Ação da PM em Heliópolis deixa um morto no mesmo dia de Paraisópolis
Polícia Militar inicialmente afirmou que não havia feridos no episódio; nesta quarta (4), mudou versão
Moradores da favela de Heliópolis, na Zona Sul, afirmaram em relatos colhidos pela Vejinha que a Polícia Militar realizou uma operação violenta para conter um baile funk da comunidade no mesmo dia em que uma ação semelhante em Paraisópolis resultou em correria e morte de 9 pessoas.
Inicialmente, em reportagem publicada na terça-feira (3), a Polícia Militar havia relatado ao site que a ação não deixou feridos. Nesta quarta-feira (4), no entanto, mudou a versão e, em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que uma morte ocorreu no último final de semana no endereço. De acordo com o portal G1, a corporação afirmou que um homem fugia da ação de dispersão da PM, quando, armado, efetuou tiros contra agentes em um beco próximo ao baile. Os policiais, por sua vez, revidaram, e acertaram o suspeito.
Segundo moradores e comerciantes de Heliópolis, as operações durante o semanal Baile do Helipa costumam ocorrer pelo menos duas vezes por mês. A diferença é que, desta vez, de acordo com os depoimentos, a PM fez uso desproporcional da força.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública: “A Polícia Militar realizou a ‘Operação Pancadão’ em 251 pontos da capital no último final de semana de novembro. Em Heliópolis, policiais foram acionados para verificar denúncia de perturbação de sossego”.
Os nomes contidos neste texto com asterisco (*) são fictícios e retratam entrevistados que preferiram não ser identificados. Todo final de semana, os carros de som começam a soltar a batida do funk por volta da meia-noite de sábado para domingo. Pelo menos cinco veículos com os chamados “paredões” são espalhados em um trecho da Rua do Pacificador, endereço conhecido pelos moradores também como “Adriana”, próximo às portas dos bares. A bebida favorita por ali é o uísque.
Entre as paralelas Travessa da Comunidade e a Rua São Carlos de Heliópolis, fica a concentração do “fluxo”. O baile, no entanto, só ferve por volta das 3h da madrugada. A comerciante Amanda*, que vende bebidas por ali, conta que o local estava tranquilo até a chegada da PM, que ocorreu “por volta das 2h”.
“Jogaram bomba de fumaça, usaram spray de pimenta e o pessoal começou a correr”, lembra. Os frequentadores relatam que, em seguida, foi a vez das balas de borracha. “Não deu tempo [do baile] encher, então quando eles chegaram tinha bastante gente, mas não uma multidão.” Elisabete Paula, moradora da região, fala em momentos de tensão. “A gente viu eles [PM] chegarem e irem se aglomerando. Consegui entrar no beco da minha casa.”
Pela janela, no entanto, Elisabete conta que a polícia viu a movimentação dentro da residência. “Eles apontaram a arma para a gente e eu falei: ‘senhor, não atira, a gente tem criança’. Começaram a quebrar portões das casas, bater nos meninos que tinham sido abrigados pelos moradores, tiravam os que se esconderam embaixo do carro e batiam. Encurralaram os jovens em uma viela e começaram a bater”, relata.
Um dos vídeos que circulam na internet e que estaria retratando a ação de Paraisópolis é contestado pelos moradores como sendo em Heliópolis. “Só estão falando de Paraisópolis, mas aquilo [ação da PM] aconteceu aqui também!”, reclama *Giovanna, que mandou para a reportagem fotos para comparar uma das cenas que retrata policiais usando cassetetes contra jovens e foi atribuída a Paraisópolis.
Os frequenta dores do baile falam em dois jovens que ficaram feridos depois da chegada da PM e relatam a presença de ambulâncias. O homem que foi morto foi encaminhado para o Pronto Socorro Heliópolis, e não resistiu aos ferimentos.
Os moradores afirmam que as ações do tipo são periódicas, “final de semana sim, final de semana não”, explica Elisabete. “Eu não frequento o baile, não gosto, a maioria do pessoal que vem é de fora [de Heliópolis]. Mas eles fizeram uma ação violenta”, reclama Cláudio*, outro comerciante.
A comunidade de Heliópolis conta com 1 milhão de metros quadrados de área. São mais de 18 000 imóveis e cerca de 3 000 estabelecimentos comerciais, segundo dados da Prefeitura de 2017.