Ações de telemarketing com famosos geram reclamações

Ligações persistentes em horários inapropriados divulgam de pílulas a planos funerários

Por Mariana Zylberkan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 nov 2018, 18h14 - Publicado em 24 mar 2017, 19h37
Moacyr Franco: uma das principais vozes de ações de telemarketing (Adriana Spaca / Futura Press/Veja SP)
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O telefone fixo ou o celular tocam, geralmente, em horários inapropriados, não raro acordando a casa toda. Do outro lado da linha, uma voz se apresenta: “Olá, aqui é o Moacyr Franco”. Quem desconhece o motivo da ligação até chega a acreditar que o humorista do programa A Praça É Nossa se deu ao trabalho de discar para a sua residência.

Demora pouco para perceber que tudo não passa de uma ação de telemarketing. No caso de Moacyr, o objetivo da ligação é tentar vender ômega 3. Operadoras de celular escolheram o gogó dos sertanejos Michel Teló e Luan Santana para divulgar alguns produtos. Francisco Cuoco oferece planos funerários.

Nadia cortes telemarketing com famosos
Nadia: ela chegou a receber dez ligações por dia da Central do Ômega 3 (Leo Martins/Veja SP)

A estratégia de fisgar a atenção de novos consumidores usando celebridades tem provocado irritação em algumas pessoas que são alvo do negócio, pois as ligações são muuitooo insistentes. Uma das campeãs de reclamações desse tipo é a Central do Ômega 3.

A companhia vende um produto que promete, segundo um atendente, “curar 150 doenças” e fazer emagrecer — o pacote de doze frascos com sessenta cápsulas, cada um, custa quase 1 200 reais. No último ano, o site Reclame Aqui registrou mais de 1 000 protestos em relação a incômodos da campanha.

O principal garoto-propaganda é Moacyr Franco, que ganhou até uma página no Facebook em sua “homenagem”, intitulada “Não aguento mais receber ligação do Moacyr Franco”. A mesma empresa contratou os vozeirões dos cantores Fafá de Belém e Erasmo Carlos e da ex-jogadora Hortência.

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Entre os descontentes, aparece a pesquisadora Nádia Cortes, de 42 anos. “No fim do ano passado, quando eu estava grávida, recebia de cinco a dez telefonemas iguais por dia”, diz. Após a queixa no Reclame Aqui, ela afirma que as chamadas inconvenientes pararam.

Luan Santana
Luan Santana: presente em campanhas de operadoras de celular (Luiz Maximiliano/Veja SP)

Advogado da Central do Ômega 3, Renato Domingos lembra que não existe lei que proíba a tentativa de vender mercadorias por telefone e que logo no início da chamada há uma opção para não receber mais as ligações. “A utilização da imagem e da voz de pessoas conhecidas cria uma identificação com o produto”, diz.

A estratégia de contratar celebridades é apenas uma das muitas empregadas no setor para oferecer principalmente imóveis e planos de celular, internet e TV. Moacyr Franco parece ser um dos únicos que levam o trabalho na boa. “Uso o produto há mais de trinta anos”, garante ele, que relatou em um programa de rádio ter embolsado menos de 5 000 reais de cachê pelo serviço.

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Quando percebeu o problema da quantidade de telefonemas, Hortência conta ter cancelado o contrato firmado com a empresa no ano passado. “O sistema continuava fazendo contato se a pessoa não ouvisse a mensagem até o fim”, critica. Desde 2008, devido a uma lei estadual, o ProconSP dispõe de um mecanismo para bloquear o telemarketing (confira no final desta matéria).

Institucional
Cantora Fafá de Belém: venda de ômega 3 (João Miguel Junior/Globo/Veja SP)

Em 2016, o órgão registrou 10 418 reclamações de gente que, apesar de ter o número telefônico cadastrado na plataforma de bloqueio, recebeu ligações — um aumento de 14% em relação a 2015. Entre 2009 e 2016, 245 empresas que desrespeitaram a lei foram multadas, e o valor da autuação pode chegar a 10 milhões de reais.

A grande quantidade de chamadas é possível por causa do discador automático empregado há anos em ações do tipo. Podese contratar o serviço por, no mínimo, 1 500 reais mensais mais o custo das discagens. O valor do pacote dá direito a dez mensagens disparadas por minuto.

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As listas de contatos são abastecidas por companhias que os adquirem de prestadoras de serviço, lojas e quaisquer negócios que exijam cadastro do cliente. “O Brasil ainda engatinha nas políticas de proteção de dados”, lamenta o advogado Igor Marchetti, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. “Não existe regulamentação.”

Institucional
Francisco Cuoco: empresta o vozeirão para oferecer planos funerários (Estevam Avellar/Globo/Veja SP)

NÃO PERTURBE
Lei estadual dá a opção de impedir chamadas indesejadas

– O Procon-SP dispõe de um cadastro que bloqueia ligações de telemarketing: www. procon.sp.gov.br/ bloqueiotelef.

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– A partir de trinta dias do registro, o número não pode mais ser contatado.

– Se ainda receber os telefonemas, a pessoa pode fazer uma denúncia no Procon e até processar a empresa por danos morais.

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