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Especialistas criticam criação de vagas de Zona Azul no Centro Histórico

CET afirma que serão abertos 275 pontos de estacionamento rotativo no entorno do Theatro Municipal e que só funcionarão à noite

Por Clayton Freitas
Atualizado em 19 jan 2023, 14h57 - Publicado em 19 jan 2023, 13h51
Faixas delimitando espaço para estacionamento rotativo de carros na rua Marconi, no Centro
Faixas delimitando espaço para estacionamento rotativo de carros na rua Marconi, no Centro (@calabriageo/Twitter/Reprodução)
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A criação de novas vagas de Zona Azul pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) para atender os frequentadores do Theatro Municipal vem sendo criticada por especialista em mobilidade, que prometem acionar entidades e recorrer à Justiça contra a medida. Entre outras coisas, eles alegam que a criação dessas vagas pode favorecer acidentes no entorno do Centro Histórico.

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O assunto já vem sendo discutido por perfis em redes sociais de pessoas ligadas ao assunto nos últimos dias. O estopim foi uma imagem de faixas brancas pintadas no chão na rua Marconi, similares as que delimitam espaço para carros. Mais tarde, elas também apareceram na Conselheiro Crispiniano.

Procurada para comentar o assunto, a CET informou que está criando 275 vagas de Zona Azul para disponibilizar ao público que acompanha a programação noturna do teatro, localizado na Praça Ramos de Azevedo. Essas vagas são especiais, já que um crédito dá direito e duas horas, e dois créditos, a quatro horas de permanência. A tarifa normal de 5,75 reais, que a partir desta sexta-feira (20) ficará mais cara indo para 6,08 reais, dá direito a uma hora de parada.

“Você está estimulando que pessoas usem o carro para ir ao teatro. Da mesma forma poderia se criar linhas noturnas de ônibus para atender essa população, por exemplo. Isso [vagas de Zona Azul] contraria a legislação que fala em ampliar o espaço viário para outros modos; tais como bicicleta, ônibus e a pé”, afirma Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

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A CET informou que 200 das 275 vagas serão criadas na Alameda Barão de Itapetininga e nas ruas Conselheiro Crispiniano e Marconi. Outras 75 serão em vias do entorno. A companhia informou ainda que as vagas só poderão ser usadas das 19h às 2h, por meio do aplicativo da Estapar, concessionária que administra o serviço na capital. “Haverá orientação dos condutores para que o acesso seja restrito às vagas, para o momento de chegada e saída, não sendo permitida a circulação veicular nos calçadões em nenhuma outra circunstância”, afirmou.

Para Daniel Guth, mestre em urbanismo, a criação das vagas de Zona Azul é contraditória do aspecto de mobilidade, principalmente pelo fato do Centro Histórico ser uma das regiões mais privilegiadas da capital para acesso via ônibus, trem, metrô e bicicleta. “Essa medida anunciada pela prefeitura compromete completamente os calçadões. Vai gerar insegurança, conflitos e desertificação do espaço para uma finalidade privada de quem está em carro. Ela vai aprofundar a desigualdade, ela é altamente elitista”, afirma Guth, também diretor executivo da Aliança Bike.

Ainda segundo a CET, a medida leva em conta a “baixa circulação de pedestres pelos calçadões do centro no período noturno e a alta demanda por vagas de estacionamento do público do teatro em dias de apresentações”, afirma.

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Letícia Sabino, mestra em Planejamento de Cidades e Design Urbano pela UCL, em Londres, discorda dessa justificativa da CET, afirmando que essa decisão contraria o fato que desde os anos 1970 a região é aberta para pedestres. Para ela, a função do órgão público deveria ser justamente o contrário, a de ampliar a restrição de circulação de veículos e permitir que mais pessoas circulem a pé nos calçadões.

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“Colocar carros nesse espaço vai diminuir ainda mais a circulação a pé, e gerar muito mais insegurança. O espaço precisa de vitalidade. Isso vai na contramão de uma tendência global das cidades de serem cada vez mais amigáveis para as pessoas, e para a convivência”, afirma.

A especialista também atua como diretora-presidente do SampaPé, uma ONG que estimula a mobilidade urbana a pé e também melhorias nas cidades para tornar isso possível. “Existem outras soluções, tais como os [carros por] aplicativos [Uber, 99 etc]. Essa medida não vai beneficiar a cidade e nem elevar a receita. Só degradar o Centro”, diz Letícia.

A CET informou que a implantação das vagas não tem nenhuma relação com o projeto de requalificação dos calçadões, já que o serviço é feito entre os largos São Francisco e São Bento, e Praça da Sé.

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