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Executivos criam iniciativas para a causa LGBT+ no trabalho

O advogado Luiz Felipe Ferraz e o diretor Eliezer Silveira entram em lista mundial por iniciativas no ambiente corporativo

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 8 nov 2019, 11h45 - Publicado em 8 nov 2019, 06h00

Ter de reinventar o nome de um amor ou, bem pior, correr o risco de ouvir “piadinhas” e ver a carreira prejudicada por causa do preconceito. Para evitarem situações como essas, em 2016 funcionários do Mattos Filho, um dos mais renomados e tradicionais escritórios de advocacia do país, propuseram aos sócios a formação de um grupo para debater a causa LGBT+. Os líderes toparam, e a coordenação ficou a cargo de um dos sócios, Luiz Felipe Centeno Ferraz, 50. “Ter assumido essa liderança foi uma forma de me posicionar”, diz.

Com a criação do MFriendly, a empresa foi a primeira aqui a aderir à campanha global da Organização das Nações Unidas, a Livres & Iguais. O debate foi ampliado com o surgimento de outros grupos: 4Women (voltado para mulheres), LiRe (pela liberdade religiosa), Soma (diversidade racial) e Soma Talentos, para promover a inclusão no escritório de jovens negros em situação de vulnerabilidade. Hoje, cerca de 80% dos 1300 funcionários do Mattos Filho estão engajados em alguma causa e participam de ações sociais gratuitas, como a alteração de registro civil.

Em razão da iniciativa, Ferraz entrou na lista The OUTstanding Top 100 Role Model LGBT+ Executives, promovida pelo portal de notícias Yahoo Finance. Ela ranqueia os 100 executivos assumidamente gays no mundo todo que mais provocaram impactos positivos no mercado. Na relação divulgada em 29 de outubro, o advogado está em 77º lugar. Logo na sequência, vem Eliezer Silveira Filho, 35, diretor de marketing da Azion, multinacional de tecnologia.

Desde a criação do ranking, em 2013, é a primeira vez que o Brasil aparece na classificação. “Temos uma cultura preconceituosa entranhada”, lembra Reinaldo Bulgarelli, secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBT+, que realiza diversas ações em companhias para estimular um ambiente seguro e respeitoso às pessoas da comunidade. “Ao mesmo tempo, a lista demonstra uma preocupação mundial em prol da diversidade e dos direitos humanos. Aqui no Brasil também sobe o número de empresas que visam à igualdade”, diz Bulgarelli. Ele afirma que houve um aumento de 27% no número de empresas que aderiram ao Fórum neste ano, totalizando hoje 77.

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“Precisamos acelerar essa mudança para que nos próximos anos apareçam nessa lista brasileiras, pessoas negras, trans…”, acredita Eliezer Silveira Filho, o segundo brasileiro estreante na lista dos executivos gays influentes. A trajetória de Silveira reflete a história de superação de parte da comunidade. Ele sofreu preconceito logo no primeiro momento em que assumiu sua orientação sexual, aos 20 anos: seu pai, um pastor evangélico, agrediu- o fisicamente, além de expulsálo de casa. No mercado de trabalho, várias vezes escutou frases como “isso é coisa de veado”. Quando retrucava, ele ouvia: “É só brincadeira, deixe de ser tão sensível”. O pior ocorreu no ano passado. “Sofri bullying do presidente da empresa em que trabalhei durante sete anos”, lembra.

Na saída de um evento, Silveira cumprimentou com um selinho o marido, o executivo Salomão Cunha Lima. O CEO ficou sabendo e o repreendeu. “Perguntei: ‘E se fosse um homem beijando a esposa?’. Ele se calou.” Em novembro, Silveira perdeu o emprego. Acredita que a eleição de Jair Bolsonaro tenha motivado o episódio. “Através de um histórico de falas ‘lgbtfóbicas’, o atual presidente fortalece pessoas que pensam como ele, e esse pessoal se sente no direito de agir de forma preconceituosa”, explica Silveira.

Em fevereiro, Silveira entrou na Azion, companhia com oitenta funcionários, e implantou uma série de programas de inserção. O executivo também ensina diversidade e inclusão no MBA de Negócios da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap). Algum dia a opção sexual vai deixar de influenciar a carreira dos paulistanos? Ferraz e Silveira acreditam que, por ora, não. “Mas as novas gerações estão cada vez menos preconceituosas e mais respeitosas. Ainda bem”, diz o advogado. “Não sei se aumentou o número de profissionais LGBT+ no escritório, mas parece que somos mais porque agora as pessoas se expõem, sem desconforto.”

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Topo desse ranking: José Berenger (Divulgação/Divulgação)

Aliado no topo

Além da lista dos executivos gays mais influentes, há o ranking dos cinquenta gestores aliados mais respeitados. São profissionais que não se identificam como LGBT+, mas abraçam a causa. No topo desse ranking (e o único brasileiro na seleção) está José Berenguer, presidente do banco americano JP Morgan no Brasil. Afora a implantação de mais de setenta ações na instituição, no ano passado ele escreveu uma carta aberta aos candidatos presidenciais pedindo a eles que apoiassem a inclusão LGBT+. O texto foi assinado por 35 empresas. “A sociedade começa a espelhar essas atitudes e, mais do que isso, cobrar ações concretas do Estado para que todos estejam legalmente protegidos e acolhidos”, diz o executivo. Ele se mostra otimista. “Em 1985, quando comecei minha carreira, o ambiente de trabalho não era muito amigável às minorias. Gradativamente estamos avançando, mas ainda há muito a ser feito”, conclui Berenguer.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 13 de novembro de 2019, edição nº 2660.

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