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Promotor pede a saída de diretores da Fundação Nemirovsky

Controle da entidade é disputado por herdeira e pelo atual residente

Por Daniel Salles
Atualizado em 5 dez 2016, 18h14 - Publicado em 12 mar 2011, 00h50

Não é preciso ser grande entendedor de arte para reconhecer a importância de um acervo no qual figuram telas de Alfredo Volpi e Di Cavalcanti, além de esculturas de Lygia Clark e Victor Brecheret. Com quase 300 itens, a Coleção Nemirovsky reúne obras emblemáticas da história do modernismo brasileiro, como o quadro “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral. Amealhado ao longo de três décadas, esse tesouro, avaliado em mais de 100 milhões de reais, é fruto da persistência do argentino José Nemirovsky (1914-1987) e de sua mulher, a carioca Paulina Pistrak (1924-2005).

+ Veja galeria de fotos com obras que pertencem à fundação

Formado em medicina, Nemirovsky começou a reunir seu patrimônio artístico em 1958, sem muita sorte. A primeira peça adquirida, um busto de madeira atribuído a Aleijadinho, cultuado como o maior gênio do barroco mineiro, na verdade tinha sido esculpida na Europa. Em 1987, acometido por uma doença renal crônica, o argentino fez um gesto raro no Brasil e legou sua coleção ao estado. Com o apoio de Paulina, o acervo começou a ser administrado por uma fundação pública, que leva o sobrenome da família. Em 2004, um convênio com a Secretaria de Estado da Cultura permitiu que as obras fossem expostas, por lotes, na Estação Pinacoteca, na Luz. Quatro delas, produzidas por Lasar Segall, Di Cavalcanti e Picasso, ganharam o noticiário policial em 2008, quando foram levadas por três homens armados — e, depois, recuperadas.

Pontuada por capítulos aventurescos, a história da fundação, no entanto, esconde uma realidade conturbada. Seu controle é disputado pela herdeira do casal Nemirovsky, a colecionadora Beatriz, hoje com 45 anos, e pelo arquiteto Jorge Wilheim, atual residente da entidade. Segundo Beatriz, Wilheim já está há mais tempo no poder do que o permitido pelo regimento interno. Ela se queixa ainda de que seus filhos, Bettina, de 18 anos, e os gêmeos Maria Carolina e Gabriel, de 20, deveriam ter sido empossados conselheiros quando atingiram a maioridade.

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A tese foi acatada pelo promotor Airton Grazzioli, da Promotoria de Justiça de Fundações da Capital, que requereu no dia 23 de fevereiro a destituição de Wilheim. “Ele se perpetua no poder há mais de dez anos, quando deveria ter saído há dois, e não possui reputação ilibada para a função, por ter sido condenado em processos por improbidade administrativa”, afirma Grazzioli. “Além disso, permitiu o ingresso irregular de três conselheiros, que deveriam dar lugar aos netos de Paulina.” Até a última quarta-feira, a Justiça não havia se pronunciado sobre a saída ou a permanência de Wilheim.

Nem o presidente nem os conselheiros são remunerados. Jorge Wilheim não quis dar entrevista. A fundação contratou o escritório Duarte Garcia, Caselli Guimarães e Terra Advogados para se defender das acusações. “O estatuto sempre foi respeitado”, sustenta o advogado Mário Sérgio Duarte Garcia. “Todos os atos praticados pela diretoria foram ratificados pelo Ministério Público desde que ela foi instituída”, acrescenta. “A atual gestão não reconhece o verdadeiro valor da coleção, que também deveria ser exibida em outros estados e países”, diz o empresário Paulo Leme, marido de Beatriz e porta-voz da família. “Vem daí a nossa revolta.”

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