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Hernâni Donato lança livro sobre Pátio do Colégio

Obra que mostra as dificuldades enfrentadas pelo grupo de jesuítas que fundou São Paulo

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Pode parecer exagero, mas o escritor, jornalista e historiador Hernâni Donato levou setenta anos para escrever Pateo do Collegio: Coração de São Paulo (Loyola; 280 páginas; 90 reais), com lançamento previsto para sexta (25), durante as comemorações do aniversário da cidade. Isso não quer dizer que Donato, nascido em Botucatu em 1922 e autor de outros oitenta livros, seja moroso em sua produção. Mas mostra sua obsessão por temas históricos que lhe aguçam a curiosidade e a capacidade de tocar vários projetos em paralelo, sem abandoná-los pelo caminho. O interesse pelo centro histórico paulistano surgiu tão logo o futuro escritor, aos 15 anos, se mudou para São Paulo. Seu primeiro emprego foi no jornal Correio Paulistano, que funcionava na esquina da Rua Líbero Badaró com o Largo de São Bento. “Todas as noites, após o trabalho, os jornalistas costumavam se reunir em um dos quatro cafés que havia no centro da cidade”, lembra. Para chegar até eles, obrigatoriamente passavam, a pé, pelo Pátio do Colégio. “Desenvolvi uma sensibilidade telúrica por aquele espaço”, diz. “Então nasceu a vontade de um dia escrever sobre ele.”

De lá para cá, sempre que encontrava algo que pudesse servir para a obra, Donato anotava em uma das centenas de fichinhas de papel que se acumulam em sua gaveta. Dessa extensa apuração nasceu um livro recheado de curiosidades históricas paulistanas, tendo como foco o Pátio do Colégio, marco da fundação da cidade. “Ainda hoje continuo descobrindo coisas”, afirma. “E fico impressionado como o Pátio é um ser vivo, onde tudo acontece.” No livro, Donato descreve como foi que, após uma penosa caminhada a partir de São Vicente – em alguns trechos, era preciso engatinhar –, os missionários jesuítas elegeram aquele ponto no Planalto de Piratininga, favorecido geograficamente, para ser sede da aldeola. O padre Manuel da Nóbrega teria exclamado que a terra era a melhor do mundo. E José de Anchieta profetizado que ali estariam as portas para o futuro do Brasil.

Os religiosos não tardaram a se aliar com o cacique Tibiriçá. “Se não fosse pela ajuda do líder indígena, nada teria existido”, acredita Donato. Aos poucos, Anchieta e companhia começaram a incutir nos índios os princípios cristãos, convencendo-os a abandonar práticas como o canibalismo e os rituais de pajelança. Não sem muita resistência. Em batalhas entre tribos era comum que, seguindo os homens armados, as mulheres carregassem tachos para preparar o prato antropófago com o inimigo morto. Para a história, a missa celebrada em 25 de janeiro de 1554, dia de São Paulo, marca a fundação da cidade. Ali no Pátio havia, construídas de pau-a-pique, uma igrejinha, uma escola e uma cabana que servia de abrigo a cerca de vinte religiosos.

Um ano depois da fundação, a aldeia contava com 82 habitantes. Hoje, cerca de 1 milhão de pessoas passam, diariamente, pelos arredores do Pátio, cuja forma atual, inaugurada em 1979, é a de sua quarta construção. Apesar da pequena população, os problemas eram muitos. Padres faziam as vezes de médicos e farmacêuticos. Anchieta realizava sangrias em índios doentes e partos – batizando mãe e filho como cristãos. À mesa, folhas de árvores serviam como guardanapos e farinha de mandioca e abóbora eram quase os únicos pratos disponíveis. De certa forma, esses obstáculos fortaleciam a figura de José de Anchieta. “Ele se destacou por suas atividades como intelectual, professor, médico, poeta e confessor”, diz Donato. “Mas São Paulo nasceu de um fenômeno complexo, coletivo e múltiplo de desenvolvimento ao longo do tempo.”

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