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Férias em família

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 17h28 - Publicado em 13 jan 2012, 23h50

Se dependesse de mim, não sairia de São Paulo nem no fim nem no começo do ano. O reflexo meu é andar no contrafluxo. Se todos estão a caminho da praia, quero ficar. Com uma população menor, São Paulo é uma delícia também sem filas e sem trânsito, dois dos, digamos, desafios da nossa cidade.

Mas a verdade é que isso não acontece. Tenho filhos que estão de férias nesta época. Não adianta argumentar que vai estrear “Alvin e Seus Esquilos 3”, nem mesmo “Homens de Preto 3”. Nós vamos para a praia, como diz a música. Afinal, lá estão os amigos de São Paulo. A diferença entre lá e cá é que todos nós estamos em trajes de banho, ao contrário do que acontece na cidade.

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Acabo achando a praia uma delícia, verdade seja dita. Neste ano fizemos uma trilha no meio do mato, indo do Félix, popular ponto de encontro ao norte de Ubatuba, até a deserta, ou quase, Praia das Conchas, ao lado. Minha mulher, Luli, e os três filhos, brasileiros todos, partiram para a caminhada na selva com o equipamento usual do paulistano nessas ocasiões: sungas, biquínis, sandálias Havaianas e a ubíqua canga. Cuidei eu de levar, na minha mochila maior, água, repelente de insetos, filtro solar, trocas de roupa, chapéus de sol e máquina fotográfica com conexão com a internet. Calcei tênis aquáticos especiais para poder andar nas rochas com maior desenvoltura.

Não é uma trilha longa, reconheço. E devo esclarecer que a máquina era um mero iPhone 3.0. Meu objetivo era testar sua capacidade de publicar fotos na internet de um ponto remoto e selvagem, como a Praia das Conchas. Embora emocionante, fazer a trilha não levou mais que meia hora. Ao chegarmos, fomos brindados com uma vista exuberante. O Litoral Norte de São Paulo há de ser um dos lugares mais bonitos da Terra. É páreo, na categoria luxo tropical, para as ilhas do Havaí.

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Abaixo, à esquerda, estava a Praia das Conchas. À frente, a alguns quilômetros de distância, Almada (creio). Em frente a Almada, uma ilha “deserta”, fora uma dezena de iates. Minha família desceu para as piscinas naturais embaixo. Fiquei nas rochas, ali de cima, para documentar a aventura e tentar postar as imagens na internet, via Facebook, para a apreciação da minha mãe, na Califórnia.

Funcionou. Tirei fotos de todos na água e coloquei no Facebook. Fiquei espantado com o sucesso. Como escreveu uma amiga minha, abaixo do meu post, “Santa Tecnologia, Batman!”. Não é fantástico? Acrescentei, ainda, uma legenda, embora pouco inspirada: “Olá, Vovó!”. Fiquei estupefato com o feito. Demais isso.

Mas a família começou a reclamar. Queriam que eu deixasse de lado “a maquininha dos infernos”, para utilizar o epíteto da minha mulher para o iPhone, e entrasse também na água. Mas antes, como você pode imaginar, era preciso guardar os equipamentos da caminhada, fotografia e transmissão, e colocar trajes de banho.

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Tomei as devidas providências atrás de uma pedra grande, para não surpreender outros aventureiros com a minha nudez momentânea. Da água, no entanto, a família toda teve uma visão privilegiada do que meu filho Lucas, de 27 anos, chamou de “bunda branquela de americano”, faltando um pouco com o respeito, diga-se. Enquanto isso, minha mulher começou a rir com histeria. Chegou a perder o fôlego. Achei que poderia se afogar.

Ao lhe perguntar o que fora tão divertido, ela respondeu, de novo com os risos incontroláveis: “Quando vi você nu, ali, nas pedras, trocando de roupa em meio a mochilas e tênis e garrafas de água, e máquina, como se fosse um adepto do naturalismo sueco, tive um vislumbre de como poderá ser nossa velhice”. Tomara.

E-mail: matthew@abril.com.br

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