenas um mestrado em administração, concluído em 2013 na Fundação Getúlio Vargas (FGV), uma graduação em ciências econômicas na Universidade de São Paulo (USP), finalizada em 1994, e um curso de MBA em administração financeira, também pela FGV, concluído em 2004.
– Dilma Rousseff
Em 2009, a revista Piauí publicou uma reportagem mostrando que a então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff informava em seu currículo que era mestre e doutora em economia pela Unicamp. Ela, no entanto, não chegou a concluir nenhum dos dois cursos, de acordo com a publicação.
Essa informação constava não apenas no currículo de Dilma na Plataforma Lattes, como também no site do ministério que ela comandava na época. Naquele ano, Dilma também era pré-candidata à Presidência, cargo para a qual foi eleita em 2010 e reeleita nas eleições seguintes, em 2014.
Depois da publicação da reportagem, a Casa Civil atualizou o site informando que ela era formada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tinha sido aluna de mestrado e doutorado em ciências econômicas na Unicamp.
– Bel Pesce
Em 2016, a empresária Bel Pesce se envolveu em uma polêmica sobre sua formação. Ela foi acusada de “incrementar” seu currículo, alardeado por ela por conter títulos no Massachusetts Institute of Technology, famosa universidade privada dos Estados Unidos. Ela dizia ter cinco graduações na instituição.
A brasileira, conhecida como “menina do Vale” por ter ido estudar muito cedo no MIT, chegou a postar um textão desabafando nas redes sociais na época. Ela até publicou fotos de seus diplomas. O que se questionava era que, em alguns casos, Bel informava formação “majors” para alguns casos, e “minors” para outros. Segundo o que circulou pela internet, usar a nomenclatura “major” nos EUA significava que a pessoa não tinha completado o curso.